Essa sua cara lavada, marrenta, amarrotada de tanto porre que tomou dormindo. Esse seu olhar, veneno, duvidoso, que sorri quando me vê chegar. Esse seu parar que me atrai e me pede um beijo, um abraço, um andar. Essa sua loucura impregnada em todos os lugares aonde seus pés te levam. Essa sua mania de contar verdades e inventar mentiras. Essa sua pálpebra, sua boca, suas coxas. Esses seus dedos que vêm correndo ajeitar o cabelo que ficou fora da orelha. Esse seu jeito de revirar o meu jeito. Seu caminho que vem passar pelo meu, dizer olá, como vai, tô aí. Essa sua história que insiste em ser a nossa. Esse seu desejo que vem sempre ser o meu desejo. Essa nossa briga, nossa fuga, nosso medo de sermos nós. Esse seu enredo, meu filme, nosso fim, começo, meio. Essa sua brincadeira que eu sempre acho não ser nada demais. Aquela sua meia velha que ficou comigo. Até todas as suas falas tolas de amor. Tudo isso, querido, me diz muito.
Odeio amar esse seu sorriso que me faz retroceder em todas as minhas certezas
Passei um bom e longo tempo desperdiçando meus sentimentos, minha memória, meu desejo, meus sonhos e meus pensamentos com você. Desperdicei da melhor forma possível. Pensei quando não devia, falei quando não precisava, pedi, desejei. Quis muito. E o muito querer, você sabe, nao é? Fico pensando nas diversas coisas que poderia ter feito, ao invés de desperdiçar as horas. Qualquer coisa me seria mais útil. Jogar bola, baralho, dormir. O que me entristece - mas não é aquela tristeza terrível - é saber que sua meninice só terá fim ser for de forma trágica. Quem procura garoto é menina, pra brincar de pique-esconde, pique-pega, pique-esconde, pique-pega. Vou fazer de tudo, o que eu puder e souber, para evitar que esse seu sorriso insano me faça esquecer.
A humildade
a inocência
a misericórdia
de uma criança
estão bem longe
do que eu chamo
de menino
a inocência
a misericórdia
de uma criança
estão bem longe
do que eu chamo
de menino
Sublime
Como um bater de asas
E assim
Não me esqueço dos teus feitos
Um talvez ou sim
Eu não tenho merecido
Então, deixo assim ficar
Desentendido
Pensei, te vi
Tava ali, me vendo
Pensando em mim
Achei que não
Mas talvez fosse
Seu não um sim
De modo que
No meu pesar
Pude fazer rir
Ainda que tardio
Decidiu ficar
Entre o ir e vir
A vida é como um verso
É preciso saber quando
quebrar
E quando deixar ir, mas acho que não
Sei fazer isso direito
Quis muito lhe escrever juras de amor
Dizer-lhe quanto sentimento me cabia
Mas lembrei que para amar
É preciso ter amor.
Me apaguei no verso
Com todas as minhas mãos
E os pés imundos sujavam
Os lábios tolos da moça
Que falavam como uma porta giratória
Não havia um sequer
Que quisesse ouvir
E mesmo se quisesse, não faria
Não pelo que fosse dito ou feito
Mas por aquilo que parecia ser
- E, talvez, fosse.
Averso
Verso
Inverso
Frente e verso
1 ser feliz
2
Tristeza perceber
Que a maioria dos meus poemas
Foram pra você
Me abriu,
me leu,
me traduziu.
E se eu quiser dizer exatamente aquilo o que eu estava pensando?
E se o que for dizer for exatamente aquilo que você não estava esperando?
E se a minha rima pobre for tão miserável quanto uma viúva em carnaval?
E se meu carnaval for tão animado quanto o seu funeral?
O que você diria
Se a minha condição
Fosse tudo o que
Você tivesse aversão?
Abriu os braços e veio
O vento contra mim
Veio correndo e eu saí
Tentei, pulei, caí, fugi
Mas não deu
Sou presa fácil do destino
Tenho certeza:
Melhor assim
que assado
(Eu acho)
Voou, voou, zumbiu
Pousou em meu ombro
Aí, quem voou fui eu
Pousou em meu ombro
Aí, quem voou fui eu
Sou como um ponto
dentro do menor deles
tentando crescer
sem sucesso
Engano seu acreditar
nessa minha fama de gigante
sou apenas o menor
do menor
dos menores
dentro do menor deles
tentando crescer
sem sucesso
Engano seu acreditar
nessa minha fama de gigante
sou apenas o menor
do menor
dos menores
Bravo!
7h da manhã. Como sempre, acordei atrasada para aula. Fiquei lá, brincando de existir. Rindo só pra compartilhar. Fui trabalhar, ainda pensando no mistério que é a família ser a causa de todas as minhas dores de cabeça. Tanto faz. Acho que existe uma fase na vida em que tudo te irrita. Seu trabalho, seus estudos, sua família, seus amigos, seu tempo livre. Tudo. Sentia como se eu tivesse que, a todo tempo, suprimir qualquer coisa que eu pensasse, em razão da existência alheia. Foi aí que comecei a existir menos. Demorou um tempo para eu perceber que estava ficando opaca. A cada sapo que engolia, diminuía a porcentagem. Não sei como isso começou, porque só fui perceber essa merda, quando já estava quase sumindo.
Parece que as pessoas, sabendo que te inibem, insistem em falar merda, da forma mais brutal possível - principalmente, se ela exerce alguma autoridade sobre você. Costumava contestar, antigamente. Talvez, por isso, sempre fui mais metálica. Fui perdendo a cor. E isso não significa tornar-me cinza, para os desavisados. Eu fui, simplesmente, sumindo. O pior de tudo - talvez, o mais intrigante - é que as pessoas nem se quer notavam que algo sobrenatural estava acontecendo.
Num sábado qualquer, havia marcado de ir almoçar com uma amiga, parceira de existência. Conversa vai, conversa vem. "Sua mãe seu irmão aquele velho amigo seu ex-namorado bla bla bla". E, numa dessas risadas que a gente dá, de jogar a cabeça pra trás e ainda ficar uns minutos pensando no que foi dito, com um sorriso no rosto; percebi que podia ver o copo através da minha mão. Forcei um pouco a vista. Minha amiga nem percebeu. Fiquei olhando por algum tempo. Certamente que me apavorei, mas ninguém notou. Ninguém nota quando se quer ser notado. Eu meio que já me acostumei.
No final de dia - que era sempre do mesmo jeito -, quando chegava em casa, via aquela confusão. Todo mundo falando alto, tudo desarrumado, meu pai bêbado no sofá e minha mãe gritando horrores, sempre, com aquele maldito cigarro na mão. Meu irmão, pequeno, só fazia dormir (As crianças sempre serão mais sábias do que nós - se, é claro, delas não abusarmos). Poderia incluir muitos eticeteras nessa descrição. O que me restava fazer era lavar os pratos, cada vez que sujavam. Varrer cada guimba jogada no chão. Limpar a bebida derramada, seca que grudava o pé. Trocar as fraldas da criança, dar beijo, ler conto de fada. Agora sei como isso tudo só fazia diminuir a opacidade.
Não quero ser melancólica, mas começo a achar que tudo isso é, afinal, triste. A supressão do meu id, ultrapassou o estado do superego, da lei, da matéria. Eu existo como alma, como ser pensante, mas que relação agora tenho, com o mundo onde vivo? Não pertenço a este lugar, nada me liga mais com esse povo, com essa cultura. Não sei se terei a capacidade de morrer (ou a oportunidade), mas gostaria de que fosse logo. O mundo que vem depois deve ter mais a ver com essa minha ausência de tudo.
Lembro que, no início, depois do momento "Ai, meu Deus, e agora?" - símbolo da nossa fraqueza -, comecei a pensar que poderia me ser útil, toda essa inexistência. Poderia rir quando meus professores fizessem alguma coisa estúpida; ou quando alguém estivesse com uma casca de feijão no dente. Comia cheddar com doritos sempre que quisesse. Não há crime sem provas. Ficava na praia de dia, de noite, sempre que quisesse. Claro que vi coisas que preferia não ter visto. Fui a lugares que, existindo, jamais iria. Subi morro, vi gente boa morrer. Vi presidente não representar a nação. Vi a imaginação vendida, a arte descompromissada. Vi o mundo acabar, sem poder dizer a ninguém. Que clichê! Fazer o quê?
Depois de me acomodar com a minha impotência diante da situação, comecei a ser adepta do destino e a pensar que tinha que ser assim, mesmo. A invisibilidade, apesar de democrática, é capacidade de poucos. Hoje, me peguei pensando se existem (ou inexistem) outros como eu. Talvez. Será? Acho que sim, não me acho tão especial para ser única. Tantos oprimidos, tantos invisíveis. Dá no mesmo.
Parece que as pessoas, sabendo que te inibem, insistem em falar merda, da forma mais brutal possível - principalmente, se ela exerce alguma autoridade sobre você. Costumava contestar, antigamente. Talvez, por isso, sempre fui mais metálica. Fui perdendo a cor. E isso não significa tornar-me cinza, para os desavisados. Eu fui, simplesmente, sumindo. O pior de tudo - talvez, o mais intrigante - é que as pessoas nem se quer notavam que algo sobrenatural estava acontecendo.
Num sábado qualquer, havia marcado de ir almoçar com uma amiga, parceira de existência. Conversa vai, conversa vem. "Sua mãe seu irmão aquele velho amigo seu ex-namorado bla bla bla". E, numa dessas risadas que a gente dá, de jogar a cabeça pra trás e ainda ficar uns minutos pensando no que foi dito, com um sorriso no rosto; percebi que podia ver o copo através da minha mão. Forcei um pouco a vista. Minha amiga nem percebeu. Fiquei olhando por algum tempo. Certamente que me apavorei, mas ninguém notou. Ninguém nota quando se quer ser notado. Eu meio que já me acostumei.
No final de dia - que era sempre do mesmo jeito -, quando chegava em casa, via aquela confusão. Todo mundo falando alto, tudo desarrumado, meu pai bêbado no sofá e minha mãe gritando horrores, sempre, com aquele maldito cigarro na mão. Meu irmão, pequeno, só fazia dormir (As crianças sempre serão mais sábias do que nós - se, é claro, delas não abusarmos). Poderia incluir muitos eticeteras nessa descrição. O que me restava fazer era lavar os pratos, cada vez que sujavam. Varrer cada guimba jogada no chão. Limpar a bebida derramada, seca que grudava o pé. Trocar as fraldas da criança, dar beijo, ler conto de fada. Agora sei como isso tudo só fazia diminuir a opacidade.
Não quero ser melancólica, mas começo a achar que tudo isso é, afinal, triste. A supressão do meu id, ultrapassou o estado do superego, da lei, da matéria. Eu existo como alma, como ser pensante, mas que relação agora tenho, com o mundo onde vivo? Não pertenço a este lugar, nada me liga mais com esse povo, com essa cultura. Não sei se terei a capacidade de morrer (ou a oportunidade), mas gostaria de que fosse logo. O mundo que vem depois deve ter mais a ver com essa minha ausência de tudo.
Lembro que, no início, depois do momento "Ai, meu Deus, e agora?" - símbolo da nossa fraqueza -, comecei a pensar que poderia me ser útil, toda essa inexistência. Poderia rir quando meus professores fizessem alguma coisa estúpida; ou quando alguém estivesse com uma casca de feijão no dente. Comia cheddar com doritos sempre que quisesse. Não há crime sem provas. Ficava na praia de dia, de noite, sempre que quisesse. Claro que vi coisas que preferia não ter visto. Fui a lugares que, existindo, jamais iria. Subi morro, vi gente boa morrer. Vi presidente não representar a nação. Vi a imaginação vendida, a arte descompromissada. Vi o mundo acabar, sem poder dizer a ninguém. Que clichê! Fazer o quê?
Depois de me acomodar com a minha impotência diante da situação, comecei a ser adepta do destino e a pensar que tinha que ser assim, mesmo. A invisibilidade, apesar de democrática, é capacidade de poucos. Hoje, me peguei pensando se existem (ou inexistem) outros como eu. Talvez. Será? Acho que sim, não me acho tão especial para ser única. Tantos oprimidos, tantos invisíveis. Dá no mesmo.
Ah, como é ruim lembrar daqueles dias. Foram deliciosos, mas o fim é um cúmplice eterno das péssimas lembranças. Se, é claro, o que antecedeu esse fim foi algo terrivelmente incrível. É exatamente o que significou pra mim. Mas escrever sobre isso, só me faz esquecer de esquecer.
Seria maravilhoso se mesmo me vendo, você pudesse me enxergar.
- Lembra quando eu te dei aquele trevo de quatro folhas? Demorei tanto para achar...
- Não.
- Duvido. Você faz isso o tempo todo.
- Isso o quê?
- Ah, isso. De fingir que não se importa.
- Não estou fingindo, só não lembro.
- Continuo duvidando. Afinal, é esse o seu jogo, você adora isso.
- Ah, e você faz isso o tempo todo.
- O quê?
- Diz o que pensa.
- E te incomoda?
- Bom, às vezes.
- Sério?
- É que eu gosto de algumas coisas escondidas, esperando para serem descobertas...
- Então eu não estava errado.
- Talvez...
- De novo!
- Pára com isso.
- Por que eu deveria? Você sabe que eu adoro isso.
- Ok. Aquela merda daquele trevo está guardado numa caixinha de vidro, até hoje. Satisfeito?
- No superlativo, ainda.
- Você é péssimo.
- E eu te amo.
- Também.
eu era, então, um grande céu azul
sentia-me tão perto,
mas era capaz de me ver
ali, sonhando, sorrindo
como quem ama por tempo integral
eu estava acima de mim
soltei o verso, digo, o verbo
eles riram
como os magnatas tomam whisky
os pobres, conhaque
e riem da vida ganha, da vida maldita
eu, como quem perdeu a aposta,
encolhi-me que até diminui
tornei-me, assim, um pequeno vagalume
via tudo
ouvia tudo
sabia de tudo
mas era pouca a minha luz
tentei, numa ideia estúpida, reverter o efeito
pra quê. pra quê?
serei pequena, se o mundo quiser
mas enorme, enquanto não puder controlar
o meu guidom.
de tanto destilado
confundi os destes lados
era dente alado, era pente amado
sei lá, estava tão sem chão
que flutuei.
"Sabe o que eu acho? Na verdade, eu não acho muita coisa. Tenho perdido tudo, ultimamente. Por tudo quanto é canto uma canção assim tão leve. Que, de pesado, só o meu passo. E passei tantas vezes. A vez, a voz. Gritando tão alto que despenquei naquele abismo profundo como o que tentei dizer, enquanto caía. Mas, quando percebi, fora só um pequeno tropeço. Do tamanho de uma joaninha, que tentava voar. Subindo, subindo, sumindo no mundo. Eu a corrigi: "É globo". Mundo é aquela coisinha que tem um milhão daqueles bichos verdes... Corajosos (o pensamento escapou). Mas Globo é aquela bola enorme que a gente brinca na piscina quando é criança. Faz muito mais sentido desse jeito. Aliás, tudo está bem mais claro, agora. Claro o suficiente para enxergar o horário, o tempo, o real".
Cada dia que passa
Eu escrevo menos
Menos palavras
Com menos pressa
Eu escrevo menos
Menos palavras
Com menos pressa
Probrezinha, se enrolou na própria maldade
Sem malícia, acreditou que não cairia
E, talvez, imagino que tenha pensado
Quando lhe disseram cuidadosamente "Cuidado":
Ah, se o meu coração é enganoso
É nesse caminho que irei me perder
Sem malícia, acreditou que não cairia
E, talvez, imagino que tenha pensado
Quando lhe disseram cuidadosamente "Cuidado":
Ah, se o meu coração é enganoso
É nesse caminho que irei me perder
Você que foi de unir apaixonados. Você que foi de arrancar suspiros. Você que foi de partir corações cansados. Você que foi de chorar um coração partido que, para sempre, se foi. Você que tinha alguns, mas não queria. Você que sorria e não queria. Você que foi desejada. Você que foi amada e tocada. Você que foi invadida. Você que gostou e não recebeu. Você que tinha muitos, mas quem queria, amava calada. Você que foi cobiçada e agora, como eu, já não tem a quem amar [Só se for na surdina]. Um amor inventado (para se ter quem amar) escondido num coração cansado.
letras maiúsculas e pontos finais
meu abismo
meu abismo
fui atirar o pau no gato e me ferrei. o bicho morreu e dona chica tá numa zica comigo que não acaba tão cedo. fui.
gente séria
é séria demais
o meu tropeço
já não satisfaz
e ai de mim
se rima fizer
desgraça da terra
dou tiro no pé
é séria demais
o meu tropeço
já não satisfaz
e ai de mim
se rima fizer
desgraça da terra
dou tiro no pé
uma explosão de luz
como eles dizem ter sido o início
agora falo do fim
da paz
do branco
dEle
me ouvindo dizer
valeu a pena
como eles dizem ter sido o início
agora falo do fim
da paz
do branco
dEle
me ouvindo dizer
valeu a pena
tava ali
meio morto meio vivo
meio quente meio frio
ora me via
ora sorria
ou só pensava
num poema talvez
[como esse jamais]
num início de vez
[que já acabara há mais]
num sorriso fim de mês
[que só o salário traz]
quem sabe, quem viu, quem foi: não sei
mas vi e fui, sentei, sorri
e percebi que um pedaço dele estava ali
(no rio correndo gelado e frio num dia quente e feliz)
meio morto meio vivo
meio quente meio frio
ora me via
ora sorria
ou só pensava
num poema talvez
[como esse jamais]
num início de vez
[que já acabara há mais]
num sorriso fim de mês
[que só o salário traz]
quem sabe, quem viu, quem foi: não sei
mas vi e fui, sentei, sorri
e percebi que um pedaço dele estava ali
(no rio correndo gelado e frio num dia quente e feliz)
Eu a vi de longe
Ela era do tipo
Que provoca o ódio
Que incita amor
Que te faz soar
Que te enlouquece
Pude prever
Então, não.
Desce a cuíca aí,
o pandeiro e o violão,
também o surdo e o tamborim,
sem esquecer, é claro
do gilberto e do jobim
Porque o choro vai embora
se o cavaco resolver ficar
a minha sina tem quatro cordas
e o samba se fez meu lar
É engraçado isso, agora. Ter que escolher entre desistir e persistir. Não me lembro a última vez em que tive que fazer isso. Ninguém me ensinou as regras do jogo, aprendi no olho. Não sou amável e não sei fazer com que seja. Se minha espontaneidade servir, que o jogo comece. E a gente finge que não gosta, fala que não quer e depois pensa bem. Pensa mais, pensa em mim. E a gente ri, e a gente brinca. Mas se quisesse saber: aquilo ontem foi mais íntimo do que qualquer beijo seu. Prefiro a música cantada assim por nós e todo mundo a ter que fazer você sofrer.
O que chamariam de ato falho eu chamei de ímpeto. Segurei bem firme minha vontade, com as duas mãos, esmagando meus pequenos dedos uns nos outros. Quis dizer, na verdade, gritei o que sentia. Precisei do ridículo para ser vista. Mas ninguém olhou. E quem viu, não sentiu. Só pensou e riu. O que me conforta é poder escrever tudo isso no passado. Um pretérito perfeito, totalmente acabado. E será esquecido, como tudo o que passa e não volta.
Se o tempo puder passar um pouquinho mais rápido, talvez eu também ria desse pretérito. Dessa vontade, desse ímpeto. Mas hoje não. Escolhas são portas. Decidir por uma é afirmar com toda certeza que todas as outras estão sendo descartadas. Eu posso desistir, mudar de ideia, dar meia volta. Mas um fantasma sempre virá me lembrar.
Fantasmas não da memória minha, particular e individual, mas alheia. São incontroláveis, imbatíveis. Foi sobre eles que falei: os juízes da terra. Andam com meias nos pés para não serem ouvidos, usam óculos escuros para não serem decifrados e atacam com uma descarga elétrica assustadora. A esses, pelo menos, posso dizer não. Posso ignorar, posso não ouvir.
A mim, porém, não sei calar. A voz ecoa e repete o quanto for preciso, para que eu mude de ideia e volte a me encaixar naquela forma. Vou rejeitar as expectativas e já estou pagando minhas contas. Uma injeção na consciência e tudo se faz bem.
essa é a hora
dos juízes da terra
revelarem sua ameaça
seu sorriso insano
de uma insanidade
que mata
juízes humanos
achando que são deus
sem nem conhecer as leis
entrando sem bater
batendo ao entrar
e machucando
esquecendo que
somos todos a metamorfose
um a um tentando parecer
alguém que não se sabe quem
por isso mudando
sempre
ando meio que vivendo
meio que ando morrendo
não sou um morto-vivo
pior: um vivo-morto
tentando dizer à morte
'não vem', sem perceber
que o assassino é o próprio
vivo-morto divido
entre dois caminhos
por um simples
hífen.
do canto do rosto
um sorriso brotou
e era mais lindo
do que a fina flor
do filmeda letrado tom
o tempo dilatou
a mente mentia
media cada gesto
indecifrável harmonia.
felicidade é o que me basta para ser feliz
virtude
(latim virtus, -utis)
s. f.
(latim virtus, -utis)
1. Disposição constante do espírito que nos induz a exercer o bem e evitar o mal.
Dá pra pensar em Monalisa e não pensar em Da Vinci?
Pensar em "A noite estrelada" e não pensar em Van Gogh?
Pensar no avião, sem pensar em Dumont?
Falar sobre a relatividade, sem falar de Einstein?
É assim que eu me sinto, quando penso no mundo.
por que eu penso em você como "nós"?
eu poderia dizer "que inferno",
só que as vezes parece tanto com o céu
é, contudo apesar de tudo, um infortúnio
quero dizer, quem vê, não pensa
e nem quem for pensar, vai ver
porque quando eu pensei, não vi
e quando vi, me assustei
você completa minhas frases
mas isso é um segredo assustador
que ninguém nunca vai e nem num pretérito perfeito
pensou existir - nem eu, nem você
então eu deixo assim ficar subentendido
como uma ideia que existe na cabeça e
não tem a menor pretensão de acontecer
costumava chorar quando chovia
achava que deus tava chorando
mas
descobri que ele tava só se disfarçando
pra chegar mais pertinho de mim
seus olhos tentam brincar
esperando um sim
ping pong
peteca
moleca
meleca
eu não quero mais
não quis desde a última vez
que a minha raquete quebrou
e você perdeu
mas parece que você quer
mesmo com tantos mil
um olhar que seja exatamente
o meu
você vem
diz 'minha flor'
declara todo seu amor
me aperta
me abraça
diz que sim
que casa comigo [se eu quiser]
mas só da boca pra fora
eu sei bem do que cê é feito
mas cuidado
quando eu quiser mesmo
sai de baixo
mas eu podia ver, de onde eu estava. caída, através de um ângulo não muito favorável misturado com a poeira que o vento levantava. aquele homem segurava um frasco em suas mãos. e eu, contorcida, priorizei dizer a pensar. me ajuda, falei. ele parou, tentou olhar pra trás sem mexer os pés e suspirou muito, altíssimo, como se fosse um grito ou um murro na minha cara. não lembro se foi essa a exata ordem das coisas. não foi um suspiro de raiva, de preguiça ou de rancor. foi de tristeza. o que me doeu muito mais. o Sol me queimava a boca e eu sonhava estar em casa, mas nada era mais importante do que sentir o que eu estava sentindo. a cada passo que ele dava, o veneno percorria mais rapidamente o meu corpo. um misto de alegria e de medo me dominou desde o primeiro sinal que ele deu (ele me ajudaria?). o que foi muito insensato, porque era certo o meu destino, se ele não estivesse ali. senti como se estivesse revirando os olhos e não consegui saber como ele reagiu a isso. imagino que ficou imutável, como foi. 'você pode... vir... logo?' tossi. 'não'. eu estava sentindo a morte e não sei porque lutava tanto para continuar viva. quem diria que uma flor se transformaria em serpente. tudo culpa minha, eu sabia. mas queria, desesperadamente, que tudo voltasse a ser o que era. não era preciso muito para melhorar minha situação. ele se agachou e olhou bem para mim. ficou me analisando, segurando o meu queixo, com olhos gentis e compassivos. 'ou me deixa morrer ou me salva', tive ainda tempo de pensar. ele tirou o chapéu, colocou em mim, abriu o frasco e me fez beber. com a mesma cara serena e tranquila, enquanto eu me debatia tentando não beber o que quer que fosse. 'me deixa morrer, mas não me mate' é o que eu pensei depois, bem depois. não me lembro de mais nada. talvez tenha apagado logo depois. acordei, sem ideia de tempo e de lugar. e, ao abrir os olhos, com a visão ainda um pouco embaçada, pude ler "antídoto" no rótulo do frasco. não consegui explicar, até hoje, o que aconteceu. quem era, por que carregava consigo aquele frasco e por que era tão sereno. mas, sinceramente, passei a acreditar mais e explicar menos.
vem como a serpente
astuta e calculista
mas envenena
sem cravar os dentes
como é o nome, mesmo?
quando todos os sons parecem sumir
só restam os suspiros de quem o executa
e o peito aperta, como quem quer nascer de novo
a cada tempo, uma nova palpitação
e o coração parece que vai explodir/o pulmão desfalecer
fica ser ar, quase um asma de tão profundo
e você chega no ápice da poesia à conclusão de que
tudo não passava de um ronco do seu marido
notredame não é uma doença
mas é como ele que eu me sinto
quando a coluna começa a doer
o queijo minas falou:
- vai dormir, porque a noite chegou.
mas eu sou um rato com asas (!)
o dia sentado
comendo irrestrito
dormiu feliz
sem dor no intestino
parei na janela
veio um pássaro
e fez cocô nela
se me perguntar
eu vou bem
eu vou lá
ando sorrindo
porque desaprendi a chorar
tenho tantos
mas conto no dedo os principais
e, se não bastasse, um anjo
grita 'isabella', vem me pedindo mais
mas eu não fujo a regra
eu tô zen
eu sei lá
ando sorrindo
porque desaprendi a chorar
viro-me nos contos
reviro-me nas letras, nas noções
dessa vez veio o santo
e os mendigos transformou em campeões
conto 1, 2, 3
eu sou cem
eu sou má
ando sorrindo
porque desaprendi a chorar
ei, deixa eu te dizer. se eu não escrevo mais poemas de amor, não é porque não amo, é porque não quero. e se eu não te digo mais que te quero, é porque já deu. fica assim não, achando que tô procurando sarna pra me coçar. eu tô feliz demais gastando meu tempo em me despreocupar. nessas em que o tempo parece não passar e quando vê, já foi. e aí você pensa que é desleixo meu, bobeira minha, molecagem, sei lá. né[não é] não. só tô me amando um pouco e sendo feliz por me fazer feliz. porque essas coisas de sentimento costumavam me enrolar a língua. mas agora, nem o cérebro faz o esforço. ah, vai. tá tudo tão bom aqui nessa tarde, a gente olhando a praia, aquele clima de ser feliz e tirar foto pra pôr no facebook. esquenta não, escreve comigo essa baboseira e amanhã quem sabe alguém consiga me fazer pensar nisso. mas nesse momento tô bem demais pra ter que carregar um mala sem alça. obrigada.
alho é um condimento muito vagabundo
fui ajudar a fazer o arroz,
minha mão tá fedendo até agora
não ajudo mais
hoje eu percebi que gostaria de ter você em mim para sempre,
mas não posso.
para tua palavra de ira
(que não era tão irada assim)
dei um sorriso
mas você achou que era mentira
falou, falou e nesse interim
percebi que éramos coisinhas
com um pacote de coisas em comum
gritando coisas desnecessárias um
ao outro
mais engraçado foi aquela hora
quando a gente deitou
menina, veio um vento e lá pelas 4
começou a molhar tudo foi mó doideira
desespero sacou
saíram correndo negócio foi facil não
tacaram a parada em cima da barraca
pra, cê sabe, ninguém ficar fungando depois
me mandaram acender a luz, tava dormindo em pé
mas deu pra evitar só o frio
matar aquilo que me aniquila
e não é fome
não é saudade
é desejo
um encontro comigo mesma
no topo da poesia intimista
ardendo amor-próprio
compartilho com a própria consciência
a experiência de estar só
o que não é exclusão
nem falta de inclusão
é uma escolha, um mergulho em si
solidão não é escolha
é doença, é tristeza, é raiva
estar só
é decidir pela não-intervenção alheia
por mais importante e inteligente que seja
seguir cada passo que o pensamento disser
o pensamento e Deus
uma experiência e tanto.
mas cansa
às vezes, eu simplesmente esqueço. do quê? do que me faz falta. o que era mesmo?
- oi.
am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? am i boring you? please show me i'm doing the right thing