mas eu podia ver, de onde eu estava. caída, através de um ângulo não muito favorável misturado com a poeira que o vento levantava. aquele homem segurava um frasco em suas mãos. e eu, contorcida, priorizei dizer a pensar. me ajuda, falei. ele parou, tentou olhar pra trás sem mexer os pés e suspirou muito, altíssimo, como se fosse um grito ou um murro na minha cara. não lembro se foi essa a exata ordem das coisas. não foi um suspiro de raiva, de preguiça ou de rancor. foi de tristeza. o que me doeu muito mais. o Sol me queimava a boca e eu sonhava estar em casa, mas nada era mais importante do que sentir o que eu estava sentindo. a cada passo que ele dava, o veneno percorria mais rapidamente o meu corpo. um misto de alegria e de medo me dominou desde o primeiro sinal que ele deu (ele me ajudaria?). o que foi muito insensato, porque era certo o meu destino, se ele não estivesse ali. senti como se estivesse revirando os olhos e não consegui saber como ele reagiu a isso. imagino que ficou imutável, como foi. 'você pode... vir... logo?' tossi. 'não'. eu estava sentindo a morte e não sei porque lutava tanto para continuar viva. quem diria que uma flor se transformaria em serpente. tudo culpa minha, eu sabia. mas queria, desesperadamente, que tudo voltasse a ser o que era. não era preciso muito para melhorar minha situação. ele se agachou e olhou bem para mim. ficou me analisando, segurando o meu queixo, com olhos gentis e compassivos. 'ou me deixa morrer ou me salva', tive ainda tempo de pensar. ele tirou o chapéu, colocou em mim, abriu o frasco e me fez beber. com a mesma cara serena e tranquila, enquanto eu me debatia tentando não beber o que quer que fosse. 'me deixa morrer, mas não me mate' é o que eu pensei depois, bem depois. não me lembro de mais nada. talvez tenha apagado logo depois. acordei, sem ideia de tempo e de lugar. e, ao abrir os olhos, com a visão ainda um pouco embaçada, pude ler "antídoto" no rótulo do frasco. não consegui explicar, até hoje, o que aconteceu. quem era, por que carregava consigo aquele frasco e por que era tão sereno. mas, sinceramente, passei a acreditar mais e explicar menos.
vem como a serpente
astuta e calculista
mas envenena
sem cravar os dentes
como é o nome, mesmo?
quando todos os sons parecem sumir
só restam os suspiros de quem o executa
e o peito aperta, como quem quer nascer de novo
a cada tempo, uma nova palpitação
e o coração parece que vai explodir/o pulmão desfalecer
fica ser ar, quase um asma de tão profundo
e você chega no ápice da poesia à conclusão de que
tudo não passava de um ronco do seu marido
notredame não é uma doença
mas é como ele que eu me sinto
quando a coluna começa a doer
o queijo minas falou:
- vai dormir, porque a noite chegou.
mas eu sou um rato com asas (!)
o dia sentado
comendo irrestrito
dormiu feliz
sem dor no intestino
parei na janela
veio um pássaro
e fez cocô nela
se me perguntar
eu vou bem
eu vou lá
ando sorrindo
porque desaprendi a chorar
tenho tantos
mas conto no dedo os principais
e, se não bastasse, um anjo
grita 'isabella', vem me pedindo mais
mas eu não fujo a regra
eu tô zen
eu sei lá
ando sorrindo
porque desaprendi a chorar
viro-me nos contos
reviro-me nas letras, nas noções
dessa vez veio o santo
e os mendigos transformou em campeões
conto 1, 2, 3
eu sou cem
eu sou má
ando sorrindo
porque desaprendi a chorar
ei, deixa eu te dizer. se eu não escrevo mais poemas de amor, não é porque não amo, é porque não quero. e se eu não te digo mais que te quero, é porque já deu. fica assim não, achando que tô procurando sarna pra me coçar. eu tô feliz demais gastando meu tempo em me despreocupar. nessas em que o tempo parece não passar e quando vê, já foi. e aí você pensa que é desleixo meu, bobeira minha, molecagem, sei lá. né[não é] não. só tô me amando um pouco e sendo feliz por me fazer feliz. porque essas coisas de sentimento costumavam me enrolar a língua. mas agora, nem o cérebro faz o esforço. ah, vai. tá tudo tão bom aqui nessa tarde, a gente olhando a praia, aquele clima de ser feliz e tirar foto pra pôr no facebook. esquenta não, escreve comigo essa baboseira e amanhã quem sabe alguém consiga me fazer pensar nisso. mas nesse momento tô bem demais pra ter que carregar um mala sem alça. obrigada.
alho é um condimento muito vagabundo
fui ajudar a fazer o arroz,
minha mão tá fedendo até agora
não ajudo mais
hoje eu percebi que gostaria de ter você em mim para sempre,
mas não posso.
para tua palavra de ira
(que não era tão irada assim)
dei um sorriso
mas você achou que era mentira
falou, falou e nesse interim
percebi que éramos coisinhas
com um pacote de coisas em comum
gritando coisas desnecessárias um
ao outro
mais engraçado foi aquela hora
quando a gente deitou
menina, veio um vento e lá pelas 4
começou a molhar tudo foi mó doideira
desespero sacou
saíram correndo negócio foi facil não
tacaram a parada em cima da barraca
pra, cê sabe, ninguém ficar fungando depois
me mandaram acender a luz, tava dormindo em pé
mas deu pra evitar só o frio
matar aquilo que me aniquila
e não é fome
não é saudade
é desejo
um encontro comigo mesma
no topo da poesia intimista
ardendo amor-próprio
compartilho com a própria consciência
a experiência de estar só
o que não é exclusão
nem falta de inclusão
é uma escolha, um mergulho em si
solidão não é escolha
é doença, é tristeza, é raiva
estar só
é decidir pela não-intervenção alheia
por mais importante e inteligente que seja
seguir cada passo que o pensamento disser
o pensamento e Deus
uma experiência e tanto.
mas cansa
às vezes, eu simplesmente esqueço. do quê? do que me faz falta. o que era mesmo?