Ah, como é ruim lembrar daqueles dias. Foram deliciosos, mas o fim é um cúmplice eterno das péssimas lembranças. Se, é claro, o que antecedeu esse fim foi algo terrivelmente incrível. É exatamente o que significou pra mim. Mas escrever sobre isso, só me faz esquecer de esquecer.
Seria maravilhoso se mesmo me vendo, você pudesse me enxergar.
- Lembra quando eu te dei aquele trevo de quatro folhas? Demorei tanto para achar...
- Não.
- Duvido. Você faz isso o tempo todo.
- Isso o quê?
- Ah, isso. De fingir que não se importa.
- Não estou fingindo, só não lembro.
- Continuo duvidando. Afinal, é esse o seu jogo, você adora isso.
- Ah, e você faz isso o tempo todo.
- O quê?
- Diz o que pensa.
- E te incomoda?
- Bom, às vezes.
- Sério?
- É que eu gosto de algumas coisas escondidas, esperando para serem descobertas...
- Então eu não estava errado.
- Talvez...
- De novo!
- Pára com isso.
- Por que eu deveria? Você sabe que eu adoro isso.
- Ok. Aquela merda daquele trevo está guardado numa caixinha de vidro, até hoje. Satisfeito?
- No superlativo, ainda.
- Você é péssimo.
- E eu te amo.
- Também.
eu era, então, um grande céu azul
sentia-me tão perto,
mas era capaz de me ver
ali, sonhando, sorrindo
como quem ama por tempo integral
eu estava acima de mim
soltei o verso, digo, o verbo
eles riram
como os magnatas tomam whisky
os pobres, conhaque
e riem da vida ganha, da vida maldita
eu, como quem perdeu a aposta,
encolhi-me que até diminui
tornei-me, assim, um pequeno vagalume
via tudo
ouvia tudo
sabia de tudo
mas era pouca a minha luz
tentei, numa ideia estúpida, reverter o efeito
pra quê. pra quê?
serei pequena, se o mundo quiser
mas enorme, enquanto não puder controlar
o meu guidom.
de tanto destilado
confundi os destes lados
era dente alado, era pente amado
sei lá, estava tão sem chão
que flutuei.