Essa sua cara lavada, marrenta, amarrotada de tanto porre que tomou dormindo. Esse seu olhar, veneno, duvidoso, que sorri quando me vê chegar. Esse seu parar que me atrai e me pede um beijo, um abraço, um andar. Essa sua loucura impregnada em todos os lugares aonde seus pés te levam. Essa sua mania de contar verdades e inventar mentiras. Essa sua pálpebra, sua boca, suas coxas. Esses seus dedos que vêm correndo ajeitar o cabelo que ficou fora da orelha. Esse seu jeito de revirar o meu jeito. Seu caminho que vem passar pelo meu, dizer olá, como vai, tô aí. Essa sua história que insiste em ser a nossa. Esse seu desejo que vem sempre ser o meu desejo. Essa nossa briga, nossa fuga, nosso medo de sermos nós. Esse seu enredo, meu filme, nosso fim, começo, meio. Essa sua brincadeira que eu sempre acho não ser nada demais. Aquela sua meia velha que ficou comigo. Até todas as suas falas tolas de amor. Tudo isso, querido, me diz muito.
Odeio amar esse seu sorriso que me faz retroceder em todas as minhas certezas
Passei um bom e longo tempo desperdiçando meus sentimentos, minha memória, meu desejo, meus sonhos e meus pensamentos com você. Desperdicei da melhor forma possível. Pensei quando não devia, falei quando não precisava, pedi, desejei. Quis muito. E o muito querer, você sabe, nao é? Fico pensando nas diversas coisas que poderia ter feito, ao invés de desperdiçar as horas. Qualquer coisa me seria mais útil. Jogar bola, baralho, dormir. O que me entristece - mas não é aquela tristeza terrível - é saber que sua meninice só terá fim ser for de forma trágica. Quem procura garoto é menina, pra brincar de pique-esconde, pique-pega, pique-esconde, pique-pega. Vou fazer de tudo, o que eu puder e souber, para evitar que esse seu sorriso insano me faça esquecer.
A humildade
a inocência
a misericórdia
de uma criança
estão bem longe
do que eu chamo
de menino
a inocência
a misericórdia
de uma criança
estão bem longe
do que eu chamo
de menino