Perdi minha inspiração. Em algum canto cheio, desbotado. Acho que foi em um cabelo embaraçado. Lembro de papeis, tons, sons, coisas aleatórias, sala de estar, eu e, se não me engano, você também. É provável que esteja debaixo de qualquer amor mal acabado. Esperando que eu o encontre. Fugindo, astuta, para o meu desespero. E imaginando as explicações que dou para seu sumiço. Alego sua farsa, exalto a técnica e o esforço. Não preciso amar para falar de amor. Que mentira é essa? Chorar pra falar de choro, sorrir para explicar o sorriso. Besteira. Misturo as palavras em uma ordem que me soe saudável e pronto. Sou poeta.
Clareia, toma conta
Não quero ouvir, mas
Diz aqui, ao pé do ouvido
Toda essa sua lábia
Despeja em mim
Seu horror, seu sabor
Eis-me aqui.
Não quero ouvir, mas
Diz aqui, ao pé do ouvido
Toda essa sua lábia
Despeja em mim
Seu horror, seu sabor
Eis-me aqui.
Gota por gota.
Até transbordar.
Até transbordar.