esses dias estava pensando (o que eu penso sempre quando estou nessa situação) em como nós formaríamos um belo casal se não fosse tudo aquilo que nos separa. pensei tanto e percorri um caminho oblíquo até me deparar com uma verdade: eu não sinto a sua falta. isso, talvez, possa soar um pouco rude. ou, talvez, devesse representar alguma espécie de comemoração ou vitória. foi aí que travei. acontece que eu acho que eu deveria sentir a sua falta. não sentir me faz achar que estou perdendo boa parte da minha sensibilidade. quero dizer, devo estar ficando menos sensível. afinal, costumeiramente, eu sinto falta das pessoas como se me doesse a alma - isso se elas de fato tiveram alguma importância. sinto, sim, mesmo que a minha ligação com elas seja superficial, tão vulnerável como uma bolha de sabão. é que eu amo fácil e me acostumo depressa. mas, agora, parece que me desacostumo tão rápido quanto (fico torcendo pra que seja só com você e que, nas próximas vezes, eu morra de saudades). e num lampejo de ansiedade, fico agoniando num domingo a noite imaginando como será a minha próxima história de amor. às vezes, elas duram segundos. é que eu tenho amor demais guardado e, não sei se sou prudente nisto, mas... sempre que posso distribuo esse amor. aonde que que seja, com quem for, desde que encontre ninho.
sou oceano, tornado, tsunami
sou morfina, valium, heroína
rouquidão, cansaço, cefaleia
apostasia, espírito e prece
sou morfina, valium, heroína
rouquidão, cansaço, cefaleia
apostasia, espírito e prece
fio fio
desfia
fiu fiu
desvia
desfia
fiu fiu
desvia
eu me apaixono. é sério. eu me perco na minha paixão. e é perdidamente, como dizem. mas é sincero, juro. tão sincero quando o meu desapaixonar. não sei quando isso acontecerá, como poderia? mas acontece e deixo que seja, natural, como deve ser. não sei se chego a entregar meu coração. na minha cabeça, essa é uma metáfora intensa demais. para aquelas ocasiões únicas (existe isso?). só sei que acontece. e a todo momento.
eu me dedico
eu me abdico
eu me deponho
e te trono e te adorno
e te juro e te amo
mas e eu? mas por quê?
eu me abdico
eu me deponho
e te trono e te adorno
e te juro e te amo
mas e eu? mas por quê?
um amansa e o outro agita
ou outro agita e um amansa
ou outro agito e uma dança
ou outro agita e um amansa
ou outro agito e uma dança
qui est la plus belle?
dis-moi, qui est laquelle?
je pense que je t'aime
mais quel est ton nom?
j'sais pas
je rêve à toi, mon coeur
mais aprés, j'oublié
pardon, pardon
dis-moi, qui est laquelle?
je pense que je t'aime
mais quel est ton nom?
j'sais pas
je rêve à toi, mon coeur
mais aprés, j'oublié
pardon, pardon
cansada. mas do futuro. cansada de pensar no que virá, em como terei que agir, reagir. no que precisarei fazer. a dor que terei que enfrentar. o desemprego. a correria. as contas que terei que prestar (e pagar). pelos meus excessos. pelos meus erros (erros?). cansada só de pensar no olhar das pessoas. "que louca". cansada de ter que ser social. de precisar me esforçar sempre para que as relações sociais sejam mantidas por conversas agradáveis e "boa tarde"s. cansada até de não me encaixar nisso tudo. é um cansaço estranho. quase uma estagnação. não, melhor, um comodismo. cansei e é assim que será. pessimismo? passa, eu acho. é como otimismo. e nada acaba, como diria dr. manhattan. mas se nada acaba, nada dura... hm.
Charleville, 13 de maio de 1871
Caro Senhor!
Ei-lo novamente professor. Devemo-nos à Sociedade, disse-me
o senhor; o senhor faz parte dos corpos de ensino: o senhor vai no bom caminho.
– Eu também, sigo o princípio: faço-me cinicamente sustentar; desenterro
antigos imbecis do colégio: tudo o que posso inventar de idiota, de sujo, de
ruim, em ação e em palavras, dou a eles: pagam-me em canecas e em moças. Stat
mater dolorosa, dum pendet filius.2 – Devo-me à Sociedade, está certo, – e
tenho razão. – O senhor também, o senhor tem razão, por hoje. No fundo, o
senhor só vê em seu princípio poesia subjetiva: sua obstinação em voltar à
manjedoura universitária – perdão! – o prova. Mas o senhor sempre terminará
como um satisfeito que nada fez, já que nada quis fazer. Sem contar que sua
poesia subjetiva sempre será horrivelmente enfadonha. Um dia, espero – muitos
outros esperam a mesma coisa –, verei em seu princípio a poesia objetiva – eu a
verei mais sinceramente do que o senhor seria capaz! Serei um trabalhador: é
essa a idéia que me retém quando as loucas cóleras me impelem para a batalha de
Paris3, onde tantos trabalhadores ainda morrem enquanto lhe escrevo! Trabalhar
agora, jamais, jamais; estou em greve.
Agora encrapulo-me o mais possível. Por quê? Quero ser
poeta, e trabalho para tornar-me vidente: o senhor não compreenderá de modo
algum, e eu quase não poderia explicar-lhe. Trata-se de chegar ao desconhecido
pelo desregramento de todos os sentidos. Os sofrimentos são enormes, mas é
preciso ser forte, ter nascido poeta, e eu me reconheci poeta. Não é absolutamente
minha culpa. Está errado dizer: Eu penso. Deveríamos dizer: Pensam-me. Perdão
pelo jogo de palavras.
EU é um outro. Azar da madeira que se descobre violino, e
danem-se os inconscientes que discutem sobre o que ignoram completamente!
O senhor não é professor para mim. Dou-lhe isto: será
sátira, como o senhor diria? Será poesia? É fantasia, ainda. – Porém,
suplico-lhe, não sublinhe nem com lápis, nem demais com o pensamento:
CORAÇÃO SUPLICIADO
[...]
Isso quer dizer alguma coisa.
RESPONDA-ME, endereçando ao sr. Deverrière, para A. R.
Bom dia de coração,
Arthur Rimbaud
(Extraido de http://www.scielo.br/pdf/alea/v8n1/10.pdf)
não quis te ver
(ver é pouco)
te senti
de todo jeito
fui aquário
e você peixe
te contaminei
(ver é pouco)
te senti
de todo jeito
fui aquário
e você peixe
te contaminei
negros, os olhos
pretos, os cantos
sóbrias, as esquinas
ébrios dionísios
e pardos, à noite
pretos, os cantos
sóbrias, as esquinas
ébrios dionísios
e pardos, à noite
maravilhosa
te encontrei
e me perdi
me apaixonei
e me esqueci
lá.
te encontrei
e me perdi
me apaixonei
e me esqueci
lá.
contido
retido
ressequido
escondido
medido
em celsius
retido
ressequido
escondido
medido
em celsius
O grito contido
virou grão
e floresceu
virou grão
e floresceu
saudade de te ligar
e falar: vem aqui
e você aparecer
e a gente ficar rindo
de bobeira sem fazer nada
de útil pro mundo
só pra gente
(escrito em 2010 ou 2011)
e falar: vem aqui
e você aparecer
e a gente ficar rindo
de bobeira sem fazer nada
de útil pro mundo
só pra gente
(escrito em 2010 ou 2011)
1. Ok. Vim aqui colocar tudo em palavras, porque ando meio saturada. Prefiro assim, porque num diálogo entro em curto quando o outro não consegue assimilar bem os signos e seus respectivos significados. Deve ser por isso que evito dizer tudo, deixo pela metade. Quem quiser, que tente compreender.
2. Quanto mais o tempo passa (e a vida/Deus nos permite saber), vejo como estamos desaprendendo a nos relacionar. Quer dizer, fico me perguntando se já soubemos algum dia. Me decepciona que as palavras que saem da boca não correspondam ao que faz. Antes errada, do que hipócrita, não acha? Bem, eu acho.
3. Outra coisa que não entendo é esse desejo quase incontrolável que as pessoas próximas (e até as não muito próximas) têm de controlar a vida alheia. Não digo isso relacionando a quem fica fazendo fofocas ou se intrometendo de fato, isso também acontece. Mas me refiro, principalmente, àquela chata exigência de quem quer certos comportamentos, só porque acredita que agiria dessa forma. É um ponto de vista muito egocêntrico e prepotente, eu diria.
4. Mas, talvez, eu também seja muito egoísta.
5. Enfim, se é pra celebrar a diferença, façamos isso em todos os níveis, então.
obs.: Não consegui colocar tudo em palavras.
2. Quanto mais o tempo passa (e a vida/Deus nos permite saber), vejo como estamos desaprendendo a nos relacionar. Quer dizer, fico me perguntando se já soubemos algum dia. Me decepciona que as palavras que saem da boca não correspondam ao que faz. Antes errada, do que hipócrita, não acha? Bem, eu acho.
3. Outra coisa que não entendo é esse desejo quase incontrolável que as pessoas próximas (e até as não muito próximas) têm de controlar a vida alheia. Não digo isso relacionando a quem fica fazendo fofocas ou se intrometendo de fato, isso também acontece. Mas me refiro, principalmente, àquela chata exigência de quem quer certos comportamentos, só porque acredita que agiria dessa forma. É um ponto de vista muito egocêntrico e prepotente, eu diria.
4. Mas, talvez, eu também seja muito egoísta.
5. Enfim, se é pra celebrar a diferença, façamos isso em todos os níveis, então.
obs.: Não consegui colocar tudo em palavras.
Apesar de
tudo
em mim
e só.
tudo
em mim
e só.
Um coração em pedaços
ninguém quer
só eu
ninguém quer
só eu
Se eu não te amar
como você me ama
peço que me odeie
imploro que me deixe
você pode até me difamar
mas suplico: não me despreze
se não volto e te puxo pelos pés
dizendo que te amo que te quero
que não vivo sem você
vai ser um tormento só
até você me amar de novo
Ah, doutor
me diz o que tenho
e se tenho
me explica
se é câncer, se é gripe
se vai passar
se for só uma vacina
eu tomo
se for só um remedinho
eu topo
mas se for cirurgia...
me diz, doutor, me diz
só não me deixe sem resposta
me diz o que tenho
e se tenho
me explica
se é câncer, se é gripe
se vai passar
se for só uma vacina
eu tomo
se for só um remedinho
eu topo
mas se for cirurgia...
me diz, doutor, me diz
só não me deixe sem resposta
Leve tudo
Tome tudo
Num gole só
Que é pr'eu te ver
Sofrer muito
Depois de
Me amar muito.
Tome tudo
Num gole só
Que é pr'eu te ver
Sofrer muito
Depois de
Me amar muito.
criança, onde está você?
há quanto tempo não a vejo
nem sei mais, os dias voam
mal sabia dos desejos do mundo
bem vivia o não-saber
tudo lhe perdoavam
para que sorrisse
sem demora, diziam:
o que queres, criança?
por que choras, menina?
não tem problema, meu bem
mas o que era problema, afinal?
o que era ruim?
não me lembro
saudade, criança, saudade.
há quanto tempo não a vejo
nem sei mais, os dias voam
mal sabia dos desejos do mundo
bem vivia o não-saber
tudo lhe perdoavam
para que sorrisse
sem demora, diziam:
o que queres, criança?
por que choras, menina?
não tem problema, meu bem
mas o que era problema, afinal?
o que era ruim?
não me lembro
saudade, criança, saudade.
As desculpas mais
esfarrapadas
desconexas
dilaceradas
embriagadas
intolerantes e
amedrontadas
que eu já ouvi na vida.
esfarrapadas
desconexas
dilaceradas
embriagadas
intolerantes e
amedrontadas
que eu já ouvi na vida.
Não me peça garantias
nem acredite se eu der
nem acredite se eu der
na sua boca
eu sou sereia
sou morena
vou da savana
à hong kong
é só desejo
nem disfarça
me rabisca
me amassa
depois beija
ai ai, seu amor me redesenha.
eu sou sereia
sou morena
vou da savana
à hong kong
é só desejo
nem disfarça
me rabisca
me amassa
depois beija
ai ai, seu amor me redesenha.
ah, se não fossem essas estrofes pra escutar meus desabafos.
tentei não decorar todas as tuas manias
tentei não colorir todas as tuas falhas
tentei não desenhar sempre o teu sorriso
perto do meu
pensei se por acaso tu viesses
pensei se por descaso te perdesses
pensei que com cuidado eu seria
todo seu
deixei tudo de lado e fui te ver
deixei até o meu eu-lírico por você
senti saudade dos poemas
voltei.
tentei não colorir todas as tuas falhas
tentei não desenhar sempre o teu sorriso
perto do meu
pensei se por acaso tu viesses
pensei se por descaso te perdesses
pensei que com cuidado eu seria
todo seu
deixei tudo de lado e fui te ver
deixei até o meu eu-lírico por você
senti saudade dos poemas
voltei.
A madrugada me acordou. Queria me fazer um convite, mas acabou falando algumas insanidades. Tudo bem. Abri a porta da varanda, sentei no chão gelado. Encolhi-me. Tudo sempre foi tão grande, sempre será. As estrelas cintilavam - bem, eu acho que era isso que estavam fazendo - e conversavam comigo. Depois, cochichavam entre si. Espertas como pensei que eu fosse. Sorri. Os papeis já amarelados pelo tempo não estavam ali ao acaso. Todos me esperavam. Desenhei um sorriso aleatório, dois olhos, um lindo nariz. A lua acenou (estava morrendo de sono). Fiz mais outros não-sei-quantos desenhos. O frio levantou cada um dos pelos do meu braço. Busquei um casaco. Sorri e misturei os desenhos com o lápis. Quis conferir os papeis. (Engraçado, reconheço estes rostos).
O primeiro rosto me lembrou claramente uma senhora, que costumava sorrir o mesmo riso sempre - sem ficar cansativo. Nunca soube como ela conseguia - nem nunca saberei. Era a vovó, a falecida, bem amada. Em outro desenho, pude ver a praia, o Sol lá no fundo - como se já estivesse cansado do seu ofício - e, na frente, Lúcia sorria. Era ainda um botão. Lembrei do verão de 95. Linda. Enquanto eu observava, os desenhos se transformaram em fotos antigas, tornando-se parte da minha memória. Já estava extasiada, a Lua parecia ter despertado e gargalhava. Nessa exata hora, eu vi um rosto. Meu Deus! Sereno, como costumava ser, mesmo quando eu fazia meus escândalos. Com um lindo - lindíssimo - e delicioso sorriso. Ah, meu Deus! Era sim, quem eu menos esperei, digo, quem eu mais esperei. Estava ali, olhando-me. Suspiro. Se eu pudesse beijar sua boca...
Aproximei o papel dos meus lábios e dei-lhe um beijo terno. Ele respondeu. Colocou as mãos em meu rosto e me deu um beijo apaixonado. Abri os olhos, assustada, enquanto ouvia as estrelas batendo umas nas outras, rindo. Era ele, inteiro. Trocamos beijos, carícias e amores até todos adormecerem. (Quero sonhar com isso).
O Sol me despertou num sopro e, rindo sem parar como uma criança chata, espetava-me. Nessa brincadeira, quase fico cega. Ai, que dor! Sentei-me, vi alguns papeis rabiscados - não consegui decifrá-los dessa vez. O azul estendia-se por todo o céu. As poucas nuvens que passeavam me fizeram cara feia. A manhã me chamou e me disse coisas inteiramente agradáveis. Sorri. (Eu me lembrei de tudo).
O primeiro rosto me lembrou claramente uma senhora, que costumava sorrir o mesmo riso sempre - sem ficar cansativo. Nunca soube como ela conseguia - nem nunca saberei. Era a vovó, a falecida, bem amada. Em outro desenho, pude ver a praia, o Sol lá no fundo - como se já estivesse cansado do seu ofício - e, na frente, Lúcia sorria. Era ainda um botão. Lembrei do verão de 95. Linda. Enquanto eu observava, os desenhos se transformaram em fotos antigas, tornando-se parte da minha memória. Já estava extasiada, a Lua parecia ter despertado e gargalhava. Nessa exata hora, eu vi um rosto. Meu Deus! Sereno, como costumava ser, mesmo quando eu fazia meus escândalos. Com um lindo - lindíssimo - e delicioso sorriso. Ah, meu Deus! Era sim, quem eu menos esperei, digo, quem eu mais esperei. Estava ali, olhando-me. Suspiro. Se eu pudesse beijar sua boca...
Aproximei o papel dos meus lábios e dei-lhe um beijo terno. Ele respondeu. Colocou as mãos em meu rosto e me deu um beijo apaixonado. Abri os olhos, assustada, enquanto ouvia as estrelas batendo umas nas outras, rindo. Era ele, inteiro. Trocamos beijos, carícias e amores até todos adormecerem. (Quero sonhar com isso).
O Sol me despertou num sopro e, rindo sem parar como uma criança chata, espetava-me. Nessa brincadeira, quase fico cega. Ai, que dor! Sentei-me, vi alguns papeis rabiscados - não consegui decifrá-los dessa vez. O azul estendia-se por todo o céu. As poucas nuvens que passeavam me fizeram cara feia. A manhã me chamou e me disse coisas inteiramente agradáveis. Sorri. (Eu me lembrei de tudo).