Que venha o ano novo!
As pessoas dizem que merecemos grandes coisas, as melhores. Mas nós sabemos que não. Nós não merecemos.
Quando nasci, um protótipo imperfeito de mim mesma, viram o meu pé tortinho e disseram Lá vem problema! Nada muito original, porque não se pode concluir outra coisa quando se põe mais uma pessoa no mundo. Se eu acreditasse na normalidade, essa que existe na teoria, que dizem ser a cura dos loucos, que muda de tempos em tempos, que caracteriza a exigência social, aquela que ninguém segue, mas que todo mundo cobra; Se eu acreditasse mesmo, não seria artista. E me diz quem não é? Quem nesse mundinho decadente não é um artista? Aquele que encena, que inventa, que cria, que pinta, que faz a melodia ou a letra, aquele que vê além, aquele que somos todos. Porque é fatal. O Éden foi obra de arte divina, fomos destinados a isso. Haha e por Deus. Mas um dia perceberam que era assim mesmo, quando compararam seus diagnósticos com o meu. A partir daí o normal se confundiu com o insano, porque na prática é tudo diferente. E eu que já cansei de sofrer pelos extremos de ser ou não ser, resolvi deixar ir, porque eu não coordeno o que virá nem o que me tornarei adiante. Virei então um casulo e vou absorvendo tudo que passa pela peneira. Esta que as virtudes a mim atribuídas a constituem. Ah haha E agora que eu estou aqui, sentada assistindo ao espetáculo deles, vi que faço parte integralmente disso. Mas eu me divirto, porque cansei de ir aos julgamentos e os deixo condenando ou absolvendo ninguém. Ah, vai, que eu seja perdoada, pois sou feita de amor dos pés a cabeça. Nada vai mudar isso, amor é a minha máxima. E nos nãos que me proibirem eu os beijarei; no tapa que me prenderão, eu os abraçarei. E vou rir com meus olhos de ressaca, de cigana oblíqua e dissimulada, para que vejam quem eu sou e que entendam o que eu significo e me respeitem como dona e serva de mim, gauche na vida me tornei. E quer saber? Eu amooo isso, inteiramente. Amo sentir tudo, amo saber como é sentir tudo. Empirismo. Amo me fazer literatura, fingir tudo e depois acreditar. Amo pensar com a cabeça de uma dona e de sofrer como uma miserável. Não que eu ame a dor como uma masoquista, mas amo me sentir viva. Você sangra pra saber que está vivo. Ah, deixe-me com os meus devaneios, pois sei que adoram ver a pessoa que me tornei.
E eu esqueci toda a minha dor, quando uma criança sorriu pra mim.
Não tenho nada mais pra dizer aqui hoje, desculpe-me. É porque, na verdade, tudo se encheu demais e demais e explodiu. E agora ficou vazio, demais e demais. Eu que já nem entendo mais de vazio e de cheio, porque parecem o mesmo... Às vezes. E me cansei, também, de tudo o que têm dito sobre mim. Sobre como mudei, sobre como cresci. Chega! Quando não é isso, é silêncio. Por que não um pouco menos de vergonha na cara pra dizer o que pensa? Ao invés de culpar o tempo. Ah, ninguém é perfeito, vai. E se eu fui uma vaca é melhor dizer, é muito melhor dizer. Se não permaneço nessa. Te angustiando, até pedir pra parar.
Bem, acabei dizendo.
Bem, acabei dizendo.
why it has to be so blue?
you should just gimme a clue
love moves all around
but can make us go to the ground
create, that's what i do,
'cause you don't even think of me
mas eu admito: me divirto fazendo isso.
you should just gimme a clue
love moves all around
but can make us go to the ground
create, that's what i do,
'cause you don't even think of me
mas eu admito: me divirto fazendo isso.
Foi só pedir, que a vida me deu. Da maneira mais inesperada possível. :(
Começa a prevalecer o desespero, por querer algo, para se sentir vivo. Qualquer migalha emocional que me faça pensar, morrer por dentro, errar. Não é tão difícil me fazer bem ou mal, sou poeta, sou artista. Toque-me da maneira errada que posso chorar dias, ou ficar irada por semanas e te dizer palavras que vêm do meu lado mais cruel. Toque-me da melhor forma, eu irei te amar, por um segundo ou por anos, talvez. Eu imploro, vida, qualquer pessoa, enlouqueça-me num desses dias em que não se tem nada pra fazer. Numa mesa do bar, contrarie todos os meus princípios e me convença de estar errada. Diga o que eu não quero ouvir. Eu já não sinto mais nada, então, por favor, diga que ama só para eu dizer que não posso e me afundar na dor que eu mais gosto.
Schopenhouer, sofrer = valor. Saudade, palavras.
Querido Lúcio,
Primeiro de tudo, eu não te pago a toa. Penso que você gastou (ou perdeu) anos da sua vida se dedicando ao estudo da mente do ser humano. E é exatamente por isso que me consulto com você desde os 15. Você, mais do que ninguém, deveria me entender, decifrar minhas atitudes e entrelinhas. Somos todos personificações de poesias e de sentimentos. Foi você quem me disse isso, tá lembrado? Olha, acordei meio ofensiva, mas isso já me cansou. Esse seu bilhete não foi nada agradável. Não vejo paz nenhuma em alguém que não consegue dizer verdades pessoais me olhando nos olhos. Nos vemos segunda.
Ass.: Sua paciente
Dandara,
Você afirma, com tanta certeza, que o meu dizer é falso que queria saber de onde suas certezas vêm. Aliás, queria saber como sabe disso tão certa de si. Porque não consigo entender que depois de alguns dias no inverno, você mude, mude todas as suas verdades e todas as suas mentiras. Deixe ser. Você inventa verdades só para contestar o mundo, só para se convencer de que vive uma mentira. Eu te aconselho a ser mais espontânea, que seus juízos de valor sejam aplicados à você e só, que as suas verdades possam te julgar somente. Aí você vai abrir espaço para a paz te encontrar. E eu digo isso com toda essa certeza, porque ela me encontrou.
Ass.: Seu psicólogo
- Vamos cometer alguns crimes, nessa noite, Jack.
- Tentar conquistar o mundo?
- Não. We will try to save the world. Em outra língua pra ninguém descobrir.
- O que você tem pensado, Booter?
- Me chame pela inicial, J.
- Ok, B. Qual o plano A?
- Matar o presidente da república.
- O quê?? Pirou? Essa brincadeira tá indo longe, anos-luz daqui.
- No jokes now, J. Uma metralhadora resolve tudo.
- Não!! Plano B, agora..
- Kill the primeiro ministro
- O QUÊ? Nem sei qual o nome dele, fala sério
- É, realmente... Não é culpa dele a fome no mundo
- Passa pro plano C.
- Yes. Aniquilar o presidente do senado.
- Bem, aniquilar não é tão drástico assim, né?
- É o mesmo que matar ¬¬
- Ahhh! Então, não. Para com isso, você está me assustando.
- Tá, tenho mais um plano.
- MAIS?
- Caaalma. Plano D é matar todo mundo.
- É... Mesmo com morte essa é a ideia mais sensata e cômoda. Sem pessoas = sem crimes = paz. Ufa!
- Então, vamos?!
- Nãoooo. Agora que me toquei, matar todos inclui nós dois. Não aceito.
- Ahhhh assim não dá pra fazer nada pra melhorar o planeta
- Acho melhor continuar lendo meu jornal.
- Ok, deixa pro dia 7 de setembro que voltamos a planejar.
- Tá bom, Booter. Você tem até a letra Z, depois disso esgotarão-se nossas esperanças.
- Isso, Jack. You're a genious!
- Tentar conquistar o mundo?
- Não. We will try to save the world. Em outra língua pra ninguém descobrir.
- O que você tem pensado, Booter?
- Me chame pela inicial, J.
- Ok, B. Qual o plano A?
- Matar o presidente da república.
- O quê?? Pirou? Essa brincadeira tá indo longe, anos-luz daqui.
- No jokes now, J. Uma metralhadora resolve tudo.
- Não!! Plano B, agora..
- Kill the primeiro ministro
- O QUÊ? Nem sei qual o nome dele, fala sério
- É, realmente... Não é culpa dele a fome no mundo
- Passa pro plano C.
- Yes. Aniquilar o presidente do senado.
- Bem, aniquilar não é tão drástico assim, né?
- É o mesmo que matar ¬¬
- Ahhh! Então, não. Para com isso, você está me assustando.
- Tá, tenho mais um plano.
- MAIS?
- Caaalma. Plano D é matar todo mundo.
- É... Mesmo com morte essa é a ideia mais sensata e cômoda. Sem pessoas = sem crimes = paz. Ufa!
- Então, vamos?!
- Nãoooo. Agora que me toquei, matar todos inclui nós dois. Não aceito.
- Ahhhh assim não dá pra fazer nada pra melhorar o planeta
- Acho melhor continuar lendo meu jornal.
- Ok, deixa pro dia 7 de setembro que voltamos a planejar.
- Tá bom, Booter. Você tem até a letra Z, depois disso esgotarão-se nossas esperanças.
- Isso, Jack. You're a genious!
Ah, que me desculpem os religiosos preconceituosos. Não estou com o capeta só porque faço diferente de vocês. O que, na verdade, é estranho se somos todos seguidores de Cristo. Eu só estou seguindo as Suas pegadas. Indo onde todos tem medo de ir, não para ficar exortando, mas para amar, que é a manifestação de Deus nos homens. Só porque não ligo para aparência e sim pro coração. Só porque abraço um mendigo, sorrio pro travesti, converso com o hippie mochileiro. Ah, só porque valorizo a arte, o pensar, as capacidades humanas, não significa que eu não viva com bases na minha fé. Só porque tatuagens, poesias, músicas e piercings para mim são permitidos é que vou arder no inferno? Que sejamos poupados disso. Se eu fosse homofóbica, corrupta, preconceituosa, serial-killer, porca capitalista, sei lá essas coisas ruins do mundo, aí eu até entendia. Mas só porque eu pinto minhas unhas diferentes, uso uma calça que vai até o busto, pinto as madeixas, uso tênis, vou ao teatro, danço na rua, grito e pinto paredes, ah só por isso estou excluída da sua listinha VIP da festa no céu? Ah, nãããão. Sei bem o que está escrito na bíblia. É um romance sobre o amor de Deus por uma humanidade que o traiu, mas que Ele a perdôou e ainda perdoa. Entende? ah.. Não vivo de teologia, nem de religião, vivo de Cristo! Ir a uma igreja não é ser religioso, é querer estar em comunhão, onde, teoricamente, você pode adorar a Deus livremente, num lugar maravilhoso, de paz e de amor. E quer saber? É assim mesmo que eu vivo. Podem me chamar de herege, no mundo gospel, podem me chamar de louca que desperdiça a vida, mundo secular. Eu vivo do jeito que Jesus me ensinou. E Ele é o cara.
Tô afim de ser nada
Tudo é nada
Tudo é nada
Uma convulção de gritos
Um oceano de lágrimas
Um terremoto de risos
O exagero cria a graça
A poesia, a paixão e o artista
Que ri, chora, ama e grita
Tudo ao mesmo tempo,
Sem querer saber o fim
Nem de onde começou
Pulsivo, impulsivo
É quem quer ser assim
Que contradiz, que sobrediz
Que neologia - é verbo.
Não se escandalize, porque...
Esquece, todo mundo enloquece.
Um oceano de lágrimas
Um terremoto de risos
O exagero cria a graça
A poesia, a paixão e o artista
Que ri, chora, ama e grita
Tudo ao mesmo tempo,
Sem querer saber o fim
Nem de onde começou
Pulsivo, impulsivo
É quem quer ser assim
Que contradiz, que sobrediz
Que neologia - é verbo.
Não se escandalize, porque...
Esquece, todo mundo enloquece.
Terrível noite, obscuridão. Que me consumiu, engoliu e me pintou o rosto com suas cores. Agora não consigo sorrir um riso alegre e dizer palavras de carinho sinceras. Estou morrendo. E quem me mata é a angústia que o medo me traz. Medo de viver, viver, viver e morrer só. Sem que ninguém sinta saudade, com palavras de pena, nada sincero, tudo forçado. Estou perdendo as forças. Caminhando a passos vagarosos, quase parando, ficando em qualquer canto que me receba. Sensação péssima de exclusão, de desprezo. Que venha o simbolismo com sua transcendência. Que eu morra para poder crescer espiritualmente. Que eu me deixe evaporar assim, dolorosamente. Tortura, para que, sim, após isso, eu possa compreender mais o outro do que eu mesma. Que eu possa amar mais o outro que a mim mesma e que eu possa me alegrar com as conquistas alheias, quando as minhas são insuficientes. É... é isso! Porque a literatura é o melhor desabafo.
A outra nova
No mesmo
Tudo de novo
Diferente
No mesmo
Tudo de novo
Diferente
é, como costumam dizer repetidamente, o Sol sempre surge alguma hora. para nos dar esperança de qualquer coisa que a chuva forte tenha levado. o Sol símbolo de renovo, símbolo de alegria, de mudança, de festa, de novas oportunidades. O SOL... que nos permitiu ver claramente que está tudo destruído. as bruxas deixaram marcas. Deus nos proteja de toda nova ameça de chuva.
Chuva dá trégua e cenário é de destruição após temporal na Grande Vitória01/11/2009 - 10h08 (eu aqui - gazeta online)
O sol resolveu aparecer (de leve) na Grande Vitória na manhã deste domingo (1), sobretudo na capital e em Vila Velha, onde desde cedo muitos moradores que tiveram as casas invadidas pela água limpam o barro que restou.
A chuva deu uma trégua. O sol mostra a cara. As ruas voltam a aparecer.
O cenário é de destruição.
Confira as imagens enviadas por internautas após o temporal deste sábado (31). Se a sua rua também está nessas condições, fotografe e envie para o gazeta online. [ clique aqui para enviar ]foto: enviado por Hector Siqueira - eu aquiÁrvores derrubadas e rede elétrica danificada após temporal deste sábado em Vitória. Rua Constante Sodré, Santa Lúcia.
Galeria de Fotos
é dia das bruxas. já nem sei mais o que significa isso. esse dia só me faz lembrar de quando eu estava na 5ª série, fui ao banheiro e havia virado moça. não sei, mas não rola essa negócio de dia das bruxas pra mim. tá chovendo muito, aqui. eu olho lá pra fora e vejo tudo embaçado. a chuva tem tomado espaço de tudo, chegou sem bater e tem se alojado onde pode. como eu, nós, somos frágeis demais, nos escondemos em nossas casas. os corajosos sempre morrem, mas vão para o céu. e vai se tornando uma noite saudosa, com essa velha música que antes costumava me arrepiar de amor, agora me dói o coração de saudade. quero marcá-la com algo bom, com amor. mas é assim que a vida é. ela nos ataca, para ver o que iremos fazer. morrer ou viver. chuva, chuva, chuva. tem gente de jetski na rua, não entendo mais nada. tudo fechou mais cedo. todo mundo tem medo. eu estou com medo. somos frágeis, todos, todos. somos humanos. só consigo pensar naqueles que não tem uma casa para dormir nessa noite - essa casa que é a única coisa que vejo nitidamente -, eles devem estar aproveitando para tirar os piolhos, para colocarem a fantasia e curtirem o dia das bruxas. lá no centro, então. se escondendo nos 'monumentos', debaixo de qualquer cobertura. minha cachorra me olha e atrapalha meu pensamento. ela sente frio. tem gente falando alto, os corajosos da rua estão de carro, agora. enfim... é a vida que vai me enlouquecer qualquer dia desses. beijo, abraço e Deus nos proteja de qualquer goteira que tente surgir.
Lembram-se do poema da chuva? Estou 'repostando-o'. Tem tudo a ver com o momento:
domingo, 1 de março de 2009
Chuva
Cessa, chuva!
Que pressa é essa?
É saudade.
Do povo da aldeia,
Do cheiro da sereia.
É saudade.
Da preta assanhada,
Da noite inacabada.
De dois aviões
Pombos no deserto
Sobreviventes da tempestade
De saudade que se vive
Por isso chove.
Quem escreveu fui eu, Isa , enquanto o relógio marcava 01:57
Esqueci de comemorar o aniversário do blog esse ano, que é no dia 13 de setembro. Mas, bem... Troquei o layout e lhe dei novos textos. Parabéns blog por ter me aguentado nesses dois anos! :)
Somos tão convencionais. A música pára, acabamos a dança, mesmo que o corpo chame por mais. A multidão corre e vamos atrás. Se tem espaço para título, nós o escrevemos, se não tem, inventamos. Se pedem nosso nome, dizemos, mesmo que todos nos conheçam por um apelido. Se acabou, vai embora. Se é pra chorar, fica triste, mesmo que tenha vencido o concurso. Se é poema, é com rima. Se é funk é pornografia. Se é jovem, é sem causa. Se falar de Trótski, é interessante. Mas se for seriado, ih, é fútil. No feriado, temos que sair. Mas na quarta, ficar em casa. Somos tão convencionais. Se é cabeludo, é rockeiro. Se tem franja, é emo. Se o decote mostra tudo, é vagabunda. Mas se usa hábito é santa. Tá tudo tão convencionado. Em uma convenção universal, somos marcados pelos preconceitos, preceitos, conceitos, moldes. Os esteriótipos nos falam mais do que o olhar. Deste que já perdemos a capacidade de interpretação. O tempo muda, sempre de convenção e convenção. E quando quer ser diferente? Ah, isso também é tabelado: tem que odiar o sistema, o burgês, a roupa de marca, o McDonalds, o funk, o sertanejo, o rap contemporâneo, o ballet, o branco, os portugueses e os EUA. Francamente, sejamos mais espontâneos. Se for pra não gostar de coca-cola, que seja porque é ruim. Se for pra admirar Almodóvar, que seja por que faz seu gosto. Se diz que funk é música de alienado, que seja sabendo que é preconceituoso. Sejamos mais sociais e menos políticos. Mais nós, menos eu. Falamos tanto em liberdade, mesmo os mais rígidos e tradicionais, mas nem vemos que estamos presos ao que nos foi dado, em todos os sentidos. Busque essa liberdade primeiro. De poder dizer não, de saber amar todos os estilos, todas as profissões, todas as religiões, todos os ladrões e feiticeiras. As protitutas, os idosos, os estudantes, as tribos, os políticos, os primitivos, os intelectuais, os marginais, os menores ifratores, os idólatras, os pedófilos, os viciados em pornografia, os dependentes químicos, os fumantes, os religiosos, os radicais, os extremos, os que não te amam, os inimigos, os violentos, os mansos, os alienados, os anciãos, os fúteis, os excluídos, os incluídos, os populares, os elitistas, os intrometidos, os sinceros, os humildes, os gananciosos, os corruptos, os infiéis, os poligâmicos, os estrangiros, os canibais, os deficientes mentais, os deficientes físicos, os bêbados, os mendigos, os mal-ducados, os mauricinhos, os ricos, os pobres, os brancos, os negros, os amarelos, os ETs, os travestis, os homossexuais, os homicidas, os suicidas, os malvados, os bonzinhos, os preguiçosos, os eficientes, os intovertidos, os extrevertidos, os ditadores, os comunistas, os loucos, os convencionais. Todos, quero amar todos.
não adianta
não sou dócil
nasci pra ser livre
não uso coleira,
não vivo em jaula.
sou do contra,
mas os clichês me fazem rir.
uma fera do amor
me move e eu luto
por ele e para Ele
não adianta,
não vou ser sua
com pequenas palavras
é difícil, mas
acredito no melhor pra mim
sou fiel a mim
não sou seu pensamento
sou eu
indomável
não sou dócil
nasci pra ser livre
não uso coleira,
não vivo em jaula.
sou do contra,
mas os clichês me fazem rir.
uma fera do amor
me move e eu luto
por ele e para Ele
não adianta,
não vou ser sua
com pequenas palavras
é difícil, mas
acredito no melhor pra mim
sou fiel a mim
não sou seu pensamento
sou eu
indomável
na moral
tá[tão] me assustando.
tá[tão] me assustando.
miseravelmente, senti meu corpo quebrando. como uma peça de cristal, sensível e exuberante, quebrandO. praticamente, vi minha cabeça rolando, com os olhos da almA. na verdade, tudo se deveu a grande audácia do siR lanceloT em querer ir a françA, como costumávamos chamar meu treinador - ele era britânicO. eu jogo tênis, o esportE. éramos íntimos parceiroS. há anos, juntos, como belos vencedores de tudO. estava convencida de que havíamos nascido para issO. certa vez, em nossa vida brilhante e iluminada, um pingo negro surgiU: clairE laforeT. uma francesinha, metida a besta, que pensava que falava português, a máxima das línguas nacionaiS. antes dessa aparição, sempre fui uma pessoa muito centrada, calculista quando preciso, na verdade, sempre busquei o esquilíbriO. minha carreira estava maravilhosa, todos queriam me contratar e eu era, realmente, idolatradA por todo brasiL e pela europA. laforeT surgiu quando meu britânico, me levou para um passeio afrodisíaco na françA. não estranhem, nos comportávamos como amantes, de quando em vez, como se fossem surtoS. clairE laforeT se passou por camareirA. achei típico, fracO. o que não sabíamos é que a garota entrava em nosso cômodo quando ausente estávamoS. santa paciênciA. ficamos um mês ou maiS. aliás, eu já havia perdido a noção do tempo, porque passava parte dele desconfiando dessa desgraçadA. eu sabia que não estava erradA. eu não falho, os outros que querem me fazer falhar, como elA. malditA. para acabar logo com o drama, ela sim, se realizou sexualmente com o inglesinho que me treinavA. e sim, eu os vi juntoS. mas esse papo tá babado, não vim contar issO. porque eu nem me importei com isso naquele momento, só realizei um fetichE. deixa pra lá, vocês são caretas demais pra issO. criamos um triângulo amoroso, as minhas disconfianças por clairE me faziam amá-la cada vez maiS. eu esquecia dos treinos, dos jogos, várias vezes, meu desempenho foi mau por estar exausta por nossa boemiA. admito, enloqueci de amores por seus olhares e por como lanceloT parecia cada vez mais sedutoR. eu poderia ter morrido nessa épocA. passados dois anos tudo começou a desmoronaR. lanceloT disse que eu estava perdendo os patrocínios, porque meu desempenho teria sofrido absurda queda nos últimos anoS. tentamos de todos os modos, em todos os jogos, treinar mais e vencer, mas clairE me tirava do sério, perdia noção de tudo com elA. aos poucos, vi minha carreira ruiR. tudo o que eu mais amava morreu e passei a amar minha mais nova paixãO: a francesinha vagabundA. porém, em tempos de inverno, ela sumia e eu gastava todo o meu dinheiro em aguardentE. empobreci, caroS. fiquei podre de fama, de riqueza, de beleza e logo depois de espíritO. a tão maravilhosa clairE sumiu de vez no inverno de 89 e só apareceu pra mim com uma peruca vermelha, nas olimpíadas de pariS e pela televisãO. não acreditei, mas vocês podem ter fé, ela estava treinado margoT duchampS, a nova estrelinha do tênis mundiaL. a essa altura, lanceloT estava no brasiL se casandO. liguei para ele e comuniquei tudo, ele me mandou um dinheiro para eu voltar pra casA. mas não pude deixar isso assiM. aquela infeliz não podia sair impunE. ela tinha armado pra mim, só para a sua companheira vencer, ganhar de miM. na outra semana, me dediquei a encontrar clairE. foi fácil, ela já estava na mídiA. eu a espionava, hospedada na pousada em frente ao seu condomíniO. já sabia todos os horários, estava tudo anotado e planejadO. quando margoT saiu com seu empresário, na verdade seu amante, vi que clairE foi tomar banho. era o momento perfeitO. disse ao porteiro, da forma mais dissimulada possível que já fui cliente dela e que queria fazer-lhe uma surpresA. homens tolos, nunca disconfiam de mulheres, meigas, bonitas e bem arrumadaS. a porta aberta foi só uma facilidade que achei, peguei a faca que tinha trazido e parei na porta do banheiro, admito que me apaixonei de novO. ela me viu e se assustou, mostrei a faca e disse para não gritar e nem fugir, seria rápida minha visitA. me despi e entrei no banheiro, enquanto a molestava, dizia para ela quanto eu a amava e quanto ela tinha sido uma vaca comigo, uma vagabunda, cachorrA. via seus olhos de terror, aquilo me consumiu e me realizeI. depois, ela tentou me enrolar para ver se eu desistia da ideia, mas nãO... nada mudoU. peguei a faca e a esfaqueei, perdi as contas de quantas vezeS. ela estava linda, parecia escultura, obra de artE. era devagar e a cada golpe, um gemidO. como num sonhO. ela morreu da mesma maneira como me matou espiritualmentE. foi delicioso, excitantE. tempos depois fui presa, clarO. esse pessoal europeu é mais eficiente que lá no brasiL. mas não foi problemA. lanceloT era muito rico, tinha até esquecido de dizer, e depois de uns 3 anos saí daquele hotel que é a prisão europeia e ele me amou de voltA. aiai, mas nunca me esquecerei de clairE, ela foi essencial para a minha vidA. até a próximA.
Entre tantos montes do mundo
Tenho procurado por aquele que me espera
Entre tantos mares nos oceanos profundos
Resta-me somente aquele que me alegra
Ninguém é capaz desse então magnetismo
Inebriante como o doce cheiro do jardim
Dentro de outra e de outra, um abismo
Ai, meu Deus, que belo Jasmim!
Dante, talvez me entenderia,
Em Ti, apenas, encontro a minha sina.
Tenho procurado por aquele que me espera
Entre tantos mares nos oceanos profundos
Resta-me somente aquele que me alegra
Ninguém é capaz desse então magnetismo
Inebriante como o doce cheiro do jardim
Dentro de outra e de outra, um abismo
Ai, meu Deus, que belo Jasmim!
Dante, talvez me entenderia,
Em Ti, apenas, encontro a minha sina.
Ao Sr. Francisco de Melo,
Beijinhos,
Cecília.
Depois de trinta e cinco anos tentando descobrir o sentido da vida e mundando-o sempre que uma estação chegava, decidi não mais conter meus desejos por um mundo à merce da minha negligência. Porque, na verdade, tanto faz o que os críticos dizem dos meus livros, eu já cansei de me preocupar e lutar por qualquer coisa menos injusta. Fica até difícil falar sobre justiça. Aquela velha história de que não há luz onde há trevas, etc etc etc. De qualquer forma, querido, eu não estou com paciência pra ficar te explicando minhas ideias. Não vou ferir ninguém só pensando, tranquilize-se. Mas se quer polêmica, eu faço. Jogo minha dignidade fora, porque sou sem vergonha, cara de pau. É tudo marketing, meu bem. Enquanto você ganha dinheiro, eu me destruo parcialmente. Mas tanto faz, hoje estou fora de mim. Só por hoje tudo me convém. Não me espere hoje, amor.
Beijinhos,
Cecília.
Desculpe-me, não consigo mais escrever, não tenho tempo para os amigos, não vejo mais filmes, ler só de quando em vez. Desculpe-me os atrasos, as noites mal durmidas, as olheiras por baixo da maquiagem. Que me perdoe pelas palavras mal-ditas, pelo ombro cansado, pelas dores na coluna. Desculpe a ausência nos aniversários, nos funerais, nas despedidas e nos casamentos. Desculpe também a irresponsabilididade, os compromissos desmarcados, as promessas frustradas de um encontro. Desculpe-me as vezes que esqueci datas importantes e que não liguei. Desculpe as cartas mal escritas, os abraços apressados, a célebre 'estou atrasada, depois a gente se fala'. Desculpem-me, poemas. Desculpe-me, amigos, mãe, família, eu. Desculpe a falta de palvras bonitas, de uma história intrigante. Não sou um best-seller, graças a Deus. Acontece que vou prestar vestibular. Por falar nisso, estou atrasada, tenho mais aula.
"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."Já dizia Manuel Bandeira.
O que significa? Eu tento, tento mesmo, entender a mente de cada ser humano. Mas Dado Dolabella não é um de nós, na minha percepção. Já não aguento mais a bosta da música que ele resolveu divulgar no reality show da Record, chamada "Rolex". Tem um ritmo legalzinho, daqueles que se tocar todo mundo curte, com sorriso de ponta a ponta, apenas pelo fato de estar feliz, mas não porque a música é realmente boa. Imagino que em um dia de muita exaltação de espírito (se é que me entendem) o "músico" escreveu a letra e achou o máximo, com uma melodia relax, fez um som lelesk. Mas que merda de letra. Se alguém entender o sentido poético e filosófico (com base em sócrate sou sófocles), por favor, compartilhe!
"A lua nós conta histórias pra dormir
E os coroinhas no altar não tem o que pedir
Os bichos de par em par ensaiam quadrilha
Até o saci e uma velhinha brincam juntos de amarelinha
Porque ninguém lá tem uma idade
As pessoas só nascem, todos nascem e só nascem...
Duendes e fadas organizam um baile
Não existe cansaço e dormem só pelo prazer de sonhar"
Não dá nem para dizer o que eu não entendi. A letra começa do nada rumo a lugar nenhum. Realmente, ele estava em outro mundo.
O refrão é meu martírio. Observem:
"Papai quero fazer um sol no seu grande Rolex
Pra poder ver o dia mais claro, relax"
E essa porcaria repete umas cinquenta vezes (hiperbolicamente, falando, claro). É um saco...
Não tenho nem palavras. Quando tiver mais criatividade, essa letra será o alvo das minhas análises.
Abraços e só.
"A lua nós conta histórias pra dormir
E os coroinhas no altar não tem o que pedir
Os bichos de par em par ensaiam quadrilha
Até o saci e uma velhinha brincam juntos de amarelinha
Porque ninguém lá tem uma idade
As pessoas só nascem, todos nascem e só nascem...
Duendes e fadas organizam um baile
Não existe cansaço e dormem só pelo prazer de sonhar"
Não dá nem para dizer o que eu não entendi. A letra começa do nada rumo a lugar nenhum. Realmente, ele estava em outro mundo.
O refrão é meu martírio. Observem:
"Papai quero fazer um sol no seu grande Rolex
Pra poder ver o dia mais claro, relax"
E essa porcaria repete umas cinquenta vezes (hiperbolicamente, falando, claro). É um saco...
Não tenho nem palavras. Quando tiver mais criatividade, essa letra será o alvo das minhas análises.
Abraços e só.
Vamos aderir à campanha xixi no banho! :) Sos Mata Atlântica ♥
Brasil, aonde cê tá indo? Não te contaram que na esquina tem uma armadilha que, se me permite a redundância, armada para te sabotar? Onde cê vai, querido? A esperança ainda não morreu, mas o abismo a espera. Melhor ir devagar, amado. A rua, a lua, a loucura das madrugadas, a cocaína no nariz de quem espera, o porto vazio cheio de sangue, a bandeira faltando estrelas, a cultura pedindo comida, a miséria dizendo que vai ficar, as rugas de quem já viveu suas desventuras, querido país; o desemprego do patrão, a nova comissão. Pra que lado cê tá indo, Brasil? Não falaram que quem espera sempre alcança? Você já foi a esperança das canções de Vandré. Acorde, meu filho. Não te disseram que os monstros lhe esperam? Eles são grandes e vêm de fora. Esse seu plano pode não dar certo. Abortar missão na cara do bote, não rola, patrão, não rola. Manda chuva é você. Manda chuva, papai do céu, iemanjá. Paquetá. É apneia, Brasil... É apneia. Se cuida, pra não virar bosta e ter que ir pelo ralo.
Vida, tô cansada. Tô perdendo o jogo. Não estou desistindo de ganhar, mas me venceram antes. Pode me levar, se quiser. Fico para a próxima rodada. Estou muito cansada.
Se é no leito que nascem os poetas, vamos lá, estou esperando.
Ah, eu sou um desabafo completo!
Olá querido Oeste,
É bom ver que estás feliz com teu antigo amor. Aliás, é bom ver como a tua consciência foi camarada e nem lhe pesou ao ver que jasmim eu era. Porque não foi a ela que tu traistes, somente ao meu amor fostes infiel. Amei-te por completo, nossas almas tornaram-se uma só diversas vezes e tu nem aí para o que pudesse estar sendo criado na mente de uma alice tão ingênua. Porém, meu amor, eu já te esqueci, depois de tantos versos e prosas por ti. Agora eu posso te ver, sorrir e brindar pelo teu noivado, pela tua mudança, pelo teu adeus. Quantos quilometros nos separavam, continuam assim e que permaneça. Meu amigo, és tu. Não tenho rancor, apenas fico feliz por ti. O meu amor também está a caminho. Paz e seja feliz no Sul.
É bom ver que estás feliz com teu antigo amor. Aliás, é bom ver como a tua consciência foi camarada e nem lhe pesou ao ver que jasmim eu era. Porque não foi a ela que tu traistes, somente ao meu amor fostes infiel. Amei-te por completo, nossas almas tornaram-se uma só diversas vezes e tu nem aí para o que pudesse estar sendo criado na mente de uma alice tão ingênua. Porém, meu amor, eu já te esqueci, depois de tantos versos e prosas por ti. Agora eu posso te ver, sorrir e brindar pelo teu noivado, pela tua mudança, pelo teu adeus. Quantos quilometros nos separavam, continuam assim e que permaneça. Meu amigo, és tu. Não tenho rancor, apenas fico feliz por ti. O meu amor também está a caminho. Paz e seja feliz no Sul.
Um grande cheiro,
Leste
Leste
"Um século, três,
se as vidas atrás
são parte de nós.
E como será?
O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz." LH
A destreza do tempo trouxe-me um oceano de informações na velocidade de um tufão. Conhecimento jogado em via públia para quem quiser pegar. A próxima primavera já está chegando e eu onde estarei? O conhecimento é determinado pelo tempo? Não, o tempo determina o conhecimento. Os segundos estimulam cada sinapse do meu cérebro. O encéfalo não para, polegar. Era um polegarzinho, agora já está quase ão. Escreva um ditado popular, mudem as regras. Tanto faz, agora eu tô só pra mim e tentando ser só para você, mas o cérebro não deixa. Desculpe-me, amor, não tenho tempo para errar.
Quando a conheci, dei meus pulinhos e quase cortei o dedo de promessa que quis pagar. Mas depois me acerto com o povo que me abençoou com a pequena. Ela era linda demais. Tinha olhos verdes, uma pele morena de Sol e cabelos castanhos. Ao vento, parecia famosa. Mas era criança, ainda.
Havia dois anos que decidi obtê-la. Ela era muito ingênua, dizia tudo sem pensar e eu nada falava, quando dizia era só invenção.
Não, não sou canalha, moças. Só pensei em protegê-la. Aos meus olhos, parecia tão indefesa. Queria contar-lhe meus anos vividos, porém todas as vezes que eu tentava me pronunciar, ela pedia que eu a empurrasse no balanço. Que sofrimento. Quisera eu ter dito antes...
Nos conhecemos no parque perto da casa de meu pai. Eu estava lendo e ela correndo por aí. Só parou quando tropeçou em meu pé. Aí viramos amigos em um só olhar.
Certa vez, quando faziámos piquenique, ela deixou escapar que estava apaixonada. Eu me irei de maneira tão brusca que, acreditem, quebrei todos os biscoitos. Ela ficou mais brava ainda e me bateu. Cecília era um doce, mas se estressava, facilmente. Chegava a ser engraçado - ou tenebroso.
Há alguns anos atrás -10 para ser mais exato - sentei-me com minha pequena criação para dizer-lhe quem sou e de onde vim. Ela estava completando seus 18 aninhos, e eu já passava dos 50. Sim, meus caros, eu esperei que ela alcançasse a maioridade para explicar-lhe os motivos de tudo.Havia dois anos que decidi obtê-la. Ela era muito ingênua, dizia tudo sem pensar e eu nada falava, quando dizia era só invenção.
Não, não sou canalha, moças. Só pensei em protegê-la. Aos meus olhos, parecia tão indefesa. Queria contar-lhe meus anos vividos, porém todas as vezes que eu tentava me pronunciar, ela pedia que eu a empurrasse no balanço. Que sofrimento. Quisera eu ter dito antes...
Nos conhecemos no parque perto da casa de meu pai. Eu estava lendo e ela correndo por aí. Só parou quando tropeçou em meu pé. Aí viramos amigos em um só olhar.
Certa vez, quando faziámos piquenique, ela deixou escapar que estava apaixonada. Eu me irei de maneira tão brusca que, acreditem, quebrei todos os biscoitos. Ela ficou mais brava ainda e me bateu. Cecília era um doce, mas se estressava, facilmente. Chegava a ser engraçado - ou tenebroso.
Sentamos juntos, em um restaurante do centro. Caríssimo. Eu quis agradar, é claro. E comecei a contar meus longos fios brancos.
Disse-lhe que logo quando nos conhecemos, eu havia acabado de sair da prisão. Há 12 anos estava preso, incomunicável. Sem ninguém que se lembrasse da falta que eu fazia. Sem qualquer pessoa que pudesse notar ou cogitar a idéia de que eu estava me sentindo só. E foi nesse tempo, que aprendi a me calar e ouvir.
Ela ficou pálida. Nâo podia acreditar que eu, o homem que sempre respeitou, era uma fora da lei. Eu engoli seco e não desisti de minha missão.
Continuei a dizer que aquele dia - que nos conhecemos - eu estava experimentando a liberdade. Havia comprado um livro na banca e parado no parque para ler. Nem quis pensar como iria me fixar novamente no mundo. Foi quando a vi, correndo, mais livre que eu. Mais que os pássaros. Eu me apaixonei pela inocência, pela liberdade com que corria e sorria (nessa hora ela suavizou a expressão).
Queria dizer que nunca menti, mas omiti tanto a verdade que mentir já nem era o problema central. Não mudaria nada a minha grande enrrolação.
(Escrito e inacabado em 01.03.2009 || Para um querido amigo marcos)
Era verdade que eu quis ter dito tudo naquela exata hora. Quis ferir o silêncio, com a ajuda daquelas gotas fracas que caíam, e ter devolvido tudo o que me dera sem dó e nem maldade. Pensei que fosse te machucar e talvez eu, muda, deveria permanecer na minha inquietude monótona. E se te dissesse não passaria de um sorriso escrito, dito apenas com as mãos. Cortei a dor pela raiz e a enterrei bem dentro de mim.
"Tinhas, como sempre, um forte poder sobre mim. Tomava-me pelas mãos sem nem mexer teus braços. Bem, quando eu nem me toquei, achando que eras tu, soube que sonhava contigo, mas só fui acordar hoje."
"Tinhas, como sempre, um forte poder sobre mim. Tomava-me pelas mãos sem nem mexer teus braços. Bem, quando eu nem me toquei, achando que eras tu, soube que sonhava contigo, mas só fui acordar hoje."
(Escrito em 28.12.2008)
Cantarei de Saudade
Esse amor que é só nosso
Meu e seu, Humanidade
Esse amor que é só nosso
Meu e seu, Humanidade
Na busca do colosso
Colosso colossal é nosso é grande trasncede a alma me rasga pura limpida pinta de sangue paixão arranha quebra explode entropece insano fere doi mas sana conserta um misto s x loucura insanidade prazer somos nós mundo acerca de todos os assuntos confusos sem vírgula e nem paragrafo procurando a saída de um livro interminável da vida que exige quarenta ou cinqueta milhões bilhões trintomilhões de palavras se é que existe existiu diz e há escreve e inventa nosso universo poetas poetisas marginais artes seres todos vivemos no mesmo vaso sanitário.
Colosso colossal é nosso é grande trasncede a alma me rasga pura limpida pinta de sangue paixão arranha quebra explode entropece insano fere doi mas sana conserta um misto s x loucura insanidade prazer somos nós mundo acerca de todos os assuntos confusos sem vírgula e nem paragrafo procurando a saída de um livro interminável da vida que exige quarenta ou cinqueta milhões bilhões trintomilhões de palavras se é que existe existiu diz e há escreve e inventa nosso universo poetas poetisas marginais artes seres todos vivemos no mesmo vaso sanitário.
Não vês que és semideus?
Na Força,
na Alma,
no vir e ir,
no estar aqui,
no acesso a Deus.
Na Beleza,
na Áurea,
na voluptuosa dança.
Brincas, saltas,
Inocência
Faze-se de pilastra,
pobre Criança
Não sabe que é semideus.
Na Força,
na Alma,
no vir e ir,
no estar aqui,
no acesso a Deus.
Na Beleza,
na Áurea,
na voluptuosa dança.
Brincas, saltas,
Inocência
Faze-se de pilastra,
pobre Criança
Não sabe que é semideus.
por tamanha indecisão,
falsa insensata
tão sisuda e sem graça
tentou ser aloprada
fingiu moldes estratégicos
para tentar cantar o verso
roubou a forma, a rima e a perfeição
tentou ser o que não lhe era bom
caiu
tenha dó, vida
dessa alma tão cansada
procurou e não achou
quem era
por que era
e para quem era
o ser já nem lhe parecia certo
quando não se arte fazia
ou o contrário
do muro pulou e caiu de novo
no lado certo - cair era abster-se
falsa insensata
tão sisuda e sem graça
tentou ser aloprada
fingiu moldes estratégicos
para tentar cantar o verso
roubou a forma, a rima e a perfeição
tentou ser o que não lhe era bom
caiu
tenha dó, vida
dessa alma tão cansada
procurou e não achou
quem era
por que era
e para quem era
o ser já nem lhe parecia certo
quando não se arte fazia
ou o contrário
do muro pulou e caiu de novo
no lado certo - cair era abster-se
Entenda, somos arte. Todos nós. Moldados e esculpidos por tamanha perfeição. Mas nós mesmos nos estragamos. A arte pela arte se destroi. Quanto mais quem diria, as obras de nossos renascentistas em um ringue de batalha. Apenas sufocariam-se, por tanta beleza, por tanto brilharem. Somos obras divinas. Temos o direito do céu, de vencer. Somos arte. Nascemos para fazer a diferença ou se juntar aos iguais, tanto faz. Devemos ser arte, isso basta.
Se eu nem sei o que sinto, quem dirá descrevê-lo. É um misto de todas as poesias.
04 de fevereiro de 2065
Mais um dia acordei. Quer dizer, espero ter acordado. Ilusão e realidade se confundem nesse lugar. É o fim. Tudo tão trágico, começo a perder a capacidade de identificar cores. Cada vez mais preto e branco. Preto no branco. Agora todos podem entender, pois todos vivem essa miséria. Os republicanos podem ver, digo, sentir que suas decisões tão encobertas os levaram ao abismo. E que abismo. Tyran a cada dia desrespeita o mundo. Tento imaginar sua concepção de mundo e humanidade, o cara é louco (Ainda sei gírias!). Penso que sua mansão deve ser de ouro, ouro branco. Dourado já nem vejo.
Porém, hoje manifestou-se em mim algo que não sentia há muito tempo: fui me pesar. Estava preocupada comigo mesma. Estranho. 40 Kilos. Achei absurdo, mas de tanto absurdo ficou normal. Solidão, vícios, suicídio, incesto, protituição... Tanto faz, era tudo normal. Forcei e consegui me lembrar daquele ditado que minha avó dizia: uma mentira repetida muitas vezes, torna-se verdade. Acho que era isso e se não fosse, virou.
Olho da janela e imagino quem pode estar vivendo bem. Tyran e seus aliados, os governantes dos outros continentes. Lembrei-me dos assuntos de minha avó, daquela alegria pela descoberta de mil e uma tecnologias que nem sei mais o nome. Músicas, tudo moderno. Sociedade aceitando de tudo. É passado. Esperança foi embora, junto com o senso crítico, junto com a vida.
Nem sei que data era, ou se estava perto de algum dia que costumava ser festivo, mas a vontade de estar em família me dominou. acabei por encarar uma velha fotografia, que enquadrava minha velha infância, minha velha família. Meu velho mundo.
Parece que tenho cem anos. Quanta coisa mudou.
Porém, hoje manifestou-se em mim algo que não sentia há muito tempo: fui me pesar. Estava preocupada comigo mesma. Estranho. 40 Kilos. Achei absurdo, mas de tanto absurdo ficou normal. Solidão, vícios, suicídio, incesto, protituição... Tanto faz, era tudo normal. Forcei e consegui me lembrar daquele ditado que minha avó dizia: uma mentira repetida muitas vezes, torna-se verdade. Acho que era isso e se não fosse, virou.
Olho da janela e imagino quem pode estar vivendo bem. Tyran e seus aliados, os governantes dos outros continentes. Lembrei-me dos assuntos de minha avó, daquela alegria pela descoberta de mil e uma tecnologias que nem sei mais o nome. Músicas, tudo moderno. Sociedade aceitando de tudo. É passado. Esperança foi embora, junto com o senso crítico, junto com a vida.
Nem sei que data era, ou se estava perto de algum dia que costumava ser festivo, mas a vontade de estar em família me dominou. acabei por encarar uma velha fotografia, que enquadrava minha velha infância, minha velha família. Meu velho mundo.
Parece que tenho cem anos. Quanta coisa mudou.
30 de janeiro de 2065
A fascinação por números, lembrou-me de olhar a hora. Ainda que eu não tivesse um relógio, saberia que era momento de encontra-me. Não sei, porém, o complemento da frase anterior, mas alegria é sempre bem-vinda e meus anseios não passam de um clichê por liberdade e fraternidade ou paz e amor.
Quatorze horas, vinte e três minutos e dez segundos, onze segundos, doze segundos. A velocidade do tempo me embrulha o estômago. Há um espelho olhando meu corpo desnudo. Observo a vil matéria de que sou feita: carne, cor, luz. Penso, logo existo.
Braços finos, perfurados por um calmante, um relaxante. Droga. Pêlos que me lembram da origem, dos macacos. Minha íris e meu cabelo arrancam-me lágrimas. Eu me senti idêntica a minha mãe. Esta que vôou para os jardins suspensos. Maneira poética de dizer que seu antigo namorado a encheu de porrada até vê-la sangrar a alma.
Eu nunca quis usar drogas, nunca pensei em fazer essas coisas. Mas se os astros fizeram questão de me tirar o fôlego, vivo como zumbi. Vagando, vagando. Tentando me achar. Por que eu nunca disse a ninguém? Porque é o meu remédio, minha salvação. Fujo para um universo paralelo, em busca de felicidade e a encontro, pois nesse inferno não há mais luz.
Depois escrevo mais sobre o futuro da humanidade. Até, quem sabe, amanhã.
Quatorze horas, vinte e três minutos e dez segundos, onze segundos, doze segundos. A velocidade do tempo me embrulha o estômago. Há um espelho olhando meu corpo desnudo. Observo a vil matéria de que sou feita: carne, cor, luz. Penso, logo existo.
Braços finos, perfurados por um calmante, um relaxante. Droga. Pêlos que me lembram da origem, dos macacos. Minha íris e meu cabelo arrancam-me lágrimas. Eu me senti idêntica a minha mãe. Esta que vôou para os jardins suspensos. Maneira poética de dizer que seu antigo namorado a encheu de porrada até vê-la sangrar a alma.
Eu nunca quis usar drogas, nunca pensei em fazer essas coisas. Mas se os astros fizeram questão de me tirar o fôlego, vivo como zumbi. Vagando, vagando. Tentando me achar. Por que eu nunca disse a ninguém? Porque é o meu remédio, minha salvação. Fujo para um universo paralelo, em busca de felicidade e a encontro, pois nesse inferno não há mais luz.
Depois escrevo mais sobre o futuro da humanidade. Até, quem sabe, amanhã.
Que me desculpem os alegres. Os que acabaram de casar, os que foram promovidos, os que tiveram um filho... Que me desculpem os que receberam aumento, ganharam um prêmio ou foram os primeiros... Estou com a metade do copo vazia.
Mente fazia é oficina do mal, mesmo. Como dizem. O passado regressou, como um rival violento, armado dos pés à cabeça, de arco e flecha à bomba atômica. Rasgou-me os fios do tecido do coração e da memória, quebrou todos os quadros e disse que eu havia perdido as chances de ser feliz.
Quanta destruição para uma pequena como eu. Mas eu lhe dei ouvidos. Nostalgia estúpida. Larguei tudo o me fazia bem. Perdi minhas chances e pior, fui substituída por algo bem... melhor.
Não é dramático? Sem vida? É. E eu estou aqui. Sentindo, doendo, sem poder gritar para ninguém. Na verdade, preciso ouvir uns casos piores. Uma cara espancada, uma filha estuprada... Quem sabe assim eu não tome vergonha na minha cara pálida e pare de sofrer por bobeira.
Sinto muito pessoas felizes, mas estou triste nesse segundo. Até derramei umas lágrimas. Eu também sou como vocês, alegre...Só que me toquei do copo. Metade vazio e refleti.
Que seja.
Mente fazia é oficina do mal, mesmo. Como dizem. O passado regressou, como um rival violento, armado dos pés à cabeça, de arco e flecha à bomba atômica. Rasgou-me os fios do tecido do coração e da memória, quebrou todos os quadros e disse que eu havia perdido as chances de ser feliz.
Quanta destruição para uma pequena como eu. Mas eu lhe dei ouvidos. Nostalgia estúpida. Larguei tudo o me fazia bem. Perdi minhas chances e pior, fui substituída por algo bem... melhor.
Não é dramático? Sem vida? É. E eu estou aqui. Sentindo, doendo, sem poder gritar para ninguém. Na verdade, preciso ouvir uns casos piores. Uma cara espancada, uma filha estuprada... Quem sabe assim eu não tome vergonha na minha cara pálida e pare de sofrer por bobeira.
Sinto muito pessoas felizes, mas estou triste nesse segundo. Até derramei umas lágrimas. Eu também sou como vocês, alegre...Só que me toquei do copo. Metade vazio e refleti.
Que seja.
Everytime a see your eyes and your face with this little crazy beard, I have to confess... I feel mad. Totally lose control. But you can't see these things, because i don't share... That's my choice, but i can't deny... You are amazing.
E se eu tivesse alguma coisa para vender
Um rádio, um pátio, uma tevê
Vendia tudo e ia aí te ver
Abria mão do que me dizem que é
Do frio, do riso e da maré
Só freio, no carro e a marcha-ré
A estrada à espera de uma bela donzela
Intensa, uma louca, moleca
No rosto um sorriso à cautela
E ia, sozinha. Acabou a rima.
Ao encontro, do que tanto lhe custou
Era quem que merecia tanto amor?
Era ela, a liberdade em forma de ar.
Um rádio, um pátio, uma tevê
Vendia tudo e ia aí te ver
Abria mão do que me dizem que é
Do frio, do riso e da maré
Só freio, no carro e a marcha-ré
A estrada à espera de uma bela donzela
Intensa, uma louca, moleca
No rosto um sorriso à cautela
E ia, sozinha. Acabou a rima.
Ao encontro, do que tanto lhe custou
Era quem que merecia tanto amor?
Era ela, a liberdade em forma de ar.
O Sol estava dizendo adeus, quando ela, sorridente e cansada da vida trágica que criou, estendia seus bonitos olhos ao distante horizonte sobre o lago. Alguns cascalhos encontraram as palmas de suas mãos enquanto uma doce velhinha alimentava os pombos.
Riu, novamente. Uma sinfonia parecia acompanhar seus passos. Dois bonitos adolescentes se beijavam, esperando os últmos raios da primavera. Ela sussurrou, para o vento levar:
- Não acredite.
Nada iria lhe tirar o sorriso de uma vida vivida. Cheia de realizações e frustrações, bem do jeito que quis. Um casal, jovem, com dentes cintilantes, comemorava o tamanho da barriga da moça. Parecia ter gostado. A experiência de ser mãe é sempre única para cada uma que a vive.
Sentia-se, enfim, realizada. Viveu uma época estranha, difícil de criar uma identidade. Muitas coisas surgiram e sumiram ao mesmo tempo.
Ria, de novo e de novo. Das desventuras de ter passado seu colegial num bairro nobre, negando seu status. Depois, sorriu de canto relembrando os amores que perdeu, que negou ou que estragou. Uma pitada de si era sempre overdose para os homens, costumava dizer.
Afinal, tornou-se o que sempre quis: uma mulher sábia. Seus netos ficavam inertes quando dava a entonação certa de um novo conto. Era amada. Seus filhos a amavam, seus ex-colegas de trabalho a respeitavam, seu marido era apaixonado por quem se tornara. Reclamar de quê? Da indecisão na primavera, do medo no inverno, das loucuras do verão? Tanto faz, agora já foi...
E por quanto tempo mais esperasse, só isso ela dizia, alegre como deveria ser:
- Já foi.
Depois de alguns minutos, sentada no banco do parque, um toque leve lhe encostou o ombro. Não era ninguém além de seu amado, desculpando-se pela demora. Comprou café. Que tarde maravilhosa tinha sido aquela. Era essa, então, a vida de um velho. Não rejeitado, não excluído, mas amado.
- De todas as decisões que tomei, você foi o único que soube tirar minhas indecisões. Obrigada por esta vida maravilhosa.
Foi assim que disse a seu fiel companheiro. Abraçados, num frio íntimo que resolveu chegar com a noite.
Riu, novamente. Uma sinfonia parecia acompanhar seus passos. Dois bonitos adolescentes se beijavam, esperando os últmos raios da primavera. Ela sussurrou, para o vento levar:
- Não acredite.
Nada iria lhe tirar o sorriso de uma vida vivida. Cheia de realizações e frustrações, bem do jeito que quis. Um casal, jovem, com dentes cintilantes, comemorava o tamanho da barriga da moça. Parecia ter gostado. A experiência de ser mãe é sempre única para cada uma que a vive.
Sentia-se, enfim, realizada. Viveu uma época estranha, difícil de criar uma identidade. Muitas coisas surgiram e sumiram ao mesmo tempo.
Ria, de novo e de novo. Das desventuras de ter passado seu colegial num bairro nobre, negando seu status. Depois, sorriu de canto relembrando os amores que perdeu, que negou ou que estragou. Uma pitada de si era sempre overdose para os homens, costumava dizer.
Afinal, tornou-se o que sempre quis: uma mulher sábia. Seus netos ficavam inertes quando dava a entonação certa de um novo conto. Era amada. Seus filhos a amavam, seus ex-colegas de trabalho a respeitavam, seu marido era apaixonado por quem se tornara. Reclamar de quê? Da indecisão na primavera, do medo no inverno, das loucuras do verão? Tanto faz, agora já foi...
E por quanto tempo mais esperasse, só isso ela dizia, alegre como deveria ser:
- Já foi.
Depois de alguns minutos, sentada no banco do parque, um toque leve lhe encostou o ombro. Não era ninguém além de seu amado, desculpando-se pela demora. Comprou café. Que tarde maravilhosa tinha sido aquela. Era essa, então, a vida de um velho. Não rejeitado, não excluído, mas amado.
- De todas as decisões que tomei, você foi o único que soube tirar minhas indecisões. Obrigada por esta vida maravilhosa.
Foi assim que disse a seu fiel companheiro. Abraçados, num frio íntimo que resolveu chegar com a noite.
Alguns versos não fazem sentido nem para quem os fez, existem só para confundir.
Tens flores, onde era para haver teus cachos?
Tens rubi, onde era para haver teus olhos?
És feita de pão e mel ou de cera fria?
Em verdade, em verdade, vos digo
À semelhança do barro do vaso de Maria, eu sou.
Tens rubi, onde era para haver teus olhos?
És feita de pão e mel ou de cera fria?
Em verdade, em verdade, vos digo
À semelhança do barro do vaso de Maria, eu sou.
Há vontades tão ocultas que só o oculto as revela. Diante de uma cegueira noturna, é permitido o que é proibido. É por isso que as pessoas gostam da noite, saem à noite, divertem-se insanas à noite e se acabam na escuridão. Quanto conceito para pouca teoria.
Tudo preto. Vermelho, verde e azul. Todas as cores ausentes em um só: preto. Sem luz, de que adianta? O sorriso não é sorriso e a chama é apagada. As coisas existem, mas só as vemos com luz.
E é por isso que eu gosto de ser luz. Não que eu faça existir algo, mas eu as mostro. Só vê, com luz (repito). Dessa vez, todas as cores absorvidas em um só: branco.
Tudo preto. Vermelho, verde e azul. Todas as cores ausentes em um só: preto. Sem luz, de que adianta? O sorriso não é sorriso e a chama é apagada. As coisas existem, mas só as vemos com luz.
E é por isso que eu gosto de ser luz. Não que eu faça existir algo, mas eu as mostro. Só vê, com luz (repito). Dessa vez, todas as cores absorvidas em um só: branco.
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Eu tenho uma correspondente. Nada de simetria, nada de horóscopo e nem alma-gêmea. Eu falo de cartas. É para ela que, nos dias de chuva, declaro minhas tristezas e quando tem muita música, descrevo tudo depois da festa.
Tanto faz se pouco sabemos uma da outra e se a passagem de lá pra cá custa um preço alto. O que nos interessa é a vontade de escrever para um alguém que irá ler cada minúscula letra grafada. E aí está o verbo principal de nossa história: ler.
A necessidade que um escritor tem de ser lido é imensa, mas dói quando não acontece. É melhor, então, nem pensar.
Costumávamos ser amigas íntimas. Assim, distantes pela geografia, ligadas pela literatura (e pela tecnologia, também!). Ainda somos. Não é preciso muitas palavras de consolo, apenas o relato da vida cotidiana mostra uma preocupação constante e uma necessidade mútua de saber como vai você.
E agora, ou mesmo depois, estou indo ao correio, com sorriso de-ponta-a-ponta, inserindo-me e encontrando-me cada vez mais no cenário de um filme romântico, que, com teor infantil, conta a história de um ser, vivente, brasileiro e que respira: eu.
Sempre quis fazer parte de um filme. Porque, para nós, a nova vida é tão sem graça ou extrema que não desperta tanto interesse quanto uma história, podendo até ser menos agitada, mas que foi contada num tom meigo e sedutor. Ao olhar de um cinegrafista...
Talvez para Cazuza a vida dele não fosse nada demais, mas, durante instantes, o filme tornou a minha vivência nula.
Um pouco embolada e apressada, tô tentando dizer que me orgulho da minha pequena correspondente. Aliás, ela parece uma boneca, mas vai para Londres ano que vem. E eu ficarei sem ninguém para desabafar meus futuros suspiros universitários.
De qualquer forma, o cep está guardado.
Tanto faz se pouco sabemos uma da outra e se a passagem de lá pra cá custa um preço alto. O que nos interessa é a vontade de escrever para um alguém que irá ler cada minúscula letra grafada. E aí está o verbo principal de nossa história: ler.
A necessidade que um escritor tem de ser lido é imensa, mas dói quando não acontece. É melhor, então, nem pensar.
Costumávamos ser amigas íntimas. Assim, distantes pela geografia, ligadas pela literatura (e pela tecnologia, também!). Ainda somos. Não é preciso muitas palavras de consolo, apenas o relato da vida cotidiana mostra uma preocupação constante e uma necessidade mútua de saber como vai você.
E agora, ou mesmo depois, estou indo ao correio, com sorriso de-ponta-a-ponta, inserindo-me e encontrando-me cada vez mais no cenário de um filme romântico, que, com teor infantil, conta a história de um ser, vivente, brasileiro e que respira: eu.
Sempre quis fazer parte de um filme. Porque, para nós, a nova vida é tão sem graça ou extrema que não desperta tanto interesse quanto uma história, podendo até ser menos agitada, mas que foi contada num tom meigo e sedutor. Ao olhar de um cinegrafista...
Talvez para Cazuza a vida dele não fosse nada demais, mas, durante instantes, o filme tornou a minha vivência nula.
Um pouco embolada e apressada, tô tentando dizer que me orgulho da minha pequena correspondente. Aliás, ela parece uma boneca, mas vai para Londres ano que vem. E eu ficarei sem ninguém para desabafar meus futuros suspiros universitários.
De qualquer forma, o cep está guardado.
Estou de saco cheio, de novo. Até o final do ano, ou o ínicio do próximo. O vestibular tá sendo um fardo tão pesado que tô ficando mais torta que o normal.
Tá, mas hoje vou falar sobre redação. A coisa mais ridícula do vestibular é a redação. Na verdade, eu tô afim é de criticar.
Porque me pedem para resumir uma opinião, uma história bombástica, uma crítica, representativa, brilhante e imprevisível em 20 linhas. As belas e tortuosas vinte linhas.
É, claro que ninguém vai exigir que você seja um escritor brilhante, mas em se tratando de gramaticidade, coesão e coerência, parágrafo, vírgula e adequação ao tema... Bem, isso qualquer um faz. Haha.
Porque afinal, os melhores textos e livros foram breves e curtos, certo? Não, errado de novo. Só "Os Lusíadas" tem 1.102 estrofes, a menor edição de "Dom Casmurro" que já ouvi dizer tinham 180 páginas. "Ensaio sobre a cegueira"? 300, 200 páginas, não importa. Os contos de Rubem Fonseca em "Feliz Ano Novo" tinham pelo menos duas páginas, cada.
Não, não tô dizendo que um texto bom deve ser longo. Deus me livre. Mas exigindo tanta coisa, eu precisaria de, pelo menos, dez linhas a mais.
Aí a minha professora de redação, uma fofis por sinal, me dá nota máxima numa redação que achei sem graça, rápida, bruta e tosca (?). É.
Imagino é que a banca de correção deve vigiar os pré-vestibulandos, idealizando planos maléficos, rindo, tomando café com o dedo mindinho levantado e rindo mais ainda, com um raio do mal atrás, para enfatizar a maldade. Um ciclo.
Voltando ao assunto: a redação. Algumas pessoas dizem que escrevo bem e eu quero escrever bem. Quero ser uma jornalista de excelência, mas a redação do vestibular é um monstro e destrói todas as nossas espectativas.
Se eu fosse escrever para um jornal, para uma coluna ou mesmo uma carta eu sei, nada de vinte linhas, nada de modelo pronto, nada disso. Tudo criativo.
"Ah, mas é isso mesmo que eles querem avaliar, seu potencial de desenvolver uma redação em..." Ah, me poupe, né? Porque eu faço o que posso e me exigem um machado de assis, um veríssimo. Ou quando dou uma de machado, me exigem um aluno do ensino médio.
É tudo proposital, mas sentido? Não tem.
E outra, que nome horrível, né? Nunca que Suassuna iria fazer uma redação, não. Ele conta, ele escreve textos, escreve história!
Ah, se Clarice tivesse vivido no meu ano de vestibular. Ah, se Cazuza fosse ter que entrar na universidade pra ter conseguido seu valor. Ah, vida cruel.
Tá, mas hoje vou falar sobre redação. A coisa mais ridícula do vestibular é a redação. Na verdade, eu tô afim é de criticar.
Porque me pedem para resumir uma opinião, uma história bombástica, uma crítica, representativa, brilhante e imprevisível em 20 linhas. As belas e tortuosas vinte linhas.
É, claro que ninguém vai exigir que você seja um escritor brilhante, mas em se tratando de gramaticidade, coesão e coerência, parágrafo, vírgula e adequação ao tema... Bem, isso qualquer um faz. Haha.
Porque afinal, os melhores textos e livros foram breves e curtos, certo? Não, errado de novo. Só "Os Lusíadas" tem 1.102 estrofes, a menor edição de "Dom Casmurro" que já ouvi dizer tinham 180 páginas. "Ensaio sobre a cegueira"? 300, 200 páginas, não importa. Os contos de Rubem Fonseca em "Feliz Ano Novo" tinham pelo menos duas páginas, cada.
Não, não tô dizendo que um texto bom deve ser longo. Deus me livre. Mas exigindo tanta coisa, eu precisaria de, pelo menos, dez linhas a mais.
Aí a minha professora de redação, uma fofis por sinal, me dá nota máxima numa redação que achei sem graça, rápida, bruta e tosca (?). É.
Imagino é que a banca de correção deve vigiar os pré-vestibulandos, idealizando planos maléficos, rindo, tomando café com o dedo mindinho levantado e rindo mais ainda, com um raio do mal atrás, para enfatizar a maldade. Um ciclo.
Voltando ao assunto: a redação. Algumas pessoas dizem que escrevo bem e eu quero escrever bem. Quero ser uma jornalista de excelência, mas a redação do vestibular é um monstro e destrói todas as nossas espectativas.
Se eu fosse escrever para um jornal, para uma coluna ou mesmo uma carta eu sei, nada de vinte linhas, nada de modelo pronto, nada disso. Tudo criativo.
"Ah, mas é isso mesmo que eles querem avaliar, seu potencial de desenvolver uma redação em..." Ah, me poupe, né? Porque eu faço o que posso e me exigem um machado de assis, um veríssimo. Ou quando dou uma de machado, me exigem um aluno do ensino médio.
É tudo proposital, mas sentido? Não tem.
E outra, que nome horrível, né? Nunca que Suassuna iria fazer uma redação, não. Ele conta, ele escreve textos, escreve história!
Ah, se Clarice tivesse vivido no meu ano de vestibular. Ah, se Cazuza fosse ter que entrar na universidade pra ter conseguido seu valor. Ah, vida cruel.
Fiquei meio, ou talvez completamente, sem rumo. Perdida, à beira do rio. Apertada para ir ao banheiro, pensando em nada. Foi o mês de Abril. Que mês vazio, cheio de exercícios de vestibulares, mudanças bruscas e intervenções do fabuloso e admirável MEC.
Estudar e estudar. É o que estou fazendo. Vivendo a agonia de ser pré-vestibulando. Pensei que nunca fosse chegar e agora parece uma eternidade, que passa voando. Não tem figura de linguagem, só vida.
E agora, depois de me sentir corroída por lutar pelas 60 questões - que nunca, ninguém as acertou cem por cento - , o filho de uma linda mãe, o ministro da "educação" vem e me dá duzentas questões (+ redação). Eu dou conta, claro. Mas só porque me foi imposto. Os veteranos não ligam, os pais não ligam, o governo prefere, os professores aceitam, os mais novos nem sabem e nós, vítimas, onde estamos nessa história toda?
A tortura que era, agora parece ter aumentado. Como disse Veríssimo, por que não mandar todos para uma floresta no meio do nada? "Seria mais humano". Foi um choque e não sabia se era bom ou ruim, até agora não sei. Me sinto um rato de laboratório. Cobaia dessa decisão.
O reitor da UFES nem ia aceitar esse negócio esse ano, mas aí o amado ministro oferece o DOBROOO de money. O dobro. Que isso, até eu aceitava. Nas condições que a UFES se encontra, qualquer coisa a mais é lucro e alto. Super avit.
Recapitulando: O MEC, depois de tantas idiotices, tenta fazer algo legal, mudando a prova do ENEM para 200 questões, mais complicadinhas. Agora aborda mais conteúdo, de um jeito mais disfarçado. (Convenhamos, que antes a prova era ridícula, só para estatística e pronto).
Há um fato nessa situação, que pensei que a galera que cuida da "educação" do país não fosse se ligar: o vestibular DEVE mudar. Mas como? Ah cara, eles são pagos para isso. Beleeeeeeza, beleza.
Mas só para esclarecer, esse novo "ENEM" poderá ser usado de quatro formas, uma delas é usar um percentual da nota da prova para a aprovação na primeira fase, como a UFES, meu Deus, já faz! Só aumentar o percentual, a gente faz 260 questões objetivas, 4 redações e 10 questões discursivas (Só para entrar na universidade)!! Genial. Isso, com certeza, vai dar mais oportunidades à todos.
Eu tô falando sério: vou me manifestar.
Estudar e estudar. É o que estou fazendo. Vivendo a agonia de ser pré-vestibulando. Pensei que nunca fosse chegar e agora parece uma eternidade, que passa voando. Não tem figura de linguagem, só vida.
E agora, depois de me sentir corroída por lutar pelas 60 questões - que nunca, ninguém as acertou cem por cento - , o filho de uma linda mãe, o ministro da "educação" vem e me dá duzentas questões (+ redação). Eu dou conta, claro. Mas só porque me foi imposto. Os veteranos não ligam, os pais não ligam, o governo prefere, os professores aceitam, os mais novos nem sabem e nós, vítimas, onde estamos nessa história toda?
A tortura que era, agora parece ter aumentado. Como disse Veríssimo, por que não mandar todos para uma floresta no meio do nada? "Seria mais humano". Foi um choque e não sabia se era bom ou ruim, até agora não sei. Me sinto um rato de laboratório. Cobaia dessa decisão.
O reitor da UFES nem ia aceitar esse negócio esse ano, mas aí o amado ministro oferece o DOBROOO de money. O dobro. Que isso, até eu aceitava. Nas condições que a UFES se encontra, qualquer coisa a mais é lucro e alto. Super avit.
Recapitulando: O MEC, depois de tantas idiotices, tenta fazer algo legal, mudando a prova do ENEM para 200 questões, mais complicadinhas. Agora aborda mais conteúdo, de um jeito mais disfarçado. (Convenhamos, que antes a prova era ridícula, só para estatística e pronto).
Há um fato nessa situação, que pensei que a galera que cuida da "educação" do país não fosse se ligar: o vestibular DEVE mudar. Mas como? Ah cara, eles são pagos para isso. Beleeeeeeza, beleza.
Mas só para esclarecer, esse novo "ENEM" poderá ser usado de quatro formas, uma delas é usar um percentual da nota da prova para a aprovação na primeira fase, como a UFES, meu Deus, já faz! Só aumentar o percentual, a gente faz 260 questões objetivas, 4 redações e 10 questões discursivas (Só para entrar na universidade)!! Genial. Isso, com certeza, vai dar mais oportunidades à todos.
Eu tô falando sério: vou me manifestar.
HUNF!
eu estou tentando crescer no tempo certo. não sou famosa. não tenho talentos incríveis. não sou prodígio. não corro demais, nem de menos. não escrevo bem, não desenho bem. tenho boa oratória, mas não me vendo. estou só de passagem. eu não sei nada de espetacular. esqueço datas importantes, esqueço datas piquirruchas. almoço frango, cozinho batata. não tenho nada demais. só sei o que me ensinam. aprendo com a vida. teoria pra mim é papo furado, mas gosto de saber. não faço o que não é para eu fazer, só o que quero. gosto de crescer, acho normalíssimo (se é que existe esse superlativo). não estou fazendo anúncio, só me conhecendo.
vivo amando e basta. conhecimento ou não: amo-me. sou exageradamente romântica. prefiro assim, a saber toda história sem amor. falo demais, falo o que não tem para falar. invento teses no momento da fala, depois desenvento. não tenho tantas oportunidades, quanto queria. meu tempo tá chegando. para elas veio cedo.
rôo unha, sou torta (não-comestível). tenho manias. adoro pintar o cabelo, ser diferente. bomba-relógio: eu. indecisa-decidida (haha). detesto meu cabelo, meu sorriso e meus pés. estudo muito. leio menos do que eu queria.
não sou doente: tiro meleca, arroto e solto pum... nas horas certas, claro. sou separada para Deus, ou melhor, santa. creio. não sou hipócrita. sou muito sincera. expressiva. intensa. exagerada.
não discrimino. talvez tenha algum preconceito, é claro. poucos, pouquíssimos. não sou ninguém de se admirar. não sou culta, não sou nerd. mas acredito, verdadeiramente, que a minha humildade me revela.
tenho cabeça aberta, defendo minhas verdades e as divulgo. sei persuadir. sou legal, mas não boba. se tiver que falar, eu falo. mas evito tratar as pessoas mal. não importa o que aconteça.
não sei manter amizades, mas vivo correndo atrás. estrago tudo, sem querer. quero-sem-poder. eterna criança em fase de crescimento. brasileira fiel. eu sou e mais...
vivo amando e basta. conhecimento ou não: amo-me. sou exageradamente romântica. prefiro assim, a saber toda história sem amor. falo demais, falo o que não tem para falar. invento teses no momento da fala, depois desenvento. não tenho tantas oportunidades, quanto queria. meu tempo tá chegando. para elas veio cedo.
rôo unha, sou torta (não-comestível). tenho manias. adoro pintar o cabelo, ser diferente. bomba-relógio: eu. indecisa-decidida (haha). detesto meu cabelo, meu sorriso e meus pés. estudo muito. leio menos do que eu queria.
não sou doente: tiro meleca, arroto e solto pum... nas horas certas, claro. sou separada para Deus, ou melhor, santa. creio. não sou hipócrita. sou muito sincera. expressiva. intensa. exagerada.
não discrimino. talvez tenha algum preconceito, é claro. poucos, pouquíssimos. não sou ninguém de se admirar. não sou culta, não sou nerd. mas acredito, verdadeiramente, que a minha humildade me revela.
tenho cabeça aberta, defendo minhas verdades e as divulgo. sei persuadir. sou legal, mas não boba. se tiver que falar, eu falo. mas evito tratar as pessoas mal. não importa o que aconteça.
não sei manter amizades, mas vivo correndo atrás. estrago tudo, sem querer. quero-sem-poder. eterna criança em fase de crescimento. brasileira fiel. eu sou e mais...
I may change, because I have to change. It's not because of you. I wake up every morning, knowing in that day, i will change. That's the way, life goes on.
Olhe a sua volta, alguém fez isso tudo antes de nascermos. Não fui eu. Nenhum de nós, seres humanos. E eu admito, reconheço que foi alguém acima de mim. Soberano, Deus. Não é sobre religião que falo. E sim, sobre ser uma boa pessoa. Sabe? E ser uma boa pessoa não é só ajudar os outros, não é apenas sorrir para alguém. Porque é muito fácil dar um sorriso, mas o difícil é morrer para si mesmo por alguém que fez tudo para você. Não, não tô falando de igreja, nem de protestantismo.
Poxa. A gente erra tanto, estraga tudo o que Ele fez. A gente peca. Eu sou uma pecadora e vou ser até o dia da minha morte. Como me desculpar por isso? Como? Fazendo ofertas, sacrifícios. Mas Deus, com sua misericórdia (ainda não entendo isso haha), viu que nenhum sacrifício seria suficiente - porque Ele é IMENSO - enviou seu primeiro e único filho para morrer por nós. Então, você pode vir e dizer que você teria coragem para fazer isso por alguém também. Claro, eu também teria. O negócio é que Ele (Jesus) veio pelos meus pecados. O Cara nem me conhecia. Mas Ele veio, como homem, foi humilhado, ridicularizado, perseguido, espancado, sofreu e morreu da maneira mais ridícula e desprezada, na época: na cruz. E ainda assim, não reclamou, teve misericórdia até seu último dia de vida. Você tem noção do que isso significa?
Eu quero dizer...Bem, falam de amor até enjoar, mas amor como esse, não há igual. Como eu posso ignorar isso? Desculpe se eu te magoei, mas tem alguém que fez algo muito maior por mim. Como posso ficar calada? Eu iria estar condenada, mas Ele me livrou de toda condenação e sou livre.
Como eu ainda posso ser tão má ao ponto de pecar conscientemente? Como ser tão desumana? Ignorando o que Ele fez por mim. Desculpe, de novo, mas eu não farei isso.
Não é sobre religião, é sobre a verdade. Sobre ser livre, sobre ser bom.
Poxa. A gente erra tanto, estraga tudo o que Ele fez. A gente peca. Eu sou uma pecadora e vou ser até o dia da minha morte. Como me desculpar por isso? Como? Fazendo ofertas, sacrifícios. Mas Deus, com sua misericórdia (ainda não entendo isso haha), viu que nenhum sacrifício seria suficiente - porque Ele é IMENSO - enviou seu primeiro e único filho para morrer por nós. Então, você pode vir e dizer que você teria coragem para fazer isso por alguém também. Claro, eu também teria. O negócio é que Ele (Jesus) veio pelos meus pecados. O Cara nem me conhecia. Mas Ele veio, como homem, foi humilhado, ridicularizado, perseguido, espancado, sofreu e morreu da maneira mais ridícula e desprezada, na época: na cruz. E ainda assim, não reclamou, teve misericórdia até seu último dia de vida. Você tem noção do que isso significa?
Eu quero dizer...Bem, falam de amor até enjoar, mas amor como esse, não há igual. Como eu posso ignorar isso? Desculpe se eu te magoei, mas tem alguém que fez algo muito maior por mim. Como posso ficar calada? Eu iria estar condenada, mas Ele me livrou de toda condenação e sou livre.
Como eu ainda posso ser tão má ao ponto de pecar conscientemente? Como ser tão desumana? Ignorando o que Ele fez por mim. Desculpe, de novo, mas eu não farei isso.
Não é sobre religião, é sobre a verdade. Sobre ser livre, sobre ser bom.
quem dera
e se me dera
um beijo
amigo
passivo
ontem não
amanhã jamais
apenas quimera
para o resto
da primavera
e se me dera
um beijo
amigo
passivo
ontem não
amanhã jamais
apenas quimera
para o resto
da primavera
Quem vem aqui ler, raramente, ou já leu e tá voltando agora. Ah, sei lá e tanto faz. Alguém que quiser, visite meu novo blog. Sabe quando não se tem mais o que fazer? São nesses momentos que inventamos as coisas mais loucas. E aí está minha mais nova insana invenção:
parem de prostituir a poesia. leve-a a sério, como quem brinca de ciranda. vocês a vendem por qualquer coisa. para ser conhecido. que adianda? poesia é presente divino. não se iludam escrevendo só sobre o que convém dizer. não. não escreva poemas para inchar um livro. escreva, porque sente. sinta a dor de todo o mundo. é o bastante para milhares de livros. sinta o outro, interesse-se pela vida. aí eu posso crer que você é um poeta. poesia está em tudo. é um estado da matéria, ou melhor... é uma condição. o poema é a tentativa frustrada de tentar passar para palavras o que se sente. é impossível. vocês, escritores e poetas, que acham que escrever é tudo na vida, que é o melhor que há na terra, estão muito enganados. o melhor que há é sentir. sentimento é o que rege o mundo, a humanidade... e os poemas.
a um passo do abismo
aliás
da estrada vertical
que leva a qualquer lugar
que eu deva ir
a vida deixou assim...
sigo.
aliás
da estrada vertical
que leva a qualquer lugar
que eu deva ir
a vida deixou assim...
sigo.
Estava refletindo comigo e pensei em quantas vezes disseram que eu não parecia ter a idade que tenho. Mas o que isso significa, afinal? Estatística?
Ontem foi o dia em que nasci, porém há 17 anos atrás. É bom, mas estranho, ao mesmo tempo. Dormi com 16 e acordei com 17. Em algumas horas, passou-se um ano para mim.
Mas, sinceramente, idade não é algo tão relevante em comparação ao que se tem de conhecimento a oferecer.
Motoristas, precisam de idade. Juízes, precisam de idade. Farmacêuticos, cientistas, pilotos, soldados, marinheiros, desembargadores, servidores do estado... Desses sim é exigida idade pra exercer o seu ofício. Eu não preciso de idade. Nem eles. O estado, o mundo precisa que cresçamos numericamente.
Não me sinto nem acima, nem abaixo. Estou aonde deveria estar, sei o que eu tenho que saber por enquanto e faço o que eu devo fazer. Estou no lugar certo. Onde a vida me colocou. Apenas mais uma mente diferente, no meio de tantas outras.
Olhando por outro ponto de vista, viver o meu décimo sétimo ano será dinâmico apenas pelo fato de que irei fazer vestibular. Se não fosse por isso, seria um ano normal e comum Principalmente, porque quero passar por ele correndo para sentir o gosto da maioridade. O que é, em suma, a função do 17º ano de nossas vidas: um ano de transição, cansativo, mas nobre.
Contudo, daqueles que menos esperamos são os que mais nos surpreendem. É claro. Eu só espero coisas boas da vida, se for em excesso, aí ficarei surpresa.
Falando em surpresa (e mudando o assunto), acho um saco essas festas de aniversário quando não avisam para o aniversariante. Não, não fizeram para mim. Graças a Deus. Me sinto "a" otária, todos rindo e pensando "oba, conseguimos enganá-la", mas sempre com muito amor no coração. Ok. Dispensável.
Ao invés disso, eu saí para comer pizza com pessoas que gosto. Confesso, nem todos os meus amigos me ligaram. Nem todos me deram um abraço. A maioria não veio me ver. Algumas mandaram mensagem SMS, outras pelo MSN. Mas a grande e pesada maioria utilizou o Orkut como ferramenta principal e quase oficial para desejar-me boas coisas.
Eu não me importei e, aliás, não me importo. Quem tem que comemorar o meu aniversário sou eu. Eu que estou comemorando estar viva, eu sei das minhas conquistas e fracassos, sei meus sentimentos, sei o quanto mudei desde que nasci. Eu sei os lugares que fui, eu sei o que sinto ao sentir um cheio ou comer algo. Eu que devo comemorar. Mas sou solidária e divido minha felicidade (e pizzas) com pessoas que têm sido essenciais.
É a vida. Há alguns anos, achava imperdoável não irem a minha festinha de comemoração. Ou melhor, festão.
Quanta coisa boba a gente deixa no caminho. Tantos conceitos novos, um olhar diferente para tudo. Isso sim é motivo de comemoração, isso sim é fazer aniversário.
É amadurecer.
Ontem foi o dia em que nasci, porém há 17 anos atrás. É bom, mas estranho, ao mesmo tempo. Dormi com 16 e acordei com 17. Em algumas horas, passou-se um ano para mim.
Mas, sinceramente, idade não é algo tão relevante em comparação ao que se tem de conhecimento a oferecer.
Motoristas, precisam de idade. Juízes, precisam de idade. Farmacêuticos, cientistas, pilotos, soldados, marinheiros, desembargadores, servidores do estado... Desses sim é exigida idade pra exercer o seu ofício. Eu não preciso de idade. Nem eles. O estado, o mundo precisa que cresçamos numericamente.
Não me sinto nem acima, nem abaixo. Estou aonde deveria estar, sei o que eu tenho que saber por enquanto e faço o que eu devo fazer. Estou no lugar certo. Onde a vida me colocou. Apenas mais uma mente diferente, no meio de tantas outras.
Olhando por outro ponto de vista, viver o meu décimo sétimo ano será dinâmico apenas pelo fato de que irei fazer vestibular. Se não fosse por isso, seria um ano normal e comum Principalmente, porque quero passar por ele correndo para sentir o gosto da maioridade. O que é, em suma, a função do 17º ano de nossas vidas: um ano de transição, cansativo, mas nobre.
Contudo, daqueles que menos esperamos são os que mais nos surpreendem. É claro. Eu só espero coisas boas da vida, se for em excesso, aí ficarei surpresa.
Falando em surpresa (e mudando o assunto), acho um saco essas festas de aniversário quando não avisam para o aniversariante. Não, não fizeram para mim. Graças a Deus. Me sinto "a" otária, todos rindo e pensando "oba, conseguimos enganá-la", mas sempre com muito amor no coração. Ok. Dispensável.
Ao invés disso, eu saí para comer pizza com pessoas que gosto. Confesso, nem todos os meus amigos me ligaram. Nem todos me deram um abraço. A maioria não veio me ver. Algumas mandaram mensagem SMS, outras pelo MSN. Mas a grande e pesada maioria utilizou o Orkut como ferramenta principal e quase oficial para desejar-me boas coisas.
Eu não me importei e, aliás, não me importo. Quem tem que comemorar o meu aniversário sou eu. Eu que estou comemorando estar viva, eu sei das minhas conquistas e fracassos, sei meus sentimentos, sei o quanto mudei desde que nasci. Eu sei os lugares que fui, eu sei o que sinto ao sentir um cheio ou comer algo. Eu que devo comemorar. Mas sou solidária e divido minha felicidade (e pizzas) com pessoas que têm sido essenciais.
É a vida. Há alguns anos, achava imperdoável não irem a minha festinha de comemoração. Ou melhor, festão.
Quanta coisa boba a gente deixa no caminho. Tantos conceitos novos, um olhar diferente para tudo. Isso sim é motivo de comemoração, isso sim é fazer aniversário.
É amadurecer.
Diz-se de apaixonado, quem é dominado pela paixão. Quando perdemos o completo controle para algo que nós mesmo criamos. Perdemos o controle para nós mesmos. Um imenso paradoxo, totalmente, aceitável para quem já sentiu.
Durante anos, acreditei que paixão estivesse desvinculado, de uma vez por todas, do tal do amor. Quase opostos. Devido ao fato de ter visto tantas tragédias em função da paixão.
Todavia, caríssimos, a vida me deu um ensinamento muito mais valioso do que aquele que eu acreditava.
Paixão é um sentimento em excesso. Na verdade, é amor em demasiado. Tendo em vista que amor é o conjunto de tudo o que há de bom, com o elemento x, extra na mistura, concluímos, então, que paixão é bom até demais.
Tão bom que pode confundir o ser humano. Afinal, a sementinha do mal está implantada no nosso coração. Nascemos chorando e chamando a atenção. Fulos da vida por ter que aprender a respirar levando um tapa. Crescemos egoístas, tomando posse de todo ser ou coisa existente. Até um certa idade, isso é bem aceito. Quando os anos passam, a gente vê que a vida é uma escola e acaba aprendendo. Sem esquecer que tudo tende às más ações.
Ah, mas agora vocês já devem estar discordando de mim e irão comentar suas opiniões formadas e seus pré-conceitos. Antes de qualquer coisa, quero dizer-lhes que tenho uma essência pecaminosa (perversa). Contudo, sou uma pessoa boa, porque sou apaixonada.
A paixão libera dentro de nós algo que nunca pensaríamos sentir. Exalamos coisas boas e agimos para o bem. Conheço pessoas que não são apaixonadas e vejo o resultado desse desastre. É terrível.
Quando você sorri para alguém na rua, é a paixão pela alegria que impulsionou sua ação. Quando ajudamos alguém, ocorre devido a paixão pela amabilidade. E assim vai.
A paixão, ou o amor em excesso, é que implica no funcionamento do bem. Exatamente por isso que sou apaixonada pela vida, pela alegria, pelo amor, pela partilha, pela compreensão, pela solicitude, pela amizade, pela união, por Deus, pela humanidade, pelo toque...
É o que eu desejo à você, amados, sejam apaixonados por tudo o que fazem. Apaixonem-se pelos seus sonhos, pela sua família. Amem demais seus amigos e amores. Sejam eternos apaixonados para não cooperarem para o mal, que traz consequências irreversíveis.
Não sejam auto-destrutivos e contribuam pela vida!
Durante anos, acreditei que paixão estivesse desvinculado, de uma vez por todas, do tal do amor. Quase opostos. Devido ao fato de ter visto tantas tragédias em função da paixão.
Todavia, caríssimos, a vida me deu um ensinamento muito mais valioso do que aquele que eu acreditava.
Paixão é um sentimento em excesso. Na verdade, é amor em demasiado. Tendo em vista que amor é o conjunto de tudo o que há de bom, com o elemento x, extra na mistura, concluímos, então, que paixão é bom até demais.
Tão bom que pode confundir o ser humano. Afinal, a sementinha do mal está implantada no nosso coração. Nascemos chorando e chamando a atenção. Fulos da vida por ter que aprender a respirar levando um tapa. Crescemos egoístas, tomando posse de todo ser ou coisa existente. Até um certa idade, isso é bem aceito. Quando os anos passam, a gente vê que a vida é uma escola e acaba aprendendo. Sem esquecer que tudo tende às más ações.
Ah, mas agora vocês já devem estar discordando de mim e irão comentar suas opiniões formadas e seus pré-conceitos. Antes de qualquer coisa, quero dizer-lhes que tenho uma essência pecaminosa (perversa). Contudo, sou uma pessoa boa, porque sou apaixonada.
A paixão libera dentro de nós algo que nunca pensaríamos sentir. Exalamos coisas boas e agimos para o bem. Conheço pessoas que não são apaixonadas e vejo o resultado desse desastre. É terrível.
Quando você sorri para alguém na rua, é a paixão pela alegria que impulsionou sua ação. Quando ajudamos alguém, ocorre devido a paixão pela amabilidade. E assim vai.
A paixão, ou o amor em excesso, é que implica no funcionamento do bem. Exatamente por isso que sou apaixonada pela vida, pela alegria, pelo amor, pela partilha, pela compreensão, pela solicitude, pela amizade, pela união, por Deus, pela humanidade, pelo toque...
É o que eu desejo à você, amados, sejam apaixonados por tudo o que fazem. Apaixonem-se pelos seus sonhos, pela sua família. Amem demais seus amigos e amores. Sejam eternos apaixonados para não cooperarem para o mal, que traz consequências irreversíveis.
Não sejam auto-destrutivos e contribuam pela vida!
Era um dia como outro qualquer, mas por incrível que pareça, esses são os mais imprevisíveis. Passava a tarde com Fernando, novamente. Ele tentava explicar-me seus cálculos algébricos, sem saber como aquilo me cansava. Um verdadeiro martírio. Contudo, dei um basta naquela perda de tempo. Disse que iria preparar algo para comermos. Cinco minutos depois, estávamos sentados, assistindo televisão e comendo pipoca. Era fácil persuadí-lo.
Nós nos divertíamos, facilmente. A capacidade que ele tinha de me fazer sorrir era imensa. Ríamos do filme, da fita fora do lugar, do cheiro de cigarro, do jardim lá fora. Quando estamos felizes até tristeza é motivo de alegria. Viviamos assim. Amigos há quase dez anos. Companheiros fiéis. Inabaláveis.
Resolvi relembrar minhas memórias e lhe mostrei fotos da minha infância. Quando estava revirando todas as gavetas, deparei-me com uma pulseira singela que continha um pingente minúsculo em forma de coração. Naquela hora, levei um choque e me senti com sete anos de idade, outra vez. Lembrei-me do rapaz que eu gostava. Escrevia até poemas. Poemas de criança, entenda. E o objeto que me fez entrar em transe foi um presente, mas que não veio sozinho. Foi acompanhado de uma declaração simples. Aos sete anos um "eu gosto de você" era fatal.
Nessa hora, meu semblante deve ter mudado. Recordei a atitude que tive. Eu neguei o meu amor pelo pequeno Marcos, perdi o meu momento e o meu primeiro amor.
Decidi, instantaneamente, que não queria mais perder momentos. A vida nos dá as oportunidades, se a gente não estragar nada, tudo vai dar certo.
Mostrei a pulseira a Fernando. Ele sorriu, tentando imaginar o que representava aquele acessório. Exclusa, mas brilhante. Talvez fosse uma personificação minha.
Sorri, como quem quer algo. Disse que estava cansada de deixar para depois o que eu quero hoje. Disse coisas que nem faziam sentido. Disse e só. Olhei-o, determinada.
De maneira surpreendente, Fernando sorriu, mas foi com os olhos. Confortomou-me, de imediato. E beijou-me.
Essa é a essência do amor. Entendi, juntamente com meu amigo, amado e parceiro que o amor está na cumplicidade. Éramos cumplices de uma história. Amantes de olhares. Nos entendiámos pelos gestos. Ele sabia das minhas intenções, antes mesmo que eu o olhasse. Porque estávamos ligados, estamos ligados. Somos, agora, um. E para sempre.
Nós nos divertíamos, facilmente. A capacidade que ele tinha de me fazer sorrir era imensa. Ríamos do filme, da fita fora do lugar, do cheiro de cigarro, do jardim lá fora. Quando estamos felizes até tristeza é motivo de alegria. Viviamos assim. Amigos há quase dez anos. Companheiros fiéis. Inabaláveis.
Resolvi relembrar minhas memórias e lhe mostrei fotos da minha infância. Quando estava revirando todas as gavetas, deparei-me com uma pulseira singela que continha um pingente minúsculo em forma de coração. Naquela hora, levei um choque e me senti com sete anos de idade, outra vez. Lembrei-me do rapaz que eu gostava. Escrevia até poemas. Poemas de criança, entenda. E o objeto que me fez entrar em transe foi um presente, mas que não veio sozinho. Foi acompanhado de uma declaração simples. Aos sete anos um "eu gosto de você" era fatal.
Nessa hora, meu semblante deve ter mudado. Recordei a atitude que tive. Eu neguei o meu amor pelo pequeno Marcos, perdi o meu momento e o meu primeiro amor.
Decidi, instantaneamente, que não queria mais perder momentos. A vida nos dá as oportunidades, se a gente não estragar nada, tudo vai dar certo.
Mostrei a pulseira a Fernando. Ele sorriu, tentando imaginar o que representava aquele acessório. Exclusa, mas brilhante. Talvez fosse uma personificação minha.
Sorri, como quem quer algo. Disse que estava cansada de deixar para depois o que eu quero hoje. Disse coisas que nem faziam sentido. Disse e só. Olhei-o, determinada.
De maneira surpreendente, Fernando sorriu, mas foi com os olhos. Confortomou-me, de imediato. E beijou-me.
Essa é a essência do amor. Entendi, juntamente com meu amigo, amado e parceiro que o amor está na cumplicidade. Éramos cumplices de uma história. Amantes de olhares. Nos entendiámos pelos gestos. Ele sabia das minhas intenções, antes mesmo que eu o olhasse. Porque estávamos ligados, estamos ligados. Somos, agora, um. E para sempre.
Querida Marta,Este foi o esboço que fiz para dizer, em forma de discurso, no dia após a cerimônia de casamento. Por favor, minha irmã, analise segundo seu olhar criterioso e diga-me se gostou. Provavelmente, ele irá amar o flash-back.
Os vestidos estão prontos e estão aqui em casa. Venha logo no ínicio da manhã para deixarmos tudo em ordem. Preciso de você mais do que nunca.
Até amanhã. Será esplêndido.Beijos,
Ana.
Decifrava-me com seus mistérios. Que paradoxo foi a nossa juventude. E agora nem isso, os bilhetes que me deixava estavam escritos, no máximo "18h estarei aí". Que espécie de relação é essa? Talvez amor ao próximo, sem querer mal algum, sabe? Mas de bom, já esgotaram as opções. Que mal há em repetir o que se fez há 10 anos? Eu não me importava. Nem lembrava mais o gosto das sensações.
Treze de agosto foi a data de uma das tardes que ele me ligou dizendo que queria me ver às 19h, no parque central. Até estranhei, porque nossas reuniões (e não encontros) eram sempre em bares ou restaurantes. Discretos. O parque era muito nostálgico.
Mas eu nunca fui de passar a mão na cabeça de bandido. Se errou, tem que suportar as consequências. Nunca pedi pra ninguém amenizar meus problemas. Pô, tudo o que passei foi culpa minha. Quando não era, eu dava prejuízo pro culpado.
Beleza. Não vou mentir que fiquei roendo as unhas até dar a hora. Consultei o relógio e faltavam trinta minutos. Foi o tempo de conseguir chegar lá. Sentei no banco do parque e olhei em volta. Estava deserto. Por um segundo, temi o que fosse acontecer. Luciano nunca foi bom das idéias e essas coisas de amor ao próximo era coisa de religião, segundo ele.
Havia passado quinze minutos e ele não apareceu. Meu coração estava pulsando mais rápido. Olhei a rua e o trânsito estava diminuindo. Uns garotos passaram, gritando e saqueando um gringo na esquina.
Olhava entre as árvores e parecia que um cheiro de medo estava vindo no ar. Eu nunca fui de ter medo, mas acreditava, fielmente, em intuição feminina. Mais vinte minutos se passaram e eu já estava aflita. Queria ir embora, porém no fundo sabia que ele viria. Senti um leve sobro nas orelhas, quando olhei para trás era ele. Com o olhar demoníaco de sempre. Prendi o grito e tentei sorrir.
"Estava quase indo embora" - Foi o que consegui dizer. Ele riu, tentando desfazer seu semblante malvado. Mas eu já conhecia. A conversa veio apressada e o ponto central, também. Disse-me que precisava de dinheiro e que sentia saudades do que fazíamos há anos. As parceiras que ele arranjou nesses últimos tempos não eram eficientes. E ninguém mais estava disposto.
Falei pra ele que eu nunca fui de passar a mão na cabeça de bandido e nem ia fazer. Mas ele sempre foi muito persuasivo e me convenceu. Aliás, já tinha me convencido antes mesmo de dizer qualquer coisa. Eu só me mantive durona.
Levei-o para minha casa. Ele ficou deslumbrado com o que eu havia conquistado com muito esforço. Zona sul, claro. Mas tive que pegar no pesado.
Ele riu, distraiu-se com os móveis e disse que se arrependia de ter me deixado. Eu falei que essa coisa de se encontrar só quando ele quer não estava me agradando. Incrível, ele fez todas as minhas vontades. E eu fiz café.
No outro dia, de manhã. Luciano havia escrito uma carta de dez linhas. Grande avanço. Dizendo sobre seus planos para aquela semana. Enquanto ele trabalhava em outros projetos, eu preparava tudo para o que faríamos juntos no sábado.
Na segunda, comprei o necessário. Terça, agendei os lugares. Quarta, fiz umas ligações. Na quinta, convidei amigos. E na sexta, tratei de que ninguém nos atrapalhasse.
Quando chegou sábado, ele acordou sorridente e eu já estava de pé. Ansiosa. Saudosa. Estava marcado para às 22h, perto do restaurante Lola.
Às 21h estávamos, de longe, observando o movimento. Como duas crianças que apreciam a vitrine antes de comprar o doce. Deu 22h, o presidente saiu do restaurante com um segurança, nós o seguimos e batemos de frente com seu carro. Deserto violento. Desesperados, foram nos socorrer. Nessa hora, Luciano deu uma chave de braço no segurança e, em seguida, três tiros. Enquanto eu, no trabalho da mulher, puxei o poderoso chefão pelos cabelos, ameaçando-o de morte.
Se eu tivesse aceitado tudo o que ele me ofereceu, não estaria aqui. Mas eu não abriria mão do meu último suspiro.
Nós o levamos até um terreno distante e o matamos. A perícia publicou para a imprensa três tiros: um na cabeça, um no coração e outro na mão. Mas foram sete. Luciano deu os outros quatro tiros.
Fomos pegos, claro. Não demorou muito. Mas foi maravilhoso. Foi tudo o que eu queria para poder morrer ou ser presa, a mesma coisa. Porque eu fiz o mundo parar. Eu fiz a história mudar. Eu fiz. Minha morte foi por uma boa causa. A minha e de meu eterno parceiro: Luciano, morto com sete tiros. Outros sete, que ironia.
Canalhas! Vocês me pagam...
Treze de agosto foi a data de uma das tardes que ele me ligou dizendo que queria me ver às 19h, no parque central. Até estranhei, porque nossas reuniões (e não encontros) eram sempre em bares ou restaurantes. Discretos. O parque era muito nostálgico.
Mas eu nunca fui de passar a mão na cabeça de bandido. Se errou, tem que suportar as consequências. Nunca pedi pra ninguém amenizar meus problemas. Pô, tudo o que passei foi culpa minha. Quando não era, eu dava prejuízo pro culpado.
Beleza. Não vou mentir que fiquei roendo as unhas até dar a hora. Consultei o relógio e faltavam trinta minutos. Foi o tempo de conseguir chegar lá. Sentei no banco do parque e olhei em volta. Estava deserto. Por um segundo, temi o que fosse acontecer. Luciano nunca foi bom das idéias e essas coisas de amor ao próximo era coisa de religião, segundo ele.
Havia passado quinze minutos e ele não apareceu. Meu coração estava pulsando mais rápido. Olhei a rua e o trânsito estava diminuindo. Uns garotos passaram, gritando e saqueando um gringo na esquina.
Olhava entre as árvores e parecia que um cheiro de medo estava vindo no ar. Eu nunca fui de ter medo, mas acreditava, fielmente, em intuição feminina. Mais vinte minutos se passaram e eu já estava aflita. Queria ir embora, porém no fundo sabia que ele viria. Senti um leve sobro nas orelhas, quando olhei para trás era ele. Com o olhar demoníaco de sempre. Prendi o grito e tentei sorrir.
"Estava quase indo embora" - Foi o que consegui dizer. Ele riu, tentando desfazer seu semblante malvado. Mas eu já conhecia. A conversa veio apressada e o ponto central, também. Disse-me que precisava de dinheiro e que sentia saudades do que fazíamos há anos. As parceiras que ele arranjou nesses últimos tempos não eram eficientes. E ninguém mais estava disposto.
Falei pra ele que eu nunca fui de passar a mão na cabeça de bandido e nem ia fazer. Mas ele sempre foi muito persuasivo e me convenceu. Aliás, já tinha me convencido antes mesmo de dizer qualquer coisa. Eu só me mantive durona.
Levei-o para minha casa. Ele ficou deslumbrado com o que eu havia conquistado com muito esforço. Zona sul, claro. Mas tive que pegar no pesado.
Ele riu, distraiu-se com os móveis e disse que se arrependia de ter me deixado. Eu falei que essa coisa de se encontrar só quando ele quer não estava me agradando. Incrível, ele fez todas as minhas vontades. E eu fiz café.
No outro dia, de manhã. Luciano havia escrito uma carta de dez linhas. Grande avanço. Dizendo sobre seus planos para aquela semana. Enquanto ele trabalhava em outros projetos, eu preparava tudo para o que faríamos juntos no sábado.
Na segunda, comprei o necessário. Terça, agendei os lugares. Quarta, fiz umas ligações. Na quinta, convidei amigos. E na sexta, tratei de que ninguém nos atrapalhasse.
Quando chegou sábado, ele acordou sorridente e eu já estava de pé. Ansiosa. Saudosa. Estava marcado para às 22h, perto do restaurante Lola.
Às 21h estávamos, de longe, observando o movimento. Como duas crianças que apreciam a vitrine antes de comprar o doce. Deu 22h, o presidente saiu do restaurante com um segurança, nós o seguimos e batemos de frente com seu carro. Deserto violento. Desesperados, foram nos socorrer. Nessa hora, Luciano deu uma chave de braço no segurança e, em seguida, três tiros. Enquanto eu, no trabalho da mulher, puxei o poderoso chefão pelos cabelos, ameaçando-o de morte.
Se eu tivesse aceitado tudo o que ele me ofereceu, não estaria aqui. Mas eu não abriria mão do meu último suspiro.
Nós o levamos até um terreno distante e o matamos. A perícia publicou para a imprensa três tiros: um na cabeça, um no coração e outro na mão. Mas foram sete. Luciano deu os outros quatro tiros.
Fomos pegos, claro. Não demorou muito. Mas foi maravilhoso. Foi tudo o que eu queria para poder morrer ou ser presa, a mesma coisa. Porque eu fiz o mundo parar. Eu fiz a história mudar. Eu fiz. Minha morte foi por uma boa causa. A minha e de meu eterno parceiro: Luciano, morto com sete tiros. Outros sete, que ironia.
Canalhas! Vocês me pagam...
- Acho que isso está mais para um desejo.
Tremi na base. Será que ele havia descoberto meus desejos, anseios e aspirações? Maldito. Agora ele sabia demais.
- Por que diz isso? - Perguntei.
- Pelo jeito com que me olhas.
Pronto! Havia decifrado-me.
Tremi na base. Será que ele havia descoberto meus desejos, anseios e aspirações? Maldito. Agora ele sabia demais.
- Por que diz isso? - Perguntei.
- Pelo jeito com que me olhas.
Pronto! Havia decifrado-me.
Cessa, chuva!
Que pressa é essa?
É saudade.
Do povo da aldeia,
Do cheiro da sereia.
É saudade.
Da preta assanhada,
Da noite inacabada.
De dois aviões
Pombos no deserto
Sobreviventes da tempestade
De saudade que se vive
Por isso chove.
Que pressa é essa?
É saudade.
Do povo da aldeia,
Do cheiro da sereia.
É saudade.
Da preta assanhada,
Da noite inacabada.
De dois aviões
Pombos no deserto
Sobreviventes da tempestade
De saudade que se vive
Por isso chove.
Deixo-lhe esta carta, como um coringa em suas mãos. É uma saída, não muita satisfatória, para a dor que, provavelmente, causei.
Queria explicar-lhe por que eu fui sem avisar. Dizer o porquê da minha ida repentina ao mundo desconhecido que é a morte, ou a vida após ela.
Eu não sei se você lembra, quando eu disse que tinha crises de asma, sempre que você estava distante. Era verdade! Nunca menti pra você. Nem quando disse que estava na rua com minha mãe. E acho que essas crises eram, basicamente, psicológicas. Eu nunca gostei de me sentir só. Ficava sem ar.
Quando mamãe morreu, então... Meu mundo parecia ter desabado. Não tinha mais ninguém, só você. Na semana da morte dela, eu tinha crise quase toda hora, lembra? E no dia do velório? Eu fiquei internada!
Não me julgue ainda. Você pode dizer que eu poderia ter ido a um médico, a um clínico geral ou, até mesmo, a um psiquiatra. Mas eu fui! Você não soube, porque vivia se ausentando.
Não gostaria que se culpasse pela minha morte de maneira dolorosa, apenas se culpe.
Eu ficava desesperada sem você. Nunca tivemos filhos e isso me deixava mais louca ainda. A idéia de que eu não tinha ninguém para deixar minha história, minha bagagem, minhas marcas, dar um tapa nas costas e dizer: "Vai viver enquando eu descanso". Sim, essa idéia me enlouquecia.
E hoje, meu amor, hoje eu me senti a pessoa mais sozinha de todo o universo. Pois eu te vi com outra. Meu Deus! Solidão maior não há.
Você chegou ao ponto de me trocar, de desfazer a aliança que tinhamos. E sem ela, eu não tinha mais nada. A psicóloga tentou me falar sobre Deus. Eu nem sei, tomara que Ele tenha piedade de mim. Mas eu não aguento mais essa dor, esse sofrimento em vão.
É tudo passageiro, um dia vou ficar só de vez e espero que seja agora.
Eu te amo muito e te perdôo. Foi pela loucura ou pela sanidade que eu morri.
Queria explicar-lhe por que eu fui sem avisar. Dizer o porquê da minha ida repentina ao mundo desconhecido que é a morte, ou a vida após ela.
Eu não sei se você lembra, quando eu disse que tinha crises de asma, sempre que você estava distante. Era verdade! Nunca menti pra você. Nem quando disse que estava na rua com minha mãe. E acho que essas crises eram, basicamente, psicológicas. Eu nunca gostei de me sentir só. Ficava sem ar.
Quando mamãe morreu, então... Meu mundo parecia ter desabado. Não tinha mais ninguém, só você. Na semana da morte dela, eu tinha crise quase toda hora, lembra? E no dia do velório? Eu fiquei internada!
Não me julgue ainda. Você pode dizer que eu poderia ter ido a um médico, a um clínico geral ou, até mesmo, a um psiquiatra. Mas eu fui! Você não soube, porque vivia se ausentando.
Não gostaria que se culpasse pela minha morte de maneira dolorosa, apenas se culpe.
Eu ficava desesperada sem você. Nunca tivemos filhos e isso me deixava mais louca ainda. A idéia de que eu não tinha ninguém para deixar minha história, minha bagagem, minhas marcas, dar um tapa nas costas e dizer: "Vai viver enquando eu descanso". Sim, essa idéia me enlouquecia.
E hoje, meu amor, hoje eu me senti a pessoa mais sozinha de todo o universo. Pois eu te vi com outra. Meu Deus! Solidão maior não há.
Você chegou ao ponto de me trocar, de desfazer a aliança que tinhamos. E sem ela, eu não tinha mais nada. A psicóloga tentou me falar sobre Deus. Eu nem sei, tomara que Ele tenha piedade de mim. Mas eu não aguento mais essa dor, esse sofrimento em vão.
É tudo passageiro, um dia vou ficar só de vez e espero que seja agora.
Eu te amo muito e te perdôo. Foi pela loucura ou pela sanidade que eu morri.
Luisa Albuquerque
Nunca me esquecerei do verão de 99. Eu havia decidido visitar Búzios com algumas acompanhantes aventureiras. Foi uma espécie de loucura independente. Estávamos livres de tudo. Fizemos as malas e eu fui dirigindo, no início. Depois nós revezávamos.
A primeira parada foi em uma lojinha de comida. A fome apertava e era um desespero. Parecia um maná dos deuses, aquele pão com presunto e queijo. Voltamos a estrada e depois de umas horas, chegamos em Búzios, definitivamente, exaustas. O vento não era problema, mosquitos não eram problema, nada nos impediria de dormir!
Achamos a pousada onde havíamos reservado um quartinho pela internet. Era confortável, simples e pertinho da praia. Entramos no quarto e nem nos preocupamos com malas ou banhos. Apenas deitamos para dormir. Eram 17h, o Sol indo embora e o meu sono estava com preguiça de chegar. Comecei a ouvir um rastro de música e farejei.
Da varanda, via um grupo de jovens, loucos como somos, iniciando, precocemente, um lual. Comendo na pousada e, provavelmente, iriam para a praia depois.
Eu estava descabelada, mas nessa idade a gente nem liga mais para o que irão pensar. Fiquei olhando, como quem quisesse estar lá, como quem queria ser convidada. Um rapaz me viu. Não sei se já estava me olhando, mas só o percebi quando ele levantou da cadeira e se direcionou para perto da minha varanda. Ele, devido a sua gentileza, perguntou se eu queria participar e disse que se chamava Jorge. Eu morri de rir, ele não entendeu.
Tomei banho e saí com eles. As meninas dormiam igual pedra! Só amanhã que eu as veria em sã consciência.
Fui ao encontro daquela galera imensa e sorri um riso agradável. Cantei as músicas e até toquei um pouco do que sabia. Às 20h, estávamos na praia. Eu achei Jorge uma figura diferente. Porque até as 20h ele estava usando óculos escuros. Lembro-me que sempre que, por distração, seu nome me fugia a mente, eu o chamava menino dos óculos escuros. Era o único. Era único.
Nessa hora, os casais já estavam abraçados e os outros ainda tentavam tocar violão, filosofar, rir e se divertir. Sentei ao lado de Jorge, numa ponta da areia que me confortou. Encostei a cabeça nos joelhos e procurei algumas conchas, só para passar o tempo.
Ele ficou me olhando, sorrindo. Eu sei, porque dei uma espiadinha. Depois, parei de mexer na areia e fiquei olhando-o. E ele disse que a lua não era nada em comparação ao azul dos meus olhos.
Um convite, fajuto, adolescente e pobre para um beijo. Mas, na hora, foi lindo. Eu precisava de qualquer palavra de carinho. Um beijo sincero, um abraço amigo. Mesmo com palavras clichês ou redundantes. Eu estava satisfeita com o presente que a Lua me deu.
Foi linda a noite. Às 5h da manhã, eu estava dormindo em seu colo, ele me despertou e disse para voltarmos. Fui andando, meio sonolenta. Ele me deixou no quarto e eu dormi, tranquilamente. Sentia-me amada. Um amor lindo.
Minhas amigas acordaram às 6h, mas eu não quis levantar. Depois do almoço, quando despertei, havia uma rosa em meu travesseiro. Perguntei a balconista sobre um rapaz, de óculos escuros, chamado Jorge. Ninguém sabia. Ninguém viu.
Mas eu sabia, eu senti, eu o vi. E nunca vou me esquecer do rapaz de óculos escuros. O rapaz e os ósculos, também.
A primeira parada foi em uma lojinha de comida. A fome apertava e era um desespero. Parecia um maná dos deuses, aquele pão com presunto e queijo. Voltamos a estrada e depois de umas horas, chegamos em Búzios, definitivamente, exaustas. O vento não era problema, mosquitos não eram problema, nada nos impediria de dormir!
Achamos a pousada onde havíamos reservado um quartinho pela internet. Era confortável, simples e pertinho da praia. Entramos no quarto e nem nos preocupamos com malas ou banhos. Apenas deitamos para dormir. Eram 17h, o Sol indo embora e o meu sono estava com preguiça de chegar. Comecei a ouvir um rastro de música e farejei.
Da varanda, via um grupo de jovens, loucos como somos, iniciando, precocemente, um lual. Comendo na pousada e, provavelmente, iriam para a praia depois.
Eu estava descabelada, mas nessa idade a gente nem liga mais para o que irão pensar. Fiquei olhando, como quem quisesse estar lá, como quem queria ser convidada. Um rapaz me viu. Não sei se já estava me olhando, mas só o percebi quando ele levantou da cadeira e se direcionou para perto da minha varanda. Ele, devido a sua gentileza, perguntou se eu queria participar e disse que se chamava Jorge. Eu morri de rir, ele não entendeu.
Tomei banho e saí com eles. As meninas dormiam igual pedra! Só amanhã que eu as veria em sã consciência.
Fui ao encontro daquela galera imensa e sorri um riso agradável. Cantei as músicas e até toquei um pouco do que sabia. Às 20h, estávamos na praia. Eu achei Jorge uma figura diferente. Porque até as 20h ele estava usando óculos escuros. Lembro-me que sempre que, por distração, seu nome me fugia a mente, eu o chamava menino dos óculos escuros. Era o único. Era único.
Nessa hora, os casais já estavam abraçados e os outros ainda tentavam tocar violão, filosofar, rir e se divertir. Sentei ao lado de Jorge, numa ponta da areia que me confortou. Encostei a cabeça nos joelhos e procurei algumas conchas, só para passar o tempo.
Ele ficou me olhando, sorrindo. Eu sei, porque dei uma espiadinha. Depois, parei de mexer na areia e fiquei olhando-o. E ele disse que a lua não era nada em comparação ao azul dos meus olhos.
Um convite, fajuto, adolescente e pobre para um beijo. Mas, na hora, foi lindo. Eu precisava de qualquer palavra de carinho. Um beijo sincero, um abraço amigo. Mesmo com palavras clichês ou redundantes. Eu estava satisfeita com o presente que a Lua me deu.
Foi linda a noite. Às 5h da manhã, eu estava dormindo em seu colo, ele me despertou e disse para voltarmos. Fui andando, meio sonolenta. Ele me deixou no quarto e eu dormi, tranquilamente. Sentia-me amada. Um amor lindo.
Minhas amigas acordaram às 6h, mas eu não quis levantar. Depois do almoço, quando despertei, havia uma rosa em meu travesseiro. Perguntei a balconista sobre um rapaz, de óculos escuros, chamado Jorge. Ninguém sabia. Ninguém viu.
Mas eu sabia, eu senti, eu o vi. E nunca vou me esquecer do rapaz de óculos escuros. O rapaz e os ósculos, também.
No fogo de uma paixão,
Surge uma poeta
Um poeta
Quanta identidade
Nas cinzas desse amor
Renasce. Fênix literária
Aprendeu a escrever
Com dois pingos de calor
Surge uma poeta
Um poeta
Quanta identidade
Nas cinzas desse amor
Renasce. Fênix literária
Aprendeu a escrever
Com dois pingos de calor
Trocentos, quinhentos, seiscentos, seilá. Só conseguia pensar em quanto tempo você conseguiu me esquecer, de maneira tal que meu nome era estranho a sua mente e vocabulário. Esqueceu. Completo. Cem por cento. Zero, vígula, zero, um. E agora, eu penso, cuidadosamente, se devia voltar e perguntar se está tudo bem. Tola! Eu ainda penso em você, em falar com você, em seu nome, em seu número, em seu número de meias azuis, os pares perdidos, as unhas roídas. Penso nos cachos mal feitos, nos dedos tortos, na cicatriz retorcida. E é esse o pior. Que eu não me esqueço. Quantos dias mesmo que eu disse? Trocentos! Sei lá que bosta de número é esse. Inexistente. Talvez tenha sido assim. Não houve tempo parar me esquecer, porque nem ao menos tempo teve para que me lembrasse. E me vivesse, e me cheirasse. Que há? Esqueceu, dos meus pares de meia! Das vermelhas que eu usava. Enquanto fico aqui pensando nos seus olhos cor de mel, no azul, que eram as suas blusas preferidas. Pensando nos traços perfeitos do seu rosto e em como o mar parecia maior em seus olhos. Pensando em tudo o que fomos nós há trocentos anos atrás. Trocentos destroçados. Ossos do ofício, como diria o trocadilho. Que me esqueça, para que eu não queira deixar de te esquecer.
Doze anos, devagar
Chego, agora
Peço pra parar
Tempo astuto, esperto é
Passa, voa, dá no pé.
Chego, agora
Peço pra parar
Tempo astuto, esperto é
Passa, voa, dá no pé.
Reuniram-se, em um cenário antiquado, com a finalidade única e, teoricamente, imutável de ingerir oralmente seus líquidos aguados com sabores variados. O famoso chá das quatro. Eu, como detesto chá, tentei descrever de uma forma menos nojenta.
Jordana, a mais velha, e Lorena, a mais nova, eram quem comandavam a facção, ou melhor, o encontro. Organizavam dia, horário e local. Como se fosse uma comemoração excelente e de essencial importância na vida de cada uma das irmãs Dias.
Jordana chamava atenção de uma forma tão diferente, que todas dispararam a rir, internamente, claro.
- Hoje a reunião ocorre por motivos óbvios.
Nesse momento, ouve-se (ou não se ouve?) um silêncio inquietante. Daqueles quando se esquece o que virá a seguir ou, simplesmente, a mente começa a ficar vazia, excluindo todas as palavras que você sabe na vida. Uma por uma.
Lorena, inquieta, berrou:
- Que comece o chá!
Meu Deus! Parecia uma corrida de cavalos, mas de uma forma chique, cliché e ponderada. Na high society tudo é ponderado. Eu achava que era.
Jordana estava na cor de seus botões rosados. Nervosa como era, a audácia da irmã a fez ferver o sangue. Logo ela.
Porém, Lorena sabia dissimular muito bem. Parecia não perceber e se agradar da situação antiquada que levava desde a morte de Alma, sua irmã.
Algumas horas se passam, trechos de livros são lidos. O chá é reposto, se me permite dizer. E a vida vivendo, o vento passando. Bate a hora da noite, quando as moças devem ir. Como se vivessem no século XVII.
Sem medo, nem hora. Lorena atreveu-se a levantar e dar um discurso final. Nada preparado, mas, completamente, proposital. Antes mesmo que começasse a dizer, Jordana já estava muito nervosa. Bateu na mesa e a olhou bem fundo, dizendo:
- Insolente!
- Como se eu fosse sua criada. Sou jovem e faço o que bem quero. - Era ela mesma dizendo, Lorena.
Todas voltaram a se sentar. Talvez pela ética, pelo medo ou, provavelmente, pela curiosidade.
- Você - Começou a dizer e andar em direção a irmã mais nova - Que sempre me ajudou, sempre quis que tudo desse certo. Por que se comporta dessa maneira?
- Querida irmãzinha, eu sempre quis que tudo desse certo, até pegar o jornal e ver a data. Bem - Parou e deu uma olhada, estratégica, a todas da mesa - Pergunte, aqui mesmo, quem sente prazer em estar aqui ao invés de estar se divertindo com amigos, maridos ou agregados.
O rosto de Jordana parecia que ia explodir. Ela era a pessoa mais tradicional que existia naquele século. E Lorena, que ironia, estava no auge de seus 16 e contava Dom Casmurro nas esquinas para quem quisesse ouvir.
- Quanta petulância! Como ousa agir assim enquanto vivemos um luto pela...
- LUTO? Jordana, Alma morreu há 10 anos! E outra, duvido que você está sozinha por todo esse tempo...
Muitas risadas se libertaram nesse momento. Lorena estava ganhando.
- Estou sim! Em memória de Alma Dias, uma guerreira, uma irmã que sempre cuidou de nós.
- Mas eu continuo duvidan-do!
Nessa hora, rapazes, Lorena deu uma piscada com o olho esquerdo e umas cinco pequenas se ajuntaram a Jordana. Não entendi mais nada, quando vi, por baixo de sua grande bata, havia uma roupa bem ousada.
- É disso que eu estou falando, irmãzinha. E não se envergonhe, porque ninguém pode te julgar. Afinal, estamos aqui só para te agradar. Mas meus dezesseis chegaram precocemente e com sede de liberdade. É esse, minha amiga, meu protesto contra a sua loucura.
- Loucura?
Envergonhada e humilhada, a mais velha puxou a irmã pelos cabelos e deu um tchau bem alto para todos. Chegou ao quarto, bateu a porta forte, ofegante.
- Parabéns, pequena, pela dramatização. O plano saiu perfeito. Moderníssimo.
E, finalmente, depois de décadas, a modernidade veio morar com elas.
Jordana, a mais velha, e Lorena, a mais nova, eram quem comandavam a facção, ou melhor, o encontro. Organizavam dia, horário e local. Como se fosse uma comemoração excelente e de essencial importância na vida de cada uma das irmãs Dias.
Jordana chamava atenção de uma forma tão diferente, que todas dispararam a rir, internamente, claro.
- Hoje a reunião ocorre por motivos óbvios.
Nesse momento, ouve-se (ou não se ouve?) um silêncio inquietante. Daqueles quando se esquece o que virá a seguir ou, simplesmente, a mente começa a ficar vazia, excluindo todas as palavras que você sabe na vida. Uma por uma.
Lorena, inquieta, berrou:
- Que comece o chá!
Meu Deus! Parecia uma corrida de cavalos, mas de uma forma chique, cliché e ponderada. Na high society tudo é ponderado. Eu achava que era.
Jordana estava na cor de seus botões rosados. Nervosa como era, a audácia da irmã a fez ferver o sangue. Logo ela.
Porém, Lorena sabia dissimular muito bem. Parecia não perceber e se agradar da situação antiquada que levava desde a morte de Alma, sua irmã.
Algumas horas se passam, trechos de livros são lidos. O chá é reposto, se me permite dizer. E a vida vivendo, o vento passando. Bate a hora da noite, quando as moças devem ir. Como se vivessem no século XVII.
Sem medo, nem hora. Lorena atreveu-se a levantar e dar um discurso final. Nada preparado, mas, completamente, proposital. Antes mesmo que começasse a dizer, Jordana já estava muito nervosa. Bateu na mesa e a olhou bem fundo, dizendo:
- Insolente!
- Como se eu fosse sua criada. Sou jovem e faço o que bem quero. - Era ela mesma dizendo, Lorena.
Todas voltaram a se sentar. Talvez pela ética, pelo medo ou, provavelmente, pela curiosidade.
- Você - Começou a dizer e andar em direção a irmã mais nova - Que sempre me ajudou, sempre quis que tudo desse certo. Por que se comporta dessa maneira?
- Querida irmãzinha, eu sempre quis que tudo desse certo, até pegar o jornal e ver a data. Bem - Parou e deu uma olhada, estratégica, a todas da mesa - Pergunte, aqui mesmo, quem sente prazer em estar aqui ao invés de estar se divertindo com amigos, maridos ou agregados.
O rosto de Jordana parecia que ia explodir. Ela era a pessoa mais tradicional que existia naquele século. E Lorena, que ironia, estava no auge de seus 16 e contava Dom Casmurro nas esquinas para quem quisesse ouvir.
- Quanta petulância! Como ousa agir assim enquanto vivemos um luto pela...
- LUTO? Jordana, Alma morreu há 10 anos! E outra, duvido que você está sozinha por todo esse tempo...
Muitas risadas se libertaram nesse momento. Lorena estava ganhando.
- Estou sim! Em memória de Alma Dias, uma guerreira, uma irmã que sempre cuidou de nós.
- Mas eu continuo duvidan-do!
Nessa hora, rapazes, Lorena deu uma piscada com o olho esquerdo e umas cinco pequenas se ajuntaram a Jordana. Não entendi mais nada, quando vi, por baixo de sua grande bata, havia uma roupa bem ousada.
- É disso que eu estou falando, irmãzinha. E não se envergonhe, porque ninguém pode te julgar. Afinal, estamos aqui só para te agradar. Mas meus dezesseis chegaram precocemente e com sede de liberdade. É esse, minha amiga, meu protesto contra a sua loucura.
- Loucura?
Envergonhada e humilhada, a mais velha puxou a irmã pelos cabelos e deu um tchau bem alto para todos. Chegou ao quarto, bateu a porta forte, ofegante.
- Parabéns, pequena, pela dramatização. O plano saiu perfeito. Moderníssimo.
E, finalmente, depois de décadas, a modernidade veio morar com elas.
O tempo parece igual às seis
Nenhuma palavra
Para nada
Todas as palavras
Para o resto
Para nada
Todas as palavras
Para o resto
- Mãe, compra um livro pra mim?
- Qual livro?
- "Cem anos de solidão" do Gabriel Garcia Márquez. Uns amigos de indicaram, eu queria ler...
- Ahh, sei. (risos) Eu já li, muito bom. No início, você achará um pouco cansativo. Mas é muito bom... Afinal, são cem anos da história de uma família.
- Uhm...
- Mas o livro é muito caro! Proucura na bíblioteca da sua escola.
- É, vou ler lá, mesmo.
- Mas eu tenho outro dele aqui, se você quiser...
Ai, como minha mãe é inteligente! HAHAHA Isso aconteceu mesmo. Às vezes fico até sem graça com ela. Brincadeira.
O Sol nasce e nem se importa com todo mundo na rua.
Às seis da manhã, nasce e não se importa com o seu sono.
O Sol nasce, porque tem que nascer.
Às seis da manhã, nasce e não se importa com o seu sono.
O Sol nasce, porque tem que nascer.
No final da vida, será quando veremos quantas mensagens de amor tivemos e quantos cartões postais recebemos. Não necessariamente no final da vida, mas é que nessa fase é que... bem, poderemos ter certeza de muitas coisas. Não que seja fácil saber seu 'final da vida'. Algumas pessoas vivem só alguns meses, outras, alguns anos... Tem gente que passa dos 100 e nem vira manchete de jornal. Mas, o fato é que querendo ou não, teremos muitos amores. Você pode ser roqueiro, retrô, virgem ou padre. Mas os amores são como figurinhas que guardamos no álbum da vida. Amores não são paixões e nem devem ser comuns e, também, não precisam de contato físico. Amores são amores. A gente entende, quando se encontra um.
Eu não sei muito sobre coincidências, até porque não acredito muito nisso. Mas quando "destino" parece não ser a palavra certa, os acasos da vida mostram bem que são apenas simples coincidências.
Há sempre um certo dia em que se decide tudo sobre tudo, mesmo que possamos voltar atrás e mudar o quadro, saberemos, nós e todos que nos rodeiam, que houve uma vez que fizemos a decisão separando, em um ponto crucial de nossa biografia, o antes de o depois.
Mas eu admito que não esperava esse dia tão cedo. A gente parece viver mais do que pensa. E cedo não significa que eu era adolescente, nem tampouco jovem. Havia chegado aos 37 anos, tinha mulher e um filho já casado. É. Fui naquela onda hippie-underground e tive Cauã aos 17 anos. Casei-me cedo. Cansei de casar mais cedo ainda. Minha esposa chama-se Magnólia. Que mania de flor que esse pessoal tinha. Era Dona Rosa aqui, Rosália ali, uma Margarida para não sobrar. Já vi até Tulipa, juro. E para piorar a irmã de Magnólia tinha um nome mais florido ainda: Angélica do Rosário.
Voltando ao assunto principal, na época em que tive meu dia decisivo, eu já nem me sentia casado. Eu e Magnólia nos relacionávamos rotineiramente, como um trabalho. Eu acordava cedo para ir à redação, ela fazia o café e a janta, pois na hora do almoço ia para o consultório, era psicóloga. Encontrávamo-nos às 21h para rimos do filme velho da televisão e dormirmos abraçados, como jovens em lua-de-mel. Pode parecer romântico, mas eu já achava cansativo. O sexo vinha no máximo três vezes na semana.
Eu sempre pensei que quando fosse estar casado há vinte anos com alguém, eu fosse ser o homem mais gentil e cavalheiro do mundo. E eu era, mas eu pensava que as minhas atitudes fariam da rotina, uma aventura a cada dia. Mas não foi bem isso que meu destino quis.
O dinheiro que ganhávamos era suficiente, quando sobrava, eu comprava livros e ela flores, talheres de prata ou louça de cristal. Mulher tem disso.
Eis aí o meu prefácio. Até o dia, que me lembro bem, foi quando o time de futebol de salão do pessoal do jornal tinha ganhado o campeonato regional. Dia 27 de março de 1988. Todo o povo da cidade se movimentou para ver a final do campeonato, assim que acabou, a multidão de fãs, loucos ou indiferentes se apossaram dos bares da cidade. Nunca vi tanta gente querendo beber de uma vez. Alguns comemoravam, outros choravam pelos problemas do dia, mas a maioria estava ali por não haver mais o que fazer.
Esse dia era mesmo para ter sido excepcional, já que eu não estava lotado de trabalho e me dei ao luxo de sentar à mesa de um café, pedir um capuccino com chocolate e tentar umas prosas em uns papéis perdidos.
Não sei se mulheres bonitas que querem passar despercebidas escolhem dias como esse para surgirem na cidade, mas sei que ela decidiu por assim fazer. Eu estava com um charuto, antigo, que meu chefe havia me dado, por alguns favores comuns que fazemos à homens como chefes. E forçava uma cara de intelectual, bem, de mais intelectual, porque quando se é jornalista essa cara vem sem querer. Rabiscando um dos incontáveis guardanapos que havia na mesa. É sério, eles pareciam intermináveis, quase diziam que eu deveria ficar ali até o amanhecer.
Ao levantar meu pequenos olhos cor-de-mel, eu a avistei. Se era cena de filme, ou não, eu não conseguia desgrudar o olhar de seus pés, suas sandálias, seu andar e de tudo. Era um pacote de presente. E eu queria para mim, claro. Iria completar 38 em uma semana.
Por acaso do destino, ela tropeçou e derramou todos os papéis que estavam em minha mesa. Eu fingi que eram importantes, e usei meus dons de ator para convencê-la disso.
- Não deixe escapar um. Sem eles eu estou ferrado.
A moça se assustou, mas foi uma reação normal. Um pouco ou bastante (tanto faz) encabulada, ela olhou-me de canto, que só via sua bochechas rosadas, dizendo palavras tão sutis que quase não ouvi. eu estava em transe, ainda.
Despertei quando ela estendeu a mão para cumprimentar-me.
- Que o prazer seja meu. Chamo-me Escarlate.
"Meu Deus!", pensei tão forte que acho que ouviram. Que nome lindo ela tinha. Nada melhor do que Escarlate. Era a cor das suas bochechas, das suas unhas e de seus sapatos. Pedi para que sentasse, pois parecia ter uma grande história a contar. Ela pareceu que iria resistir, mas cedeu sem insistência. às vezes, precisamos mesmo é de companhia.
- Porque veio para cá? Há de ter família em outro lugar que te guarde.
Ela parecia ter uns vinte anos no máximo.
- Venho a procura de outra vida. As que já tive me cansaram as pernas. Se eu pudesse passar por aqui, deitada numa rede, meus pés de bailarina exausta, agradeceriam sem hesitar.
- Você fala como artista. O que faz da vida?
- Faço arte. Danço, pinto e canto.
- Se fizesse mais, casaria contigo. - Dei umas risadas de velho, como se tivesse 47 anos.
- Bom, eu escrevo, também.
Até hoje, não sei se fez para que eu a pedisse em casamento, ou apenas para continuar a conversa e cortar meu barato. Acasos acabam me confundindo por inteiro. Decidi que iríamos ser amigos. Contei a ela sobre a minha infância e sobre meu ofício. Ela me disse da vida dura que teve e dos homens aos quais já pertenceu. Trocamos confidências, logo depois que pedi um vinho.
Nem pensei em Magnólia, nessa hora. Talvez ela estivesse lendo meus livros, relendo suas cartas antigas, como gostava de fazer. Lustrando os móveis, os talheres e as louças. Ou comemorando com as amigas, numa dança única, a alegria de ganhar e de perder. Magnólia era tão romântica. E bela, também.
Quando escarlate disse-me sua idade, arregalei os olhos espantado. Já havia chegado aos 32. Não lembro se disse que parecia mais nova, mas tenho certeza que disse das bochechas. Eu as amei de cara.
Nessa noite, eu a levei por toda a cidade, de madrugada, o que não era problema, porque havia muitas pessoas na rua e a noite parecia não acabar. Disse a ela sobre tudo e expliquei todos os mistérios da ilha.
Quando acabou, parei em frente a prainha, onde, incrivelmente, estava deserta. Logo naquele dia tão tumultuado. Ela me olhou como quem não devesse nada a ninguém, sorriu e foi correr pela areia. Fui logo após.
Eu posso dizer que nem Magnólia declamando poesia era tão bonita quando Escarlate correndo, como moça sem rapaz. Ela me chamava. E me seduziu completamente, fui vítima do poder feminino. Quando pude encostar nela, já não era sutil, era romântico. Toquei-lhe como me pediu pelos olhos e naquele dia eu experimentei de uma felicidade que achava que estava ausente para sempre.
Continuamos a nos ver um tempo, mas não muito tempo. Eu nunca fui de querer ter uma amante. Acho tão machista. Quis ter um papo com a dona, a que me possuía, de verdade, naquele tempo.
- Magnólia...
- Sim, querido?
Levantei-me e fingi uma dança, sorrindo e disse-lhe:
- Que se um cravo que tem uma tulipa, bonita como orquídea, viu uma rosa, vermelha de doer, ardeu de paixão, amor ou seja lá o que for. Deu-se de presente e triste ficou, porque a tulipa lhe esperava, mansa como uma margarida regada. Que há de fazerem os dois?
Magnólia fechou a cara. De flor, meu irmão, essa mulher entendia muito bem. Graças a Deus, ela era a mais calma que já havia conhecido, caso contrário teria levado um copo na cabeça.
Ela se sentou, me olhou fundo, querendo me atingir e disse-me:
- Ou se arranca a rosa vermelha do jardim, ou afastam o cravo e a tulipa. Que o destino do cravo ele que sabe, mas flor que é flor, exala para todos os lados.
Ela, como sempre, devolveu-me uma resposta bem melhor da que eu esperava. Olhei-a firme, querendo dizer que a amava, mas não adiantaria. Ela sabe o que sinto. Fiz que sim com a cabeça, que iria trancar-me no quarto e só sairia quando decidisse.
Maldita idéia. Como sou um homem de palavra, fiquei no meu quarto. Louco, pirado. Pensando comigo, falando e até, gritando. Seria Escarlate uma diversão, daquelas que o marido sempre tem depois de anos de casado? Ou seria o meu novo grande amor? Será possível que terei apenas um?
Dúvida infernal.
Sai do quarto. Decidi que jantaríamos os três, não escolhi nem uma, nem outra, mas havia decidido algo: o fim dessa trama não estava mais em minhas mãos, e sim nas delas.
No dia do jantar, Escarlate trouxe consigo Daniel, um amigo de longas datas, alegando que ele estava passando uns dias em sua casa.
O jantar foi melhor do que eu imaginava. Magnólia sempre educara e risonha. Ela era incrível demais. Fazia tudo sempre bem feito. A comida, então... Nem se fala.
Quando fui dormir, ela não disse uma palavra, apenas sorriu levemente. Eu acho que era um sorriso. Mas tudo bem, eu não queria papo, queria pensar.
Para resumir um pouco a história, passaram-se dois anos na mesma situação. E a rotina já havia me pregado a maior peça. Acho que até eu ri de mim, numa dessas tardes que o trem passa e não se ouve nada além dos barulhos do trilho.
Tina 39 anos quando Magnólia pediu divórcio. Eu poderia dizer que pirei quando ela veio me dizer isso. Disse, em tantos rodeios, que não aguentava mais minha farra de menino com duas moças e, independente do que eu dissesse, era assim que sucederia. Que eu podia fazer? Era vítima de tudo. Das mulheres sedutoras e das determinadas.
Fiquei morando sozinho. Quando soube que minha ex-esposa, havia ido morar com um holandês intelectual, tratei logo de trazer Escarlate pra dentro de casa.
Não nos casamos, mas eu me sentia casado. Engraçado, né, vida? Engraçadíssimo. Eu trazia cada dia uma flor diferente, mesmo que repetisse, de vez em quando, era diferente das semanas passadas. Ela dançava sempre para mim, cantava uma de suas novas canções no violão que dei-lhe.
Eu me sentia homem e o melhor de tudo: eu me sentia novo. Escarlate era tudo o que eu queria e tudo o que eu precisava. Sem pôr, nem tirar. Éramos eu, escarlate e os discos de vinil que ela trazia sempre.
Um dia ela trouxe comida chinesa. Nem sei de onde ela tirou. Estava com um perfume estranho e chegou dizendo que Daniel estava voltando à cidade e iria hospedar-se em nossa casa. Fiquei furiosos, sem demonstrar.
- Boa essa comida, né? Adoro a cozinha chinesa.
- Nem todo mau é completamente mau, e nem todo bom é completamente bom.
Ela fez uma cara de que não havia entendido. Então eu disse:
- Essa foi a única coisa que aprendi com os malditos chineses.
E me retirei da mesa, bravo. Bravo, mesmo. Quem era esse cara que vinha querer roubar minha felicidade e minha mulher? Não queria ele por perto.
Quando Daniel chegou, a casa virou um inferno. Eles ficavam até de madrugada conversando e ouvindo o vinil antigo que ele ganhara da avó, tomando o vinho que eu comprei. Eu, sentado, escrevia e fumava aquele charuto, observando-os discretamente.
Acabou que Daniel se mudou para nossa cidade, encontrou um casinha próxima a nossa. Eles se viam todos os dias. Eu ficava doido de pensar o que acontecia quando eu estava ausente.
Uma vez, me deram folga na redação. Não fui para casa. Comprei flores e fui visitar Magnólia e o holandês bonitão.
Eles me receberam bem, sem sustos e nem nada. Apenas alegria. Era o jeito dela: incrível. Mas assim que entrei na casa, notei algo estranho. Estranhíssimo. As paredes eram de madeira e os lustres pareciam cristais originais, caros. As louças, espalhadas pela casa faziam parte de uma famosa coleção chinesa. Os tecidos de todos os lugares: as cortinas, lençóis, panos e a maioria das roupas, eram tecidos indianos. Fiquei meio acanhado e desconfiado, mas imaginei que fosse idéia de Magnólia no ouvido do tal coitado. Mulher tem disso. E alguns homens também.
Depois desse dia, ela não parou de me ligar e me procurar. Nos viámos algumas vezes. Eu prefiria ficar em casa, observando Escarlate e Daniel. Odeio esse nome... Daniel.
Certa vez, Magnólia me chamou para visitá-la e, para minha surpresa, o galã estava ausente. E, sem mais delongas, fui novamente a vítima. Ela me seduziu e passamos a noite juntos. Foi maravilhoso.Ela nunca esteve tão perfeita.
Ao entrar em casa, Escarlate me fuzilou com os olhos e gritava, furiosa, perguntando onde é que eu estive, que cheiro era aquele, por que estava com cabelo desarrumada e por que eu queria tomar banho. Eram tantas perguntas que nem sei se ela queria saber as respostas.
Mas como eu era honesto, respondi:
- Passei a noite com Magnólia.
Ela nunca gritou tanto em sua vida. Estava muito nervosa. Acho que fez jus ao seu nome, de uma vez por todas. Eu, que já nem ligava, estava gostando daqueles ciumes, daquela atenção só pra mim, nem que fosse pra brigar comigo. E, por fim, disse que se eu não a visse nunca mais, ela não me deixaria. Eu concordei. Mas a verdade foi que não conseguia parar de vê-la. Principalmente, quando soube que o tal holandês era um modelo homossexual, tentando passar de hétero para a família, em um momento trágico de sua vida. Eu ri demais de mim mesmo.
- Se não fosse isso, talvez nem teria chamado Escarlate para morar comigo.
Foi o que disse quando Magnólia revelou-me a verdade. Rimos bastante nesse dia. Ela leu alguns poemas, enrolada em lençóis indianos. E eu contei de algumas crônicas da vida, momentos que ela perdeu estando com ele.
Aconteceu que terminei com Escarlate, pois descobri que ela tinha um caso com Daniel. Finalmente! Desejei felicidade, mas bem longe da cidade. Não que eu quisesse fazer rima.
Magnólia voltou ao lar. Compramos um gato, branco e velho. Para nos acompanhar a idade. Já tinha 48 anos.
Vivemos muito bem nossos dias. Viajamos bastante, e dividíamos todas as tarefas e todo o carinho. Mas ela adoeceu, uma tuberculose das braba atingiu minha amada e ela se foi ao encontro do paraíso, seu jardim oficial.
Eu fiquei só. E até hoje estou. Dez anos depois, não quis nenhuma outra mulher. Nem Escarlate, maldita escarlate, nem nenhuma outra com bochechas avermelhadas ou que me pedissem dinheiro. Eu me trancava em casa, mesmo aposentado, escrevia cartas a ela. Cartas destinadas ao céu. Cozinhava suas comidas preferidas. Comparava talheres de prata, para agradá-la. Uma vez, juntei dinheiro e comprei um lustre, muito chique. Acho que ela deve ter chorado, porque choveu muito.
De qualquer maneira, meu filho, eu lhe escrevo esses sentimentos para que não se esqueça que esse homem velho, que já parte, nunca deixou de amar sua mãe, mesmo enganado pela paixão. A paixão dói e é vermelha. Esses pedaços da minha vida, eu já havia escrito esperando exatamente essa ocasião.
Queria me desculpar pela ausência na vida dos meus netos. Eu virei avô muito cedo, estava ainda vivendo a vida com duas mulheres incríveis. Espero que me entenda, mas não faço questão de me justificar. Já estou partindo. E quando eu for de vez encontrar sua mãe no jardim dela, você pode ficar com tudo o que tenho. Todas as jóias antigas, os livros, a casa, a fornalha do porão e as minhas experiências poéticas. Tudo.
Bom, Cauã, manda um beijo pra Júlia, pro Pedro e para os meninos da Renata Galvão. Por favor, doe os meus órgãos e escreva na minha lápide o que quer que seja, mas que seja um adeus. Agora vou tomar meu remédio, e se eu morrer até lá... Boa sorte.
Abraços e sorrisos,
Papai.
Há sempre um certo dia em que se decide tudo sobre tudo, mesmo que possamos voltar atrás e mudar o quadro, saberemos, nós e todos que nos rodeiam, que houve uma vez que fizemos a decisão separando, em um ponto crucial de nossa biografia, o antes de o depois.
Mas eu admito que não esperava esse dia tão cedo. A gente parece viver mais do que pensa. E cedo não significa que eu era adolescente, nem tampouco jovem. Havia chegado aos 37 anos, tinha mulher e um filho já casado. É. Fui naquela onda hippie-underground e tive Cauã aos 17 anos. Casei-me cedo. Cansei de casar mais cedo ainda. Minha esposa chama-se Magnólia. Que mania de flor que esse pessoal tinha. Era Dona Rosa aqui, Rosália ali, uma Margarida para não sobrar. Já vi até Tulipa, juro. E para piorar a irmã de Magnólia tinha um nome mais florido ainda: Angélica do Rosário.
Voltando ao assunto principal, na época em que tive meu dia decisivo, eu já nem me sentia casado. Eu e Magnólia nos relacionávamos rotineiramente, como um trabalho. Eu acordava cedo para ir à redação, ela fazia o café e a janta, pois na hora do almoço ia para o consultório, era psicóloga. Encontrávamo-nos às 21h para rimos do filme velho da televisão e dormirmos abraçados, como jovens em lua-de-mel. Pode parecer romântico, mas eu já achava cansativo. O sexo vinha no máximo três vezes na semana.
Eu sempre pensei que quando fosse estar casado há vinte anos com alguém, eu fosse ser o homem mais gentil e cavalheiro do mundo. E eu era, mas eu pensava que as minhas atitudes fariam da rotina, uma aventura a cada dia. Mas não foi bem isso que meu destino quis.
O dinheiro que ganhávamos era suficiente, quando sobrava, eu comprava livros e ela flores, talheres de prata ou louça de cristal. Mulher tem disso.
Eis aí o meu prefácio. Até o dia, que me lembro bem, foi quando o time de futebol de salão do pessoal do jornal tinha ganhado o campeonato regional. Dia 27 de março de 1988. Todo o povo da cidade se movimentou para ver a final do campeonato, assim que acabou, a multidão de fãs, loucos ou indiferentes se apossaram dos bares da cidade. Nunca vi tanta gente querendo beber de uma vez. Alguns comemoravam, outros choravam pelos problemas do dia, mas a maioria estava ali por não haver mais o que fazer.
Esse dia era mesmo para ter sido excepcional, já que eu não estava lotado de trabalho e me dei ao luxo de sentar à mesa de um café, pedir um capuccino com chocolate e tentar umas prosas em uns papéis perdidos.
Não sei se mulheres bonitas que querem passar despercebidas escolhem dias como esse para surgirem na cidade, mas sei que ela decidiu por assim fazer. Eu estava com um charuto, antigo, que meu chefe havia me dado, por alguns favores comuns que fazemos à homens como chefes. E forçava uma cara de intelectual, bem, de mais intelectual, porque quando se é jornalista essa cara vem sem querer. Rabiscando um dos incontáveis guardanapos que havia na mesa. É sério, eles pareciam intermináveis, quase diziam que eu deveria ficar ali até o amanhecer.
Ao levantar meu pequenos olhos cor-de-mel, eu a avistei. Se era cena de filme, ou não, eu não conseguia desgrudar o olhar de seus pés, suas sandálias, seu andar e de tudo. Era um pacote de presente. E eu queria para mim, claro. Iria completar 38 em uma semana.
Por acaso do destino, ela tropeçou e derramou todos os papéis que estavam em minha mesa. Eu fingi que eram importantes, e usei meus dons de ator para convencê-la disso.
- Não deixe escapar um. Sem eles eu estou ferrado.
A moça se assustou, mas foi uma reação normal. Um pouco ou bastante (tanto faz) encabulada, ela olhou-me de canto, que só via sua bochechas rosadas, dizendo palavras tão sutis que quase não ouvi. eu estava em transe, ainda.
Despertei quando ela estendeu a mão para cumprimentar-me.
- Que o prazer seja meu. Chamo-me Escarlate.
"Meu Deus!", pensei tão forte que acho que ouviram. Que nome lindo ela tinha. Nada melhor do que Escarlate. Era a cor das suas bochechas, das suas unhas e de seus sapatos. Pedi para que sentasse, pois parecia ter uma grande história a contar. Ela pareceu que iria resistir, mas cedeu sem insistência. às vezes, precisamos mesmo é de companhia.
- Porque veio para cá? Há de ter família em outro lugar que te guarde.
Ela parecia ter uns vinte anos no máximo.
- Venho a procura de outra vida. As que já tive me cansaram as pernas. Se eu pudesse passar por aqui, deitada numa rede, meus pés de bailarina exausta, agradeceriam sem hesitar.
- Você fala como artista. O que faz da vida?
- Faço arte. Danço, pinto e canto.
- Se fizesse mais, casaria contigo. - Dei umas risadas de velho, como se tivesse 47 anos.
- Bom, eu escrevo, também.
Até hoje, não sei se fez para que eu a pedisse em casamento, ou apenas para continuar a conversa e cortar meu barato. Acasos acabam me confundindo por inteiro. Decidi que iríamos ser amigos. Contei a ela sobre a minha infância e sobre meu ofício. Ela me disse da vida dura que teve e dos homens aos quais já pertenceu. Trocamos confidências, logo depois que pedi um vinho.
Nem pensei em Magnólia, nessa hora. Talvez ela estivesse lendo meus livros, relendo suas cartas antigas, como gostava de fazer. Lustrando os móveis, os talheres e as louças. Ou comemorando com as amigas, numa dança única, a alegria de ganhar e de perder. Magnólia era tão romântica. E bela, também.
Quando escarlate disse-me sua idade, arregalei os olhos espantado. Já havia chegado aos 32. Não lembro se disse que parecia mais nova, mas tenho certeza que disse das bochechas. Eu as amei de cara.
Nessa noite, eu a levei por toda a cidade, de madrugada, o que não era problema, porque havia muitas pessoas na rua e a noite parecia não acabar. Disse a ela sobre tudo e expliquei todos os mistérios da ilha.
Quando acabou, parei em frente a prainha, onde, incrivelmente, estava deserta. Logo naquele dia tão tumultuado. Ela me olhou como quem não devesse nada a ninguém, sorriu e foi correr pela areia. Fui logo após.
Eu posso dizer que nem Magnólia declamando poesia era tão bonita quando Escarlate correndo, como moça sem rapaz. Ela me chamava. E me seduziu completamente, fui vítima do poder feminino. Quando pude encostar nela, já não era sutil, era romântico. Toquei-lhe como me pediu pelos olhos e naquele dia eu experimentei de uma felicidade que achava que estava ausente para sempre.
Continuamos a nos ver um tempo, mas não muito tempo. Eu nunca fui de querer ter uma amante. Acho tão machista. Quis ter um papo com a dona, a que me possuía, de verdade, naquele tempo.
- Magnólia...
- Sim, querido?
Levantei-me e fingi uma dança, sorrindo e disse-lhe:
- Que se um cravo que tem uma tulipa, bonita como orquídea, viu uma rosa, vermelha de doer, ardeu de paixão, amor ou seja lá o que for. Deu-se de presente e triste ficou, porque a tulipa lhe esperava, mansa como uma margarida regada. Que há de fazerem os dois?
Magnólia fechou a cara. De flor, meu irmão, essa mulher entendia muito bem. Graças a Deus, ela era a mais calma que já havia conhecido, caso contrário teria levado um copo na cabeça.
Ela se sentou, me olhou fundo, querendo me atingir e disse-me:
- Ou se arranca a rosa vermelha do jardim, ou afastam o cravo e a tulipa. Que o destino do cravo ele que sabe, mas flor que é flor, exala para todos os lados.
Ela, como sempre, devolveu-me uma resposta bem melhor da que eu esperava. Olhei-a firme, querendo dizer que a amava, mas não adiantaria. Ela sabe o que sinto. Fiz que sim com a cabeça, que iria trancar-me no quarto e só sairia quando decidisse.
Maldita idéia. Como sou um homem de palavra, fiquei no meu quarto. Louco, pirado. Pensando comigo, falando e até, gritando. Seria Escarlate uma diversão, daquelas que o marido sempre tem depois de anos de casado? Ou seria o meu novo grande amor? Será possível que terei apenas um?
Dúvida infernal.
Sai do quarto. Decidi que jantaríamos os três, não escolhi nem uma, nem outra, mas havia decidido algo: o fim dessa trama não estava mais em minhas mãos, e sim nas delas.
No dia do jantar, Escarlate trouxe consigo Daniel, um amigo de longas datas, alegando que ele estava passando uns dias em sua casa.
O jantar foi melhor do que eu imaginava. Magnólia sempre educara e risonha. Ela era incrível demais. Fazia tudo sempre bem feito. A comida, então... Nem se fala.
Quando fui dormir, ela não disse uma palavra, apenas sorriu levemente. Eu acho que era um sorriso. Mas tudo bem, eu não queria papo, queria pensar.
Para resumir um pouco a história, passaram-se dois anos na mesma situação. E a rotina já havia me pregado a maior peça. Acho que até eu ri de mim, numa dessas tardes que o trem passa e não se ouve nada além dos barulhos do trilho.
Tina 39 anos quando Magnólia pediu divórcio. Eu poderia dizer que pirei quando ela veio me dizer isso. Disse, em tantos rodeios, que não aguentava mais minha farra de menino com duas moças e, independente do que eu dissesse, era assim que sucederia. Que eu podia fazer? Era vítima de tudo. Das mulheres sedutoras e das determinadas.
Fiquei morando sozinho. Quando soube que minha ex-esposa, havia ido morar com um holandês intelectual, tratei logo de trazer Escarlate pra dentro de casa.
Não nos casamos, mas eu me sentia casado. Engraçado, né, vida? Engraçadíssimo. Eu trazia cada dia uma flor diferente, mesmo que repetisse, de vez em quando, era diferente das semanas passadas. Ela dançava sempre para mim, cantava uma de suas novas canções no violão que dei-lhe.
Eu me sentia homem e o melhor de tudo: eu me sentia novo. Escarlate era tudo o que eu queria e tudo o que eu precisava. Sem pôr, nem tirar. Éramos eu, escarlate e os discos de vinil que ela trazia sempre.
Um dia ela trouxe comida chinesa. Nem sei de onde ela tirou. Estava com um perfume estranho e chegou dizendo que Daniel estava voltando à cidade e iria hospedar-se em nossa casa. Fiquei furiosos, sem demonstrar.
- Boa essa comida, né? Adoro a cozinha chinesa.
- Nem todo mau é completamente mau, e nem todo bom é completamente bom.
Ela fez uma cara de que não havia entendido. Então eu disse:
- Essa foi a única coisa que aprendi com os malditos chineses.
E me retirei da mesa, bravo. Bravo, mesmo. Quem era esse cara que vinha querer roubar minha felicidade e minha mulher? Não queria ele por perto.
Quando Daniel chegou, a casa virou um inferno. Eles ficavam até de madrugada conversando e ouvindo o vinil antigo que ele ganhara da avó, tomando o vinho que eu comprei. Eu, sentado, escrevia e fumava aquele charuto, observando-os discretamente.
Acabou que Daniel se mudou para nossa cidade, encontrou um casinha próxima a nossa. Eles se viam todos os dias. Eu ficava doido de pensar o que acontecia quando eu estava ausente.
Uma vez, me deram folga na redação. Não fui para casa. Comprei flores e fui visitar Magnólia e o holandês bonitão.
Eles me receberam bem, sem sustos e nem nada. Apenas alegria. Era o jeito dela: incrível. Mas assim que entrei na casa, notei algo estranho. Estranhíssimo. As paredes eram de madeira e os lustres pareciam cristais originais, caros. As louças, espalhadas pela casa faziam parte de uma famosa coleção chinesa. Os tecidos de todos os lugares: as cortinas, lençóis, panos e a maioria das roupas, eram tecidos indianos. Fiquei meio acanhado e desconfiado, mas imaginei que fosse idéia de Magnólia no ouvido do tal coitado. Mulher tem disso. E alguns homens também.
Depois desse dia, ela não parou de me ligar e me procurar. Nos viámos algumas vezes. Eu prefiria ficar em casa, observando Escarlate e Daniel. Odeio esse nome... Daniel.
Certa vez, Magnólia me chamou para visitá-la e, para minha surpresa, o galã estava ausente. E, sem mais delongas, fui novamente a vítima. Ela me seduziu e passamos a noite juntos. Foi maravilhoso.Ela nunca esteve tão perfeita.
Ao entrar em casa, Escarlate me fuzilou com os olhos e gritava, furiosa, perguntando onde é que eu estive, que cheiro era aquele, por que estava com cabelo desarrumada e por que eu queria tomar banho. Eram tantas perguntas que nem sei se ela queria saber as respostas.
Mas como eu era honesto, respondi:
- Passei a noite com Magnólia.
Ela nunca gritou tanto em sua vida. Estava muito nervosa. Acho que fez jus ao seu nome, de uma vez por todas. Eu, que já nem ligava, estava gostando daqueles ciumes, daquela atenção só pra mim, nem que fosse pra brigar comigo. E, por fim, disse que se eu não a visse nunca mais, ela não me deixaria. Eu concordei. Mas a verdade foi que não conseguia parar de vê-la. Principalmente, quando soube que o tal holandês era um modelo homossexual, tentando passar de hétero para a família, em um momento trágico de sua vida. Eu ri demais de mim mesmo.
- Se não fosse isso, talvez nem teria chamado Escarlate para morar comigo.
Foi o que disse quando Magnólia revelou-me a verdade. Rimos bastante nesse dia. Ela leu alguns poemas, enrolada em lençóis indianos. E eu contei de algumas crônicas da vida, momentos que ela perdeu estando com ele.
Aconteceu que terminei com Escarlate, pois descobri que ela tinha um caso com Daniel. Finalmente! Desejei felicidade, mas bem longe da cidade. Não que eu quisesse fazer rima.
Magnólia voltou ao lar. Compramos um gato, branco e velho. Para nos acompanhar a idade. Já tinha 48 anos.
Vivemos muito bem nossos dias. Viajamos bastante, e dividíamos todas as tarefas e todo o carinho. Mas ela adoeceu, uma tuberculose das braba atingiu minha amada e ela se foi ao encontro do paraíso, seu jardim oficial.
Eu fiquei só. E até hoje estou. Dez anos depois, não quis nenhuma outra mulher. Nem Escarlate, maldita escarlate, nem nenhuma outra com bochechas avermelhadas ou que me pedissem dinheiro. Eu me trancava em casa, mesmo aposentado, escrevia cartas a ela. Cartas destinadas ao céu. Cozinhava suas comidas preferidas. Comparava talheres de prata, para agradá-la. Uma vez, juntei dinheiro e comprei um lustre, muito chique. Acho que ela deve ter chorado, porque choveu muito.
De qualquer maneira, meu filho, eu lhe escrevo esses sentimentos para que não se esqueça que esse homem velho, que já parte, nunca deixou de amar sua mãe, mesmo enganado pela paixão. A paixão dói e é vermelha. Esses pedaços da minha vida, eu já havia escrito esperando exatamente essa ocasião.
Queria me desculpar pela ausência na vida dos meus netos. Eu virei avô muito cedo, estava ainda vivendo a vida com duas mulheres incríveis. Espero que me entenda, mas não faço questão de me justificar. Já estou partindo. E quando eu for de vez encontrar sua mãe no jardim dela, você pode ficar com tudo o que tenho. Todas as jóias antigas, os livros, a casa, a fornalha do porão e as minhas experiências poéticas. Tudo.
Bom, Cauã, manda um beijo pra Júlia, pro Pedro e para os meninos da Renata Galvão. Por favor, doe os meus órgãos e escreva na minha lápide o que quer que seja, mas que seja um adeus. Agora vou tomar meu remédio, e se eu morrer até lá... Boa sorte.
Abraços e sorrisos,
Papai.