estrela da manhã


O sol brilhava leve, como um rei em seu trono, mas mais como um deus. Era a primeira vez que experimentava aquela sensação em anos. A vontade de tirar os sapatos e sentir o chão cru sob meus pés. Contive o desejo e me sentei num dos bancos vazios. Acho que por ter passado por ela tantas vezes em tão pouco tempo, acabei criando uma relação afetiva quase íntima com aquela praça.

"A morte é só uma parte". Pensei tanto nessa frase que acabei falando. A morte é como uma porta misteriosa. Existem apostas, mas com tantas opções, reservo-me o direito de acreditar que a morte é só uma parte da vida, assim como o nascer.

Continuo desse lado, tentando saber como está aí. Um pouco mais iluminado com a sua chegada - guardo essa certeza. São mundos tão próximos que, sei, volta e meia você me manda uma mensagem pra dizer que está bem, como se estivesse numa longa viagem. E, aceitando a metáfora, acho que esteja mesmo. Estamos.

Dia desses chorei feito uma criança. Minto. Chorei feito um adulto, o que é bem pior. Sabe quando a gente chora meio sem motivo, mas quando pensa tem pelo menos uma dezena deles? Você sabe. Você sempre entendia e, volta e meia, compartilhávamos desse momento.

Mas aí, de repente, um sol majestoso, triunfante. De repente, a beleza, a calmaria, a paz, a serenidade, o equilíbrio. De repente, depois de tanto frio, o calor. E ele parecia me dizer qualquer coisa, feito um assobio agradável. Fechei os olhos e sorri. Não sei o que disse ao certo, mas senti aquele desejo imediatamente, o de ficar descalça. De sentir a vida em sua essência, com a forte sensação de que, de alguma forma, estava tudo bem.

De alguma maneira... Tudo estava no seu devido lugar.

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