Origami de mim

Ontem eu caí. Foi uma queda rápida que não ficou na lembrança de quase ninguém, nem na minha. Por um segundo, a gravidade não fez o mesmo sentido que fazia. Pesou demais. Esqueci as lições de equilíbrio e na mente vieram os primeiros passos. Época boa de sorrisos, em que tudo é novidade e existe todo amor do mundo pra te receber. Boa, mas passa, como tudo passa, inclusive aquele dia em que nos vimos e eu senti que poderia te amar pro resto da vida. Passou. Como eu passei por você sem notar. Só vi depois, inclusive: desculpa. Caí, mas não me lembro como foi. Sei que caí porque ainda me doem os ombros, o rosto, os dedos. Tudo dói como se a gravidade, ela mesma me pegasse pelas mãos, me dobrasse e fizesse um lindo origami. Origami de mim. Torço para que seja um tsurus.

Acho que é isso que tem acontecido, afinal. Caí e nem percebi. Foi tão rápida e tão astuta a vida, em me tirar do eixo. Rápida em me tirar o equilíbrio que construí ao longo dessas últimas décadas. Tudo ruiu e agora eu fico sem saber bem como foi que começou o fim do que havia antes aqui. Agora tudo em mim doi. É aquele poema de uma frase que escrevi tempos atrás, sem saber que era um prelúdio da minha própria história. "Eu não sou mais eu, mas só eu sei disso", eu escrevi, como se psicografasse um conselho de mim pra mim. Tola, não entendi antes. Agora entendo, no sentido mais estrito que a palavra pode ter. Agora vivo e a certeza de que não sou mais eu está dentro do meu peito. E bate mais rápido do que nunca bateu. Ontem eu caí. Hoje ainda estou tentando me levantar.

You May Also Like

0 Comentário(s)