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Cortes Lentos

Este blog reúne o trabalho literário da escritora capixaba-carioca Isabella Mariano.

04 de fevereiro de 2065

Mais um dia acordei. Quer dizer, espero ter acordado. Ilusão e realidade se confundem nesse lugar. É o fim. Tudo tão trágico, começo a perder a capacidade de identificar cores. Cada vez mais preto e branco. Preto no branco. Agora todos podem entender, pois todos vivem essa miséria. Os republicanos podem ver, digo, sentir que suas decisões tão encobertas os levaram ao abismo. E que abismo. Tyran a cada dia desrespeita o mundo. Tento imaginar sua concepção de mundo e humanidade, o cara é louco (Ainda sei gírias!). Penso que sua mansão deve ser de ouro, ouro branco. Dourado já nem vejo.
Porém, hoje manifestou-se em mim algo que não sentia há muito tempo: fui me pesar. Estava preocupada comigo mesma. Estranho. 40 Kilos. Achei absurdo, mas de tanto absurdo ficou normal. Solidão, vícios, suicídio, incesto, protituição... Tanto faz, era tudo normal. Forcei e consegui me lembrar daquele ditado que minha avó dizia: uma mentira repetida muitas vezes, torna-se verdade. Acho que era isso e se não fosse, virou.
Olho da janela e imagino quem pode estar vivendo bem. Tyran e seus aliados, os governantes dos outros continentes. Lembrei-me dos assuntos de minha avó, daquela alegria pela descoberta de mil e uma tecnologias que nem sei mais o nome. Músicas, tudo moderno. Sociedade aceitando de tudo. É passado. Esperança foi embora, junto com o senso crítico, junto com a vida.
Nem sei que data era, ou se estava perto de algum dia que costumava ser festivo, mas a vontade de estar em família me dominou. acabei por encarar uma velha fotografia, que enquadrava minha velha infância, minha velha família. Meu velho mundo.
Parece que tenho cem anos. Quanta coisa mudou.
30 de janeiro de 2065

A fascinação por números, lembrou-me de olhar a hora. Ainda que eu não tivesse um relógio, saberia que era momento de encontra-me. Não sei, porém, o complemento da frase anterior, mas alegria é sempre bem-vinda e meus anseios não passam de um clichê por liberdade e fraternidade ou paz e amor.
Quatorze horas, vinte e três minutos e dez segundos, onze segundos, doze segundos. A velocidade do tempo me embrulha o estômago. Há um espelho olhando meu corpo desnudo. Observo a vil matéria de que sou feita: carne, cor, luz. Penso, logo existo.
Braços finos, perfurados por um calmante, um relaxante. Droga. Pêlos que me lembram da origem, dos macacos. Minha íris e meu cabelo arrancam-me lágrimas. Eu me senti idêntica a minha mãe. Esta que vôou para os jardins suspensos. Maneira poética de dizer que seu antigo namorado a encheu de porrada até vê-la sangrar a alma.
Eu nunca quis usar drogas, nunca pensei em fazer essas coisas. Mas se os astros fizeram questão de me tirar o fôlego, vivo como zumbi. Vagando, vagando. Tentando me achar. Por que eu nunca disse a ninguém? Porque é o meu remédio, minha salvação. Fujo para um universo paralelo, em busca de felicidade e a encontro, pois nesse inferno não há mais luz.
Depois escrevo mais sobre o futuro da humanidade. Até, quem sabe, amanhã.
Que me desculpem os alegres. Os que acabaram de casar, os que foram promovidos, os que tiveram um filho... Que me desculpem os que receberam aumento, ganharam um prêmio ou foram os primeiros... Estou com a metade do copo vazia.
Mente fazia é oficina do mal, mesmo. Como dizem. O passado regressou, como um rival violento, armado dos pés à cabeça, de arco e flecha à bomba atômica. Rasgou-me os fios do tecido do coração e da memória, quebrou todos os quadros e disse que eu havia perdido as chances de ser feliz.
Quanta destruição para uma pequena como eu. Mas eu lhe dei ouvidos. Nostalgia estúpida. Larguei tudo o me fazia bem. Perdi minhas chances e pior, fui substituída por algo bem... melhor.
Não é dramático? Sem vida? É. E eu estou aqui. Sentindo, doendo, sem poder gritar para ninguém. Na verdade, preciso ouvir uns casos piores. Uma cara espancada, uma filha estuprada... Quem sabe assim eu não tome vergonha na minha cara pálida e pare de sofrer por bobeira.
Sinto muito pessoas felizes, mas estou triste nesse segundo. Até derramei umas lágrimas. Eu também sou como vocês, alegre...Só que me toquei do copo. Metade vazio e refleti.
Que seja.
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Isabella Mariano
Isabella Mariano nasceu em 1992, no Rio de Janeiro, mas logo se mudou para Vitória. É jornalista, escritora, designer e mestre em Comunicação e Territorialidades. Em 2013, publicou o livro "gotas" e, em 2015, o "Cortes Lentos" - ambos de poemas.
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