Confidencial, desculpe

Quando a conheci, dei meus pulinhos e quase cortei o dedo de promessa que quis pagar. Mas depois me acerto com o povo que me abençoou com a pequena. Ela era linda demais. Tinha olhos verdes, uma pele morena de Sol e cabelos castanhos. Ao vento, parecia famosa. Mas era criança, ainda.
Havia dois anos que decidi obtê-la. Ela era muito ingênua, dizia tudo sem pensar e eu nada falava, quando dizia era só invenção.
Não, não sou canalha, moças. Só pensei em protegê-la. Aos meus olhos, parecia tão indefesa. Queria contar-lhe meus anos vividos, porém todas as vezes que eu tentava me pronunciar, ela pedia que eu a empurrasse no balanço. Que sofrimento. Quisera eu ter dito antes...
Nos conhecemos no parque perto da casa de meu pai. Eu estava lendo e ela correndo por aí. Só parou quando tropeçou em meu pé. Aí viramos amigos em um só olhar.
Certa vez, quando faziámos piquenique, ela deixou escapar que estava apaixonada. Eu me irei de maneira tão brusca que, acreditem, quebrei todos os biscoitos. Ela ficou mais brava ainda e me bateu. Cecília era um doce, mas se estressava, facilmente. Chegava a ser engraçado - ou tenebroso.
Há alguns anos atrás -10 para ser mais exato - sentei-me com minha pequena criação para dizer-lhe quem sou e de onde vim. Ela estava completando seus 18 aninhos, e eu já passava dos 50. Sim, meus caros, eu esperei que ela alcançasse a maioridade para explicar-lhe os motivos de tudo.
Sentamos juntos, em um restaurante do centro. Caríssimo. Eu quis agradar, é claro. E comecei a contar meus longos fios brancos.
Disse-lhe que logo quando nos conhecemos, eu havia acabado de sair da prisão. Há 12 anos estava preso, incomunicável. Sem ninguém que se lembrasse da falta que eu fazia. Sem qualquer pessoa que pudesse notar ou cogitar a idéia de que eu estava me sentindo só. E foi nesse tempo, que aprendi a me calar e ouvir.
Ela ficou pálida. Nâo podia acreditar que eu, o homem que sempre respeitou, era uma fora da lei. Eu engoli seco e não desisti de minha missão.
Continuei a dizer que aquele dia - que nos conhecemos - eu estava experimentando a liberdade. Havia comprado um livro na banca e parado no parque para ler. Nem quis pensar como iria me fixar novamente no mundo. Foi quando a vi, correndo, mais livre que eu. Mais que os pássaros. Eu me apaixonei pela inocência, pela liberdade com que corria e sorria (nessa hora ela suavizou a expressão).
Queria dizer que nunca menti, mas omiti tanto a verdade que mentir já nem era o problema central. Não mudaria nada a minha grande enrrolação.


(Escrito e inacabado em 01.03.2009 || Para um querido amigo marcos)

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