Memória

O que chamariam de ato falho eu chamei de ímpeto. Segurei bem firme minha vontade, com as duas mãos, esmagando meus pequenos dedos uns nos outros. Quis dizer, na verdade, gritei o que sentia. Precisei do ridículo para ser vista. Mas ninguém olhou. E quem viu, não sentiu. Só pensou e riu. O que me conforta é poder escrever tudo isso no passado. Um pretérito perfeito, totalmente acabado. E será esquecido, como tudo o que passa e não volta.

Se o tempo puder passar um pouquinho mais rápido, talvez eu também ria desse pretérito. Dessa vontade, desse ímpeto. Mas hoje não. Escolhas são portas. Decidir por uma é afirmar com toda certeza que todas as outras estão sendo descartadas. Eu posso desistir, mudar de ideia, dar meia volta. Mas um fantasma sempre virá me lembrar.

Fantasmas não da memória minha, particular e individual, mas alheia. São incontroláveis, imbatíveis. Foi sobre eles que falei: os juízes da terra. Andam com meias nos pés para não serem ouvidos, usam óculos escuros para não serem decifrados e atacam com uma descarga elétrica assustadora. A esses, pelo menos, posso dizer não. Posso ignorar, posso não ouvir.

A mim, porém, não sei calar. A voz ecoa e repete o quanto for preciso, para que eu mude de ideia e volte a me encaixar naquela forma. Vou rejeitar as expectativas e já estou pagando minhas contas. Uma injeção na consciência e tudo se faz bem.

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1 Comentário(s)

  1. Mas se o tempo correr, é capaz de você perder o bonde e chegar tarde para aproveitar o que há de bom ainda. Sem fantasmas, porém com sorrisos que realmente importam.

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