Primeiras vezes

Eu andei pensando sobre as primeiras vezes. É que abri meu livro de listas e, lá, como se fosse um tapa de luvas, havia uma lista de primeiras vezes me convidando a falar de mim. Tinha o primeiro beijo. Lembro bem como e quando, porque foi num show do Dead Fish e depois eu me apaixonei desastrosamente. Coisa de quem não conhece bem a vida. O primeiro vício que, peço a deus, sejam os livros. O primeiro carro, a primeira religião. E depois um monte de "primeiro(a)" com espaços vazios para que eu mesma entrasse na minha própria cabeça oca e definisse quais primeiras vezes me foram importantes e nossa...

Coloquei lá o primeiro emprego, o primeiro namorado e parei. Não há tantos espaços vazios assim e eu só tenho 26 anos pra agarrar cegamente e sem dor a certeza de que me foram encerradas as oportunidades de viver algumas mais primeiras vezes. Me nego a crer. Lembro que em 2015, em Curitiba, vivi primeiras vezes quase imorais. Dividir um apartamento, morar por um mês numa pensão, chorar quando um recém-conhecido me cantava Tim Maia, um biscoito batizado, um casal querido que me tomou pela mão e quase que me toma pelo coração com aqueles cafés da manhã divinos...

2013 também me permitiu essa dádiva. Amores mal amados, corações quebrados, festas, chão que dormi com litros de álcool na cabeça. Amores fortes que, mal sabia, permaneceriam. E permanecem. Dá, de repente, uma saudade estranha, atípica. E um medo também.

Essa coisa que a gente vai pegando jeito de fugir das primeiras vezes. Essa mania de preferir o que já é previsível e depois chorar noites reclamando da chatice, do tédio, do "já vi tudo isso acontecer", já li esse livro... E, de repente, numa noite chata, numa terça-feira qualquer, em que o trabalho tá atrasado, mas você já fez o que podia ter feito, e a família insiste em derramar seus dramas em você como se o próprio Jesus lhe houvesse iluminado a ideias... Nesse dia comum como qualquer outro, você sente uma saudade incomum. E gosta de repetir que é saudade do que não viveu. Besteira! É poesia só e poesia, a gente bem sabe, é meio inútil.

Só dá pra sentir saudade do que viveu, oras, e sobre isso estou bem certa haha É saudade de conhecer o novo, de se deslumbrar nos inícios tão curiosos que nos fazem ficar acordados à noite pensando "como?", que nos deixam vermelhos quando dizem o que não esperávamos, saudade de um sentimento gostoso como se sentir querido tipo na barriga da mãe. Saudade de ver o interfone tocar e ser alguém inesperado. Saudade de experimentar alguma coisa, qualquer coisa, pela primeira vez...

Esses dias me deu saudade de conhecer um monte de gente que já me é amor de novo. De ler de novo Clube da Luta como se eu não soubesse a coisa do Tyler com o Jack, sabe? Saudade da surpresa que é não saber o que vai acontecer. E não é como se a gente soubesse de alguma coisa, mas tem uma sensação que fica, depois de anos vendo a coisa acontecer, e que coloca na'gente essa ideia de saber o que será, sem muitas chances de se surpreender. 

Enfim, esses dias me deu saudade. 
E olha que nem tava chovendo...

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