"Você é tão diferente"

Depois de burra veia, vim notar o quão sexualizada fui na minha puberdade/adolescência. Eu mesma não sabia bem os limites. Já me achava adulta, porque a vida às vezes empurra a gente pra esse lugar. Especialmente se você é menina. Meu primeiro beijo foi aos 12 anos com um homem 10 anos mais velho por quem me apaixonei profundamente, como a criança que era. Eu era sempre diferente. Era inteligente pra minha idade. Ouvia muito esse tipo de coisa e gostava. Satisfazia um ego e um desejo de não ser burra e louca como todos achavam que crianças e adolescentes eram. Talvez por isso mesmo hoje eu dê tanto valor pro que pessoas dessa idade pensam... 

"Não é a mesma coisa... Conversar com você e conversar com as meninas da minha idade". Ouvi isso de mais de um, mais de dois homens, em diferentes idades. A conversa padrão se repetiu entre meus 12 e 16 anos. É o tipo de coisa que conquista qualquer garota. "Você, hein? Você é mesmo surpreendente". Quando falava coisas que, pra eles, eram óbvias. Depois dos 18, isso começou a parar de acontecer e, depois dos 21, era o fim da Isabella diferente. E olha que hoje em dia me considero ainda mais diferente e sagaz do que aos 13.

Esses dias estive pensando nisso tudo e em como é difícil manter relações amorosas e em tudo. E, bom, se eu era minimamente inteligente com 12, 14, 17 anos, hoje em dia eu o sou ainda mais, oras. E nem é essa palavra mesmo porque inteligente todo mundo é. inteligência é uma faculdade que a gente exerce, cada um à sua medida. Não é pra me gabar, mas já me gabando, eu gosto mesmo é de fazer conexões, o maior número delas - apesar de ter um cérebro pequenininho. E acho que é isso que "imprime" inteligência pras pessoas.

Então, o que mudou de fato de lá pra cá? Por que não ouço mais esse tipo de coisa? Muita coisa. Mas, em especial, o corpo. O corpo franzino de uma menina, magricela, inocente, desesperada por cuidado, vulnerável. Hoje o corpo é outro. Mais livre, com pelos, celulites e mais velho, mais vivido. Um corpo de mulher com cabeça de mulher. É triste ver que é tudo muito naturalizado. Esse fetiche, esse apego pelo corpo infantil, franzino. Um corpo que facilita a dominação, um corpo que nunca vai questionar a relação de poder estabelecida naquele impossível namoro.

Pior ainda é lembrar que desses homens todos com quem me relacionei ainda criança, a maioria me deixava quando estava no auge do meu sentimento. Quando percebiam que eu não iria deixar que me erotizassem tanto, que o que eu queria mesmo era afeto - que não tinha em casa. Aí iam-se com a desculpa mais verdadeira de todas: "temos perspectivas diferentes". 

E daí percebo que essas preferências se repetem. Os corpos adultos de aparência infantil são fetichizados. Os corpos corpos, corpos com marcas fortes do tempo, são deixados em segundo plano. Acho que é isso que queria dizer, enfim. De qualquer forma, sou diferente mesmo, sempre fui, mas hoje não preciso que nenhum homem 10 anos mais velho me diga isso :)

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