jessé

era aniversário da Maria. Maria, que também não é daqui, que também tava longe dos amigos e da família, que também vivia se questionando coisas, não sabia o que fazer em seu aniversário. e parece tão simples, né? só sair de casa. e, no fim das contas, foi o que fizemos. fomos num eventinho de rua, depois numa lanchonete, daí rolou uma batida policial chata pra cacete e todo mundo ficou meio estressado. depois a galera fumou maconha numa rua atras de onde os pms estavam. que ironia, né? aí, enfim, fomos pro largo da ordem e eu fiquei muito bêbada. de repente, jessé. jessé queria vender suas mandalas para pagar sua estadia no hotel e disse que a gente paga o que puder ou quiser. eu dei dois reais. e maria ganhou uma porque, como eu disse, era seu aniversário.

e aí jessé resolveu ficar. maria disse que o nome dele era bíblico e não consegui me lembrar de quem se chamava jessé na história bíblica, mas tive a impressão de que ela estava certa. ofereci cerveja e ele disse que não queria, porque tava com dor de garganta e tomando uns remédios. aí eu disse que também tinha uns remédios na bolsa e mostrei todos. dorflex, dramin, loratadina, neosaldina e ibuprofeno. soou meio estranho na hora, mas, ah vai, são remédios necessários pra viver!

não sei como foi exatamente, mas sei que maria tinha ido ao banheiro e quando ela voltou pra mesa eu chorava. chorava como eu gosto de chorar, intensamente e sem parar. chorava, porque a dor da saudade não se conteve dentro de mim. e o álcool me ajudou a colocá-la pra fora.

me senti bem, porque pra jessé o meu choro parecia a coisa mais natural do mundo. e, me lembrei, realmente é! ele não fez cara de pena ou de que me achava esquisita. só ouviu e me falou sobre a saudade que sentia também.

não peguei o facebook do jessé, ou whatsapp, se é que ele tem, se é que jessé existe mesmo. só sei que aquela atitude de compreensão e tolerância que jessé teve, tão naturalmente, vai ficar guardada no meu coração pra sempre.

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