Ontem choveu e me peguei lembrando do seu olhar. Não é nada, é só que a chuva me deixa assim, saudosa, nostálgica. Quando te vi pela primeira vez fiquei apavorada. Talvez eu queria que me visse assim, assustada, como se não soubesse o que estava fazendo. Mas sabia. Você também sabia. Tanto que não demorei a decifrar esse seu olhar. Minhas mãos trêmulas nada eram perto da profundidade que havia nos seus olhos. Deu um sorriso pra disfarçar.

É aquela sensação de vertigem. Como se não soubéssemos conceber completamente todas as razões que nos colocaram no alto daquele cume, daquela relação. Mas lá estávamos. Desejosos, pulsando pele e sentimento, tesão e pavor, amor enfim. Confesso que te amei por alguns dias. Acredito que foi a pessoa que amei por menos tempo, mas não sei medir intensidade. Nunca saberei. Só sei que amei.

Seu olhar me tocava. Sua mão me tocava. Sua fala ora rápida e desajustada, ora vagarosa e reticente, me tocava. Ainda toca, quando deixo a memória do ontem se fazer hoje. Quando me permito ver o tempo como um. Como ele é, de fato.

Ah, bem, cansei de medir amores pela duração que eles tiveram. Jamais os mediria por intensidade. Então, simplesmente não meço. Só me permito viver suas loucuras a medida em que me eles interpelam. E me acabo de saudade quando os vejo ir. Tardou, mas aprendi. Há uma força quase raivosa que provoca os encontros e os desencontros. Não cabe a mim, jamais caberá, impedi-la. Por isso, guardo a saudade em mim, bem fundo, para que quando chover eu tenha do que lembrar.

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