é difícil dizer do que sou quando nem mesmo eu sei do tanto que sou capaz

não são raras as vezes em que a vida me põe de frente às coisas que acho que sou. e me nomeio como nomeio tudo quanto guardo em potes reutilizados aqui em casa. aceito cada rótulo para ver se me faço existência, ou talvez só para reivindicar a minha liberdade de existir como sou. 

sou mulher (sou?), bissexual, bruxa. depressiva (sempre fui?). sou poeta (será?). poder nomear cada pedaço do que sou me parece uma boa ideia quando quero me fazer ouvida. é como escrever um manifesto todos os dias. mas o que me dá forma também me limita. 

também não foram raras as vezes em que precisei provar cada rótulo que me circunda. provar para os outros, mas também para mim. por vezes me pergunto: a quem dou o poder de dizer o que sou? e quando o nego: a quem dou o poder de dizer o que não sou? quem é que pode dizer os meus limites se não eu mesma, quem habito com muita dor e amor esse corpo que a terra me deu? 

faz um tempo que me entendi e me observei feito uma paisagem e no horizonte do que sou vi mais do que é que pensei que seria: sou, acima de tudo, uma libertadora. toda e qualquer prisão me adoece. eu questiono minhas próprias certezas e, assim, faço com que você questione as suas também. e é tudo bem questionar. e é tudo bem se perceber preso. e é tudo bem se permitir viver de outra forma. 

me lembro dos dias em que ria jocosa da frase que estampava as biografias digitais: "quem se define se limita". mas todo clichê tem seu por quê. é difícil dizer do que sou quando nem mesmo eu sei do tanto que sou capaz. testar meus limites é minha forma de me descobrir, mas é também quando percebo que, sim, posso ser tanto, posso ser muito...

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