eu tenho o costume de usar as palavras erradas

eu tenho o costume de usar as palavras erradas. não digo como um costume de fazer caminhadas ou tomar café preto todo dia logo cedo. digo costume, de costumeiro, de ser comum, frequente, sabe? - penso se é a palavra certa. - não são raras as vezes em que sinto que preciso me explicar. dizer que não foi exatamente aquilo o que eu quis dizer, mas que eu, de alguma forma, disse. logo eu, que sempre quis ser conhecida pelo dom com as palavras. 

já faz um tempo que a palavra não tem dado mais conta de mim. o que eu tenho a dizer muitas vezes extrapola os limites da linguagem que sei. aí vou dizer que é magia, oração, mas nem é pra tanto. quanto mais próxima estou do que eu quero dizer, menos sei as palavras certas para dizê-lo. tem vezes que não entendo simples construções frasais. sujeito, verbo, predicado. e faço perguntas estúpidas como uma criança que mal conhece o mundo, ainda. confesso certo prazer em dizer que não entendi.

há momentos, porém, em que uma metáfora dá mais conta da minha realidade do que um objetivo retruque ao seu cínico "ei, tudo bem?". me desculpo pelas palavras demais. me desculpo pelas palavras de menos. me culpo por falar e por não falar. e foi nesse caminho que comecei a perceber a limitação da palavra. 

palavra é como um invólucro, um patuá. palavra é amuleto. acho que eu já disso isso outrora. ou outro alguém disse. que diferença faz? palavra expande, enquanto limita. palavra engrandece, enquanto diminui. é a limitação da forma. e a limitação da forma é justamente meu tropeço. é onde eu vejo que nem sempre terá palavra pra tudo e me perco nas significâncias todas, tentando dizer que te amo, que não te quero mais, que te quero perto mas nem tanto, não percisa me tocar hoje, ah mas hoje eu vou te comer, não, sim, talvez, é, desculpa, perdão, bom dia, preciso de ajuda, não preciso mais. 

é tanta coisa pra dizer toda hora que cansa. quero é observar por cima da palavra, no ombro da palavra, sabe? acessar o que você quis dizer, em vez do que exatamente disse. chame de discurso, de alma, de intenção. tanto faz a palavra. quero ver onde é que elas se formam em você. "além do nome", disse adélia. quero ver o que está além das suas vírgulas todas, seu abismo me interessa mais do que as desculpas que você dá para que ninguém possa entrar...

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