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Cortes Lentos

Este blog reúne o trabalho literário da escritora capixaba-carioca Isabella Mariano.

você me pergunta como estou. penso em dizer que estou por um triz, um triz que me conecta ao centro da terra. fótons, prótons e eletróns agitados me equilibram e me reorganizam continuamente, enquanto a gravidade me puxa pr'aqui e pr'ali. penso em dizer que fiquei triste quando soube do uso de mão de obra escrava em países da áfrica para extração de cristais. penso sobre o desequilíbrio ambiental e o super aquecimento da terra. penso no inevitável fim. penso na entropia que, de repente, se mostra como um processo que, sob determinadas circunstâncias, pode ser revertido. será que o fim é tão inevitável assim, então? 

penso sobre como preciso me explicar o tempo inteiro. e sobre como me sinto cansada. viver é uma maratona e sinto que mal aprendi a andar. às vezes, parece que desaprendo até a respirar. puxo o ar com força, lembrando de que, para existir, é preciso suspirar uma boa dose de oxigênio. penso em te dizer que tenho medo de perceber que nunca fui amada e, por isso, sobre esse assunto, não penso tanto assim. 

de vez em quando, porém, imploro por atenção e me sinto aquela criança abandonada na escola, cuja mãe esqueceu de buscar, porque o álcool já lhe havia feito esquecer das horas. sempre e de novo, retorno a ela, na tentativa de que, algum dia, ela já não espere mais. na tentativa de que, algum dia, ela possa ir embora sozinha. 

aliás, eu estou indo embora sozinha. enquanto penso em tudo isso, percebo que não preciso mais esperar que alguém me dê a mão para atravessar a rua. eu posso atravessar sozinha. lembro do dia que soltei a mão da babá e quase fui atraopelada. meu ímpeto pela independência nem sempre foi consciente, muito menos responsável. agora, não. 

agora eu posso te dizer como estou. 

estou viva. é só o que posso lhe garantir. estou viva, porque sinto, porque morro de medo, porque ainda não aprendi dizer adeus ou mesmo perder. estou viva, porque busco mais, busco me conectar, busco dar significado, busco não parar de viver. porque, meu bem, se eu parar. ah, se eu parar... 

faz um tempo que tenho sentido dificuldades em me conectar com as pessoas. isso é recado pra se conectar consigo mesmo, então. né? e aí vou gastando as horas me observando no espelho. vejo minhas curvas, meus sonhos. meus medos, meus cabelos. vejo a imagem toda, corpo e mente, ali como um mapa. 

fecho os olhos e me despeço da necessidade de estar sempre certa. é uma despedida diária e doi nos meus órgãos dizer adeus. abraço o erro. abraço as prerrogativas que tenho em mim e todos aqueles abandonos que me fazem companhia. sozinha sigo, é verdade, mas nunca sem ninguém para amar. 

porque o amor é a minha fogueira nessa selvagem floresta que é ser exatamente quem eu sou. o amor é o que me sustenta. por isso, afasto rápido pensamentos sabotadores e observo o amor da professora que me fez companhia em todo o meu momento de falta. observo o amor que vem de dentro (da Terra) que me conservou amável, mesmo depois de me faltar o amor que mais desejava. e na mão dela seguro. e com ela, prossigo. 

eis a tua resposta, portanto: estou viva, finalmente. podemos fazer contato.

não são raras as vezes em que a vida me põe de frente às coisas que acho que sou. e me nomeio como nomeio tudo quanto guardo em potes reutilizados aqui em casa. aceito cada rótulo para ver se me faço existência, ou talvez só para reivindicar a minha liberdade de existir como sou. 

sou mulher (sou?), bissexual, bruxa. depressiva (sempre fui?). sou poeta (será?). poder nomear cada pedaço do que sou me parece uma boa ideia quando quero me fazer ouvida. é como escrever um manifesto todos os dias. mas o que me dá forma também me limita. 

também não foram raras as vezes em que precisei provar cada rótulo que me circunda. provar para os outros, mas também para mim. por vezes me pergunto: a quem dou o poder de dizer o que sou? e quando o nego: a quem dou o poder de dizer o que não sou? quem é que pode dizer os meus limites se não eu mesma, quem habito com muita dor e amor esse corpo que a terra me deu? 

faz um tempo que me entendi e me observei feito uma paisagem e no horizonte do que sou vi mais do que é que pensei que seria: sou, acima de tudo, uma libertadora. toda e qualquer prisão me adoece. eu questiono minhas próprias certezas e, assim, faço com que você questione as suas também. e é tudo bem questionar. e é tudo bem se perceber preso. e é tudo bem se permitir viver de outra forma. 

me lembro dos dias em que ria jocosa da frase que estampava as biografias digitais: "quem se define se limita". mas todo clichê tem seu por quê. é difícil dizer do que sou quando nem mesmo eu sei do tanto que sou capaz. testar meus limites é minha forma de me descobrir, mas é também quando percebo que, sim, posso ser tanto, posso ser muito...

quanto é que vale o afeto? é possível medi-lo? colocá-lo sob uma pequena balança e observar as gramas subindo progressivamente? caberia ele em métricas palpáveis, bases de dados, planilhas de excel, calculadoras, anexos de e-mail, planners, agenda, papeis de carta?

como então saber o que é que sobra se dividirmos o seu afeto pelo meu? por que é que há sempre um sofrimento de uma falta se não há como medir o que se entrega? fica difícil falar em reciprocidade quando as linguagens são inúmeras. amar me parece, então e afinal de contas, uma torre de babel sem fim.

dói mais não ser amada como gostaria ou se perceber incapaz de entender a linguagem do amor que se recebe? nem todas as réguas seriam capazes de medir o que é que se oferta num encontro. afeto não tem peso, eu sei, mas às vezes pesa.

atinei para os meus desejos quando dei de cara com meu próprio limite como quem se estrepa de cara na parede. me estrepei no meu desejo. meu limite é meu desejo, então, conclui. o que nem sempre é assim tão visível é o que é que se deseja. é fácil confundir desejo com medo. pelo menos pra mim que sempre tive no amor um pouco de medo também. um pouco de falta, um pouco de desespero, negligência, insegurança. 

sorte de quem sabe dizer do seu próprio desejo. saber desenhá-lo, esculpi-lo. ser artista de quem se é. talvez viver seja exatamente isso, esculpir a si mesmo. para que a maturidade dos dias venha cortando o excesso de tempo, de abandono, de medo. até que fiquemos puramente assim, puramente nós. nus com nossos desejos. e de repente rir de susto ao notar quem é que somos embaixo de todo esse caos disforme do tempo que finge nos proteger de tudo. 

se me perguntarem se doi esculpir meu próprio eu, direi que dói tanto quanto ignorá-lo. e que dor e felicidade podem coexistir. e que felicidade é poder ser quem se é. e que só é feliz quem entende dos próprios desejos, quem esculpe seu próprio eu. 

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Isabella Mariano
Isabella Mariano nasceu em 1992, no Rio de Janeiro, mas logo se mudou para Vitória. É jornalista, escritora, designer e mestre em Comunicação e Territorialidades. Em 2013, publicou o livro "gotas" e, em 2015, o "Cortes Lentos" - ambos de poemas.
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