Sofia

Trinta membros masculinos para um membro feminino. Proporção injusta. Eram trinta e um dias para conseguir quitar a sua dívida. Que mulher seria insensível demais para tanta baixaria? A não ser que não fosse mais mulher. Arriscaria sua vida para manter o mínimo de decência que lhe restava, já que esta honra que tanto julgam, nela não existia mais. Um dia de descanso. Seria hoje ou depois? Sabia que teria que ligar para eles. Bendito aparelho telefônico. Drogas e mais drogas. Afundava-se nas drogas. Aumentava sua dívida. "Malditos cristãos", dizia ela repetidas vezes, alegando que eles criaram o pecado. E que por isso ela não era mais ninguém. Não era mulher e diziam, não era humana. Displicente relacionamento entre ela e tudo o que se ligava a existir e não-existir. Queria ser nada, uma estrela, um ser inanimado (já que não é pecado não reagir e aceitar tudo a sua volta, inerte) . Era o que preferia. E foi ao encontro dessa idéia, já que não acreditava em nada depois da morte, olhou para baixo e despediu-se meticulosamente com um sorriso singelo, como de quem vence, deste mundo cruel. O mundo chora por não ter mais a quem culpar. Adeus Sofia.

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