La bella solitaria II

Minas Gerais ficou enorme nas mãos de quem nunca a tinha conhecido. Tinha encontrado uma espelunca barata ("espelunca" foi só para dramatizar). Resolveu andar, caminhar na praia, sentar em um bar... Qualquer coisa que a fizesse ser o que ela queria. Foi à livraria, queria ler. Revirou todos os livros, em todas as seções e não achou nenhum que realmente a tentasse.
Sentiu um mão simpática e pesada em seu ombro direito. Virou-se. Foi como se o tempo tivesse parado para ela, ela teria esquecido de tudo só de ficar olhando-o. Olhos como de uma pintura viva, com traços tão perfeitos que pensou ser, na verdade, uma escultura em granito. Sentiu-se em uma exposição com tantas belas obras em um só corpo que a tocou.
- Sim?
- Recomendo-te este aqui, é um presente de mim para ti.
O livro se chamava "Sentimento abafado", eram poemas de pensamentos velhos tão velhos que se renovavam.
- Abra na página 63.
"Áureola de anjo.
Luz.
A terra era paraíso.
Pecados eram santidade.
Tudo mudou, quando te vi"
Sem entender muito bem, afinal... O que uma prostituta deveria entender? Pensou ela. O passeio estava completo, decidida iria embora amanhã mesmo, depois de durmir as horas que quisesse. Entrou no quarto pequeno, tomou um banho tão demorado, usou as loções que o presidente lhe dera. Descansou em um banho.
Deitou-se na cama só com o roupão no corpo tomando um vinho que trouxe na mala. Sem televisão, era para isso o livro que comprou, na verdade ganhou. Leu alguns com títulos cada vez menos entendíveis.
Sem perceber abriu na primeira folha depois da capa, havia um número de telefone. Para que servia? Em quem chegaria? Pensou no obvio, era ele, o rapaz esculpido pelas mãos de Deus. Como quem não tem nada a temer, perder ou ceder, ligou.
Ele era um poeta mesmo. Ela entendia cada vez mais o acaso e o destino como coisas destintas. Falou sobre o que pensava, na verdade... Nunca tinha decidido ajeitar suas idéias e opniões e foi jogando tudo fora naquele telefonema, nem sabia de nada, mas fez. A noite parecia uma eternidade.

(Continua...)

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1 Comentário(s)

  1. =õ)

    Que bela surpresa, senhorita. Texto encantador. Prometo voltar outras vezes pra desfrutar do desenrolar desta história intrigante.

    Amei a descrição conflitante dos sentimentos da tal prostituta.

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